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Capítulo 2 – Da Reforma à Institucionalização de Pessoas Idosas

2.2. Institucionalização e Instituições: Problemáticas e Desafios

2.2.1. Universidades da Terceira Idade e Centros de Convívio

2.2.1.1. Universidades da Terceira Idade

alternativa aos lares de longa permanência, sobretudo em espaço de atividades de estimulação multidimensional durante o dia.

O cérebro, como todos os restantes sistemas do corpo humano, não está livre da atrofia e do declínio inerente do tempo, porém é um órgão extremamente versátil, detentor de plasticidade. A plasticidade do cérebro permite que este seja capaz de recuperar do mau funcionamento dos neurónios, sendo, portanto, possível recuperar e resgatar capacidades (Ribeiro & Paúl, 2011). Assim sendo, verifica-se que nem todos os aspetos cognitivos são afetados de igual modo pelo envelhecimento, razão pela qual a pessoa idosa é capaz de manter habilidades suficientes para uma vida autónoma até idades mais avançadas (Tamai, Covas & Teixeira, 2010), no entanto, sem qualquer tipo de estimulação, o declínio irá ocorrer mais rapidamente, visto que as conexões não utilizadas serão perdidas (Ribeiro & Paúl, 2011). Consequentemente é fundamental estimular o cérebro através de atividades sociocognitivas na adultez em idade avançada. Nas palavras de Zimerman (2000, p. 34), estimular é “criar uma postura de busca constante, de realizar atividades, de sentir-se alguém, para, com isso, ser parte integrante e ativa do seu grupo. É incentivar a busca da satisfação nas realizações do dia-a-dia, a fim de ampliar o mundo interno e externo, tornando-se satisfeito, ajustado, valorizado e integrado, para que não seja um peso para si, para a sua família e para a sociedade”.

Contudo, existem crenças erróneas na sociedade comum de que a pessoa idosa não é capaz de aprender, visível no senso comum e nas crenças populares através de provérbios como “burro velho não toma ensino”.

2.2.1.1. Universidades da Terceira Idade

As Universidades da Terceira Idade e os programas de aprendizagem ao longo da vida vêm demonstrar que a pessoa tem capacidade de aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver (em comunidade) e aprender a ser (cf. Almeida, 2012). Dotam a pessoa idosa de competências e aprendizagens para lidar com a evolução tecnológica, a globalização e a diversificação cultural que a sociedade moderna apresenta, permitindo que a pessoa atualize os seus conceitos, expandindo o seu repertório e capacidades para uma maior autonomia (Almeida, 2012).

A primeira Universidade da Terceira Idade surgiu em França, em 1973, desenvolvida pelo professor Pierre Vellas (cf. Almeida, 2012). Os seus objetivos incluíram: informar e investigar problemas relacionados com saúde, serviços sociais e saúde; fornecer formação cultural para a autorrealização pessoal e satisfação da vida; sensibilizar as pessoas para as dificuldades da idade avançada, de modo a fomentar o papel da pessoa idosa como socialmente útil; e formar profissionais na área do envelhecimento e educação no envelhecimento.

As UTIs e os programas de aprendizagem para idosos permitiram a muitas pessoas um novo propósito na vida, ao permitir a continuidade da aprendizagem (Medeiros, 2013a). Têm permitido a recuperação da autoestima da pessoa idosa, da sua autoconfiança, propósito de vida e a interação social e formação de redes de suporte social (cf. Almeida, 2012), além de permitir a autoatualização de conceitos, crenças e a formação de novas aprendizagens.

Uma das razões que leva as pessoas idosas a procurarem os centros de convívio, centros ocupacionais ou os programas universitários é o tempo livre que a reforma possibilita o reforço da rede social, e novas fontes de socialização.

O Programa de Aprendizagem ao Longo da Vida da Universidade dos Açores, destinado a estudantes seniores (dos quais alguns já octogenários e nonagenários) foi criado em 2003, no campus de Ponta Delgada, pela Professora Doutora Teresa Medeiros. É um programa sistemático e contínuo, seguindo o postulado pela OMS e da União Europeia para o envelhecimento ativo.

O Programa de Aprendizagem ao Longo da Vida, na sua essência tem como objetivos: a) promover o conhecimento e a aprendizagem ao longo da vida; otimizar o desenvolvimento da pessoa adulta (e adulta em idade avançada), nas dimensões cognitiva, afetiva, social e espiritual; contribuir para o bem-estar psicológico e social bem como a qualidade de vida da pessoa idosa; fomentar a criação de vínculos intergeracionais; estimular a investigação em gerontologia; desenvolver boas práticas de envelhecimento ativo na comunidade com base em redes multidimensionais e multi- institucionais; promover a extensão cultural da universidade através de um programa científico para a população idosa fundamentado na investigação nas neurociências e na psicogerontologia (Medeiros 2013a).

O Programa de Aprendizagem ao Longo da Vida da Universidade dos Açores (Ponta Delgada) é um exemplo ao nível regional e nacional de um programa de aprendizagem e desenvolvimento multidimensional e estimulação do envelhecimento

ativo, para os adultos e idosos. Este programa surgiu como pioneiro nas universidades públicas portuguesas, apelando ao papel, que se deseja participativo, da população sénior na sociedade atual, procurando promover o envelhecimento ativo, e a dinâmica intergeracional da partilha do saber.

Estes programas permitem à pessoa idosa manter grande parte da sua autonomia, independência e identidade, sem impor mudanças drásticas no seu ambiente de vivências e proporcionando novas oportunidades de lazer, de convívio e socialização, de aprendizagem e autoatualização.

2.2.1.2. Os Centros de Convívio/Centros de Dia

Na literatura existe uma tendência para focar a sua ação nas instituições de acolhimento e permanência de pessoas idosas, pelo que o enfoque da investigação em instituições dedicadas a pessoas idosas parece rondar pelos lares de idosos e outras instituições de longa permanência. Assim sendo, a literatura tem negligenciado o papel das instituições de convívio na promoção da qualidade de vida e bem-estar do idoso.

Os Centros de Convívio (também chamados Centros de Dia) foram construídos como locais onde o objetivo consistia em fomentar a socialização e a participação social da pessoa idosa, possibilitando a esta, novas oportunidades para a partilha de sentimentos (positivos e negativos) vivenciados neste período (Duarte, 2010).

Os primeiros centros de convívio surgiram na Europa, por volta dos anos 60, mas, em Portugal, só nos anos 70 surgiram as primeiras instituições direcionadas a pessoas idosas (centros de dia, centros de convívio, etc.) (Vaz, 1989). É de realçar que inicialmente somente procuravam o aumento da socialização da pessoa idosa, focando os objetivos na promoção de atividades sociais, desportivas e recreativas. Só mais tarde, é que os centros de convívio introduziram a vertente socioeducativa, tentando fornecer oportunidades de educação em saúde, através de palestras e seminários. O Centros de Convívio procura integrar a comunidade na promoção de saúde da pessoa idosa, através de campanhas educativas e fomentando oportunidades de participação, de modo a resgatar o sentimento de utilidade social e a autoestima da pessoa idosa (Duarte, 2010).

O Centros de Convívio é um local que fomenta a reinserção social em que todo o espaço é organizado para fornecer oportunidades para atingir esse desiderato.

Algumas diferenças entre o Centros de Convívio e um lar de longa permanência para idosos encontram-se exatamente no tempo de permanência, no sistema residencial