• Nenhum resultado encontrado

Investigações sobre Bem-Estar Psicológico em Pessoas Idosas

Capítulo 3 – Bem-Estar Psicológico e a Satisfação com a Vida

3.3. O Bem-Estar Psicológico no Envelhecimento

3.3.1. Investigações sobre Bem-Estar Psicológico em Pessoas Idosas

São poucas e recentes as investigações sobre bem-estar psicológico em adultos em idade avançada em Portugal, no entanto, vamo-nos concentrar sobre as que decorreram na Região autónoma dos Açores, por ser também a Região do país onde vamos operacionalizar o nosso estudo.

Nos Açores, destacam-se vários estudos sobre o bem-estar na população idosa nos últimos anos (Medeiros, 2013b; Pereira & Medeiros, 2014; Melo, 2014). Estes estudos tiveram o objetivo de medir os níveis de bem-estar psicológico da população idosa em diferentes contextos, tendo sido encontradas no geral relações entre o bem- estar psicológico e várias variáveis, tais como a qualidade de vida, satisfação com a vida, a idade, o estado civil, a espiritualidade, a satisfação com a situação económica, a satisfação com a vida social, a satisfação com a saúde, o nível de atividade, atividades dos tempos livres (Pereira, 2012; Medeiros, 2013b; Pereira & Medeiros, 2014; Melo, 2014).

Medeiros e Ferreira (2011) procuraram avaliar o bem-estar psicológico e a qualidade de vida de pessoas idosas não institucionalizadas nas ilhas de Santa Maria, São Miguel, Terceira e Flores. Nesta investigação participaram 320 pessoas com idade compreendidas ente os 60 e 96 anos e verificaram não existir diferenças significativas nos níveis de bem-estar psicológico quando comparados os resultados ao nível das variáveis: sexo, idade e estado civil. Contudo, os autores obtiveram resultados mais positivos em pessoas casadas, com atividade religiosa ativa, com frequência em programa sénior ou universidade sénior. Encontraram, igualmente, uma relação entre a satisfação dos indivíduos com o seu bem-estar (Medeiros & Ferreira, 2011).

Pereira (2012) desenvolveu um estudo com 36 pessoas com idades compreendidas entre os 66 e 95 anos das ilhas de Flores e Corvo – grupo Ocidental – e com grande concentração de pessoas idosas. A autora teve como objetivo medir os níveis de bem-estar psicológico na população idosa que frequentava os lares de longa permanência. Esta chegou à conclusão que existiam relações entre o bem-estar psicológico e as variáveis sociodemográficas (estado civil e idade), contextuais (tempo de permanência na instituição), a satisfação (com a vida, com a saúde e com a vida social), além de existir relação com características da personalidade (extroversão, autoestima e otimismo) (Pereira, 2012; Pereira & Medeiros, 2014).

Pereira (2012) foi capaz de comprovar também o papel da vivência religiosa, da satisfação com a vida, com o número de atividades de tempos livres, e com os resultados obtidos na subescala de sentido da vida (Pereira, 2012; Pereira & Medeiros, 2014).

Melo (2014) analisou o bem-estar de 70 pessoas com idades compreendidas entre 65 e os 93 anos de idades, residentes na ilha de S. Miguel (a ilha com maior concentração populacional), dos quais 35 participantes frequentavam lares de longa permanência e outros 35 participantes viviam nas suas residências. A autora observou que apesar do bem-estar psicológico não variar em relação ao sexo ou estado civil – ao contrário de Pereira –, identificou uma relação entre o bem-estar psicológico e a idade, a qualidade de vida e a frequência numa instituição.

A autora observou que as pessoas idosas mais jovens (65-74 anos) apresentavam menor bem-estar psicológico, assim como o grupo de idosos que não residia em lares de longa permanência para idosos. Verificou também a existência de diferenças de médias entre o crescimento pessoal e a satisfação com a saúde, a vida social e a satisfação com a vida, tendo verificado valores de bem-estar psicológico mais favoráveis para níveis de satisfação mais altos. A dimensão das relações positivas com os outros, apresentou uma relação estatisticamente significativa quer com a satisfação com a vida social, quer com o domínio do ambiente e o estado civil, a satisfação com a saúde e a satisfação com a vida, sendo que nas duas dimensões, a autora identificou casos mais favoráveis para os níveis mais altos de satisfação e para os indivíduos casados (Melo, 2014).

