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Capítulo 2 – Da Reforma à Institucionalização de Pessoas Idosas

2.2. Institucionalização e Instituições: Problemáticas e Desafios

2.2.1. Universidades da Terceira Idade e Centros de Convívio

2.2.1.2. Os Centros de Convívio/Centros de Dia

públicas portuguesas, apelando ao papel, que se deseja participativo, da população sénior na sociedade atual, procurando promover o envelhecimento ativo, e a dinâmica intergeracional da partilha do saber.

Estes programas permitem à pessoa idosa manter grande parte da sua autonomia, independência e identidade, sem impor mudanças drásticas no seu ambiente de vivências e proporcionando novas oportunidades de lazer, de convívio e socialização, de aprendizagem e autoatualização.

2.2.1.2. Os Centros de Convívio/Centros de Dia

Na literatura existe uma tendência para focar a sua ação nas instituições de acolhimento e permanência de pessoas idosas, pelo que o enfoque da investigação em instituições dedicadas a pessoas idosas parece rondar pelos lares de idosos e outras instituições de longa permanência. Assim sendo, a literatura tem negligenciado o papel das instituições de convívio na promoção da qualidade de vida e bem-estar do idoso.

Os Centros de Convívio (também chamados Centros de Dia) foram construídos como locais onde o objetivo consistia em fomentar a socialização e a participação social da pessoa idosa, possibilitando a esta, novas oportunidades para a partilha de sentimentos (positivos e negativos) vivenciados neste período (Duarte, 2010).

Os primeiros centros de convívio surgiram na Europa, por volta dos anos 60, mas, em Portugal, só nos anos 70 surgiram as primeiras instituições direcionadas a pessoas idosas (centros de dia, centros de convívio, etc.) (Vaz, 1989). É de realçar que inicialmente somente procuravam o aumento da socialização da pessoa idosa, focando os objetivos na promoção de atividades sociais, desportivas e recreativas. Só mais tarde, é que os centros de convívio introduziram a vertente socioeducativa, tentando fornecer oportunidades de educação em saúde, através de palestras e seminários. O Centros de Convívio procura integrar a comunidade na promoção de saúde da pessoa idosa, através de campanhas educativas e fomentando oportunidades de participação, de modo a resgatar o sentimento de utilidade social e a autoestima da pessoa idosa (Duarte, 2010).

O Centros de Convívio é um local que fomenta a reinserção social em que todo o espaço é organizado para fornecer oportunidades para atingir esse desiderato.

Algumas diferenças entre o Centros de Convívio e um lar de longa permanência para idosos encontram-se exatamente no tempo de permanência, no sistema residencial

(permanente ou apenas umas horas do dia), no estado de saúde dos utentes/autonomia e na razão da procura. Em muitos casos, as pessoas recorrem a lares por falta de outra possibilidade, tratando-se mais de uma obrigação do que um desejo, enquanto no Centros de Convívio, a pessoa idosa procura a instituição de forma ativa e espontânea, livre de encargos ou obrigações perante a sua frequência e mantém as suas atividades de vida diária na sua residência, ou de familiares, com grande autonomia e independência.

No Centros de Convívio, a pessoa tem um papel dinâmico no processo de promoção de saúde. Através da socialização e do convívio, é possibilitado ao indivíduo um aumento da sua rede de relações sociais e uma maior integração na comunidade. O centro torna-se um local que permite ao indivíduo uma atualização de conhecimentos através da ampliação das suas oportunidades e da exposição a novas situações, que aumentam a sua sensação de bem-estar físico e emocional (Duarte, 2010).

Geralmente os centros de convívio incluem diversas áreas de ação direcionadas à promoção de saúde e bem-estar na pessoa idosa. Duarte (2010) aponta como áreas de intervenção de um Centros de Convívio: a educação física; a fisioterapia; a fonoaudiologia; a medicina; a nutrição; a odontologia; o serviço social; a terapia ocupacional. Cada área em si desempenha um papel essencial para o bem-estar da pessoa.

Ao integrar atividades de educação física, é tido como objetivo um desenvolvimento da aptidão física e da qualidade de vida dos adultos em idade avançada (Dias, Salvador & Cucato, 2010). A atividade física, além de promover oportunidades de convívio e socialização para a pessoa idosa, também melhora e preserva a capacidade funcional do indivíduo, melhorando a sua autonomia e o controle de doenças. Existe um consenso de que a prática de atividade física é uma das estratégias mais eficazes para reduzir os efeitos do envelhecimento (Ibidem, 2010). Com a atividade física espera-se promover a saúde e reduzir os fatores de risco que levem ao desenvolvimento de doenças crónicas (Squire, 2005).

O enfoque na área da fonoaudiologia tem como objetivo desenvolver a capacidade funcional da pessoa. A capacidade funcional tem um papel essencial no bem-estar e na autonomia do idoso. Esta relaciona-se com a capacidade da pessoa executar as atividades básicas e instrumentais da vida diária sem auxílio, e de forma independente (Cordeiro, 2005, in Soares, 2010). Ao valorizar-se a autonomia nos centros de convívio, procura se preservar a independência física e mental da pessoa idosa (Dias, Salvador & Cucato, 2010; Soares, 2010).

