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Cessão de Créditos

No documento Arrendamento do estabelecimento empresarial (páginas 99-102)

5 DO ARRENDAMENTO DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL

5.3 Efeitos Obrigacionais do Arrendamento do Estabelecimento

5.3.3 Cessão de Créditos

O artigo 1.149 do Código Civil prevê uma modalidade especial de cessão de crédito em caso de transmissão do estabelecimento empresarial, muito semelhante à disciplina do Codice Civile italiano (art. 2559244). Assim dispõe o artigo 1.149 do Código Civil brasileiro:

“Art. 1.149. A cessão dos créditos referentes ao estabelecimento transferido produzirá efeito em relação aos respectivos devedores, desde o momento da publicação da transferência, mas o devedor ficará exonerado se de boa-fé pagar ao cedente.”

243 RUSSOMANO, Mozart Victor. CLT Anotada. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 10.

244 Art. 2559. La cessione dei crediti relativi all'azienda ceduta, anche in mancanza di notifica al

debitore o di sua accettazione (1265 e seguente), ha effetto, nei confronti dei terzi, dal momento dell'iscrizione del trasferimento nel registro delle imprese. Tuttavia il debitore ceduto è liberato se paga in buona fede all'alienante (att. 100-5).

Le stesse disposizioni si applicano anche nel caso di usufrutto dell'azienda, se esso si estende ai crediti relativi alla medesima.

Uma das principais divergências doutrinárias, tanto nacional como estrangeira, acerca da cessão de créditos referentes ao estabelecimento, é a sua ocorrência automática ou não em caso de circulação do estabelecimento.

Modesto Carvalhosa, a respeito da automaticidade, ou não, da cessão de crédito em caso de circulação do estabelecimento empresarial, afirmou que:

“Esses créditos referentes ao estabelecimento não são transferidos automaticamente ao seu novo titular, de modo a configurar uma hipótese de cessão legal ou necessária, antes prevista no art. 1.068 do Código Civil de 1916.”245

Em sentido inverso é a posição de Osmar Barreto Filho246. Tal autor, tecendo considerações sobre o art. 2559 do Codice Civile italiano, dispôs que a doutrina peninsular era propensa a considerar que a transmissão dos créditos ao adquirente da azienda ocorreria automaticamente com a realização do negócio jurídico.

Assim como na doutrina brasileira, a doutrina italiana também é dividida em relação à automaticidade da cessão dos créditos em caso de circulação do estabelecimento empresarial. A interpretação mais atual e mais preponderante é a transmissão automática dos créditos.

Marcelo Andrade Feres, afirma que de acordo com Niccolo Salanitro, existiriam dois argumentos para sustentar a automaticidade dos créditos na transmissão do estabelecimento:

O primeiro deles vê na transmissão automática dos créditos uma contraprestação necessária, em virtude de a lei atribuir responsabilidade ao adquirente pelos débitos pretéritos. O segundo funda-se na disposição textual da codificação peninsular que equipara os efeitos da notificação do devedor à publicidade do trespasse no Registro do Comércio; consoante esse entendimento, a equiparação tem o efeito de gerar a transmissão ipso

iure.

Ora, o primeiro argumento de que seria uma contraprestação em virtude da assunção dos débitos, soa, no mínimo, justo. Se, por força do art. 1.146 do Código Civil, os débitos referentes ao estabelecimento empresarial são transferidos ao cessionário, desde que regularmente contabilizados, os créditos também deverão acompanhar o negócio em contrapartida.247

No mesmo sentido, assim afirma Marcelo Andrade Feres:

245 CARVALHOSA, Modesto. Comentários ao Código Civil

– Do Direito de Empresa. São Paulo:

Saraiva, 2005. v. 12, p. 661

246 BARRETO FILHO, Oscar. Op cit., p. 226. 247 IACOMINI, Marcello Pietro. Op. cit., p. 120.

A transmissão legal dos créditos referentes ao estabelecimento para o respectivo adquirente, também concorre para a tutela dos direitos dos credores. Tendo em vista que o art. 1.146, após o prazo de um ano (contado a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento), exclui a responsabilidade do alienante, a cessão os créditos ao adquirente, no mínimo, preserva a possibilidade de solução dos débitos regularmente escriturados.248

Assim, a transmissão dos créditos deverá seguir as mesmas regras da os débitos, ou seja, transfere-se automaticamente desde que regularmente contabilizados.

Importante observar que o Código Civil, ao final do artigo 1.149, tutela o devedor de boa-fé, o qual, sem ter conhecimento da transferência do estabelecimento, efetua o pagamento ao cedente.

Ressalte-se que, nos termos do artigo 1.144 do Código Civil249, o contrato que visa à circulação do estabelecimento empresarial deve ser averbado às margens da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e publicação na imprensa oficial para ter validade perante terceiros.

Dessa forma, caso o credor efetue o pagamento, antes de tal averbação e publicação para o cedente, o pagamento liberará a obrigação.

Definida a cessão dos créditos em caso de transmissão do estabelecimento empresarial passa-se à análise de tal cessão em caso de arrendamento da azienda.

Aplicando-se o mesmo argumento já exposto acima, não parece justa a transmissão dos débitos e não dos créditos. Dessa forma, assim como os débitos são transferidos ao arrendatário em caso de arrendamento do estabelecimento, tal fato replica-se aos créditos, ou seja, em caso de arrendamento do estabelecimento empresarial, transmite-se ao arrendatário, os créditos e débitos da azienda.

Contudo, foi sugerido, quando da análise da transferência dos débitos, a possibilidade de desconto da contraprestação mensal a ser pago pelo arrendatário ao arrendador do montante equivalente aos débitos transferidos em virtude do arrendamento.

248 FÉRES, Marcelo Andrade. Op. cit., p. 138.

249 Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do

estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial.

Ora, por uma questão de equilíbrio contratual e equidade entre as partes, os créditos devem, também, fazer parte de tal conta, devendo ser realizado uma espécie de compensação de todas essas operações.

Reitere-se que tal situação não decorre da lei, devendo ser expressamente convencionada pelas partes quando da celebração do contrato de arrendamento.

Outra opção, que também deve ser objeto de regulamento contratual é a assunção, pelo arrendatário, de todos os débitos e créditos que venham a ser transferidos, mantendo a contraprestação do arrendador fixa. Nesse caso, o arrendatário assumiria integralmente os riscos, assim como assume, integralmente, os riscos pelo exercício da atividade empresária.

No documento Arrendamento do estabelecimento empresarial (páginas 99-102)