Os resultados obtidos nestes estudos vêm reforçar o princípio de procurar integrar as pessoas idosas numa rede de apoios e suportes socioafetivos, com vista à promoção do bem-estar psicológico, para uma maior saúde mental e um melhor envelhecimento da população.

Debruçando-nos apenas numa região particular de um país é lícito questionar será o bem-estar psicológico visto e operacionalizado do mesmo modo em todos os contextos culturais? Na verdade, é de notar que várias investigações transculturais têm demonstrado diferenças nos resultados. Vejamos, a título exemplificativo, o que se passa no mundo ocidental. Cheng e Chan (2005) adaptaram as escalas de bem-estar psicológico de Ryff para 1441 adultos de Hong Kong, com idades compreendidas entre 18 a 86 anos. Os autores verificaram o padrão já anteriormente visto, de que através da cultura os constructos e suas medidas podem não ser iguais (Cheng & Chan, 2005).

Os autores referiram como possível explicação o facto das subescalas na população chinesa não serem unidimensionais (Cheng & Chan, 2005), ou seja, a diferença encontra-se nos próprios itens de medida da escala, que sofrem efeito do impacto da cultura na definição e mensuração de constructos. É de salientar que na amostra, os autores obtiveram piores resultados ao nível da capacidade de lidar com novas decisões e com desacordos com os outros, e melhores resultados ao nível da avaliação do self e dos outros, assim como a confiança nas suas próprias opiniões (Cheng & Chan, 2005). Ao nível da autonomia, Cheng e Chan (2005) observaram melhores valores na população masculina, resultado possível do papel social do homem na cultura chinesa. Estes autores acreditam que na população masculina chinesa, os homens são encorajados a ter confiança nas suas opiniões e decisões. Ainda observaram consistência interna inferior na autoaceitação, na autonomia e no crescimento pessoal, mais um sinal do impacto da cultura na mensuração de conceitos (Cheng & Chan, 2005).

Tendo em conta os seus resultados, Cheng e Chan (2005), chegaram à conclusão que as seis dimensões presentes na escala de bem-estar psicológico são somente uma constatação de traços positivos, tornando os seus itens mais de foro teórico do que empírico.

****

Em síntese, promover o bem-estar psicológico é essencial para um envelhecimento ativo, devendo ser uma meta comunitária e pessoal. O bem-estar psicológico é um bom preditor do envelhecimento ativo, assim como, um preditor de saúde mental na idade avançada.

O Modelo de Ryff procura operacionalizar o conceito multidimensional de bem- -estar psicológico, de modo a melhor compreender as suas dimensões (autonomia, domínio do ambiente, aceitação pessoal, relações positivas com os outros, propósito de vida e crescimento pessoal), assim como compreender os fatores que o condicionam. Estes fatores relacionam-se tanto ao nível individual como social, caracterizando-se por variáveis do funcionamento da pessoa e do meio envolvente.

Vários estudos identificados neste capítulo dão conta de variáveis relacionadas com o bem-estar psicológico na adultez em idade avançada, tais como variáveis sociodemográficas (o sexo, a idade e o estado civil), aspetos da personalidade

(autoestima, extroversão e otimismo), aspetos relacionais (a qualidade do convívio e as vinculações), bem como a capacidade funcional e a independência, a autoeficácia, as crenças, o sentimento de “missão cumprida”, a espiritualidade, a autoatualização e o desejo de aprender. Dos diferentes estudos que existem, particularizámos sobretudo os realizados nos Açores. Pontuámos, ainda, um estudo realizado na sociedade oriental para mostrar que os resultados não são independentes do contexto cultural e da construção social, bem como o sentido de pertença a uma comunidade.

Torna-se importante estudar todos os aspetos passíveis de influenciar a forma como a pessoa idosa vê o seu envelhecimento e até a idade que sente ter – a idade subjetiva –, para melhor compreender o bem-estar psicológico na idade avançada e promover estratégias consonantes com as características das pessoas e dos grupos, quer seja na otimização de uma postura individual de envelhecimento ativo, quer nas famílias e nas instituições de longa permanência, que acolhem pessoas adultas em idade avançada.

Parte II