Outros importantes elementos de um Centros de Convívio consistem no suporte do serviço social e na terapia ocupacional. Neste âmbito, os técnicos envolvidos nos serviços5 (geralmente psicólogos, assistentes sociais, educadores sociais/animadores culturais) deverão trabalhar em conjunto em todo o processo de planificação, desenvolvimento de atividades e intervenção, de modo a promover o desenvolvimento de cada utente como membro do grupo, fomentando a sua consciência de cidadania e a participação social.

Por sua vez, a terapia ocupacional é um dos componentes mais importantes do centro, pois é através da terapia ocupacional que é possível manter a pessoa idosa ativa emocional e cognitivamente. As atividades de terapia ocupacional além de fomentarem a autoatualização da pessoa idosa, também apresentam um caráter preventivo do declínio cognitivo característico da idade avançada (Domingos & Lemos, 2010). A terapia ocupacional pode ser feita em grupo ou individualmente. Atividades de terapia ocupacional incluem desde atividades físicas, como a dança e a expressão corporal, atividades criativas, como a pintura e música, a tarefas de estimulação cognitiva que enfoque no raciocínio e, sobretudo, na memória. Quando em grupo, a terapia ocupacional permite estimular a integração no grupo de convivência, aumentando assim o sentimento de pertença (Tamai, Covas & Teixeira, 2010).

As atividades de estimulação cognitiva e as oficinas de memória permitem ao idoso resgatar e reabilitar as suas capacidades mentais, assim como prevenir o declínio, tendo assim um papel importante para a diminuição da ansiedade ao fornecer novas estratégias ou resgatando recursos outrora perdidos para enfrentar o quotidiano (Tamai, Covas & Teixeira, 2010). Através de atividades como a dança, a pintura, a formação, o treino da memória e das capacidades intelectuais, pode-se trabalhar e desenvolver não só a coordenação, mas também a atenção, a abstração, a concentração e a estimulação sensorial, fomentando o equilíbrio físico e mental necessário para o bem-estar da pessoa idosa.

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O papel destes profissionais deverá passar pela educação social informal, pela animação e conscientização, pelo aconselhamento, pela participação no planeamento e implementação de projetos sociais, pela contribuição na construção de redes de suporte social, pela mobilização de recursos, pela articulação com os restantes recursos da comunidade e da instituição (Tamai, Covas & Teixeira, 2010). O psicólogo comunitário deverá formar e preparar o Centros de Convívio e o seu pessoal de trabalho para a dimensão socioeducativa das atividades desenvolvidas e para o encaminhamento de projetos sociais de formação e integração, assim como oportunidades de convívio intergeracional (Duarte, 2010).

Nesta medida, os centros de convívio são espaços sociais que incentivam não só a socialização entre pessoas idosas, mas também fomentam ações de promoção e proteção de saúde e oportunidades para novas aprendizagens. Contribuem, assim, para a autonomia, para o envelhecimento saudável e ativo e para a prevenção do isolamento social.

2.3. As Relações com o Outro e a Estimulação Sociocognitiva

As relações positivas, as interações sociais e o suporte afetivo, nesta perspetiva, têm um papel essencial no desenvolvimento do bem-estar psicológico e subjetivo e no envelhecimento ativo. Na interação com o outro ocorre uma “troca permanente de afeto, carinho, ideias, sentimentos, conhecimentos e dúvidas” (Zimerman, 2000, p. 34). Através desta troca é possível estimular a cognição da pessoa. Segundo Zimerman, o convívio permite a “estimulação do pensar, do fazer, do dar, do trocar, do reformular e do aprender” (2000, p. 34).

As relações interpessoais acontecem durante todo o ciclo de vida. Estas relações “eu e outro” ocorrem de forma sistemática e interpessoal, entre um self e um objeto em diálogo e co construção (Medina, 2010). Assim é necessário haver uma ligação de afeto, que forneça significado representacional ao mundo psíquico dos indivíduos. No entender de Medina (2010) esta ligação irá depender da representação que a pessoa tem do outro e a representação que tem de si mesmo. As relações interpessoais disfuncionais com o outro irão gerar vulnerabilidades na estruturação e nas representações internas, debilitando assim o bem-estar. Ao invés, as relações problemáticas debilitam a construção do self, levando à vulnerabilidade; se ocorrer exclusão e distância, irá resultar num self inseguro e dependente dos outros, desenvolvendo um sentimento de vazio, sentimento de abandono e sem sentido sem a presença dos outros (Medina, 2010).

A pessoa idosa frequentemente lida com perdas nas relações significativas, tornando-se necessária uma reestruturação da pessoa (Zimerman, 2000). Contudo, ao formar vínculos com o grupo de convívio, a pessoa idosa cria novas amizades significativas que facilitam esta estruturação. O indivíduo, ao sentir-se integrado no grupo, vê-se como um membro ativo do mesmo, da família ou da comunidade, desenvolvendo um sentimento de pertença, segurança e liberdade (Zimerman, 2000).