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Science. v. 277, n. 5325, p. 509 – 515, 25 jul.1997, p. 512.

269 SCHRANK, William E. Introducing fisheries subsidies. Roma:

FAO, 2003, p. 6-10.

O último argumento refere-se ao uso de modalidades de subsídios que possam reverter em alguma proteção ambiental (algo como pagamento por utilização de técnicas menos lesivas). Nesse ponto, há um verdadeiro dilema científico – enquanto alguns defendem essa espécie de subsídio, outros consideram esta modalidade completamente desnecessária, caso fosse formulado um plano de gestão efetivo.

Subsídios podem ser utilizados para encorajar empresas e indústrias a um

comportamento em maneira

ambientalmente amistosa. Programas para recompra de embarcações pesqueiras e pescados entram nessa categoria. Como podemos notar, enquanto alguns economistas são favoráveis a tal tipo de programas, outros acreditam que efetiva gestão pesqueira e soluções baseadas em mercado poderiam ser mais efetivos que programas de subsídios271.

Esses programas de subsídios para redução de capturas podem ser encontrados no Tratado para Agricultura da Organização Mundial de Comércio (OMC), ocupando cerca de 40% do total de pagamentos diretos de projetos financiados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD). O grande problema com esses programas de recompras e de financiamento público para a redução da capacidade é o que Gareth Porter chamou de risco moral272. Os empresários e investidores do setor pesqueiro, arrimados na existência de incentivos financeiros estatais e utilizando de racionalidade econômica, podem desviar os investimentos para a pesca, no intuito de usufruírem dos benefícios estatais destinados à

271 Tradução livre de “Subsidies can be used to encourage firms and

industries to behave in environmentally friendly ways. Fishing vessel and licence buyback programmes fall into this category. As we shall see, while some economists favour such subsidy programmes, others believe that effective fishery management and market based solutions would be more effective than subsidy programmes”. SCHRANK, William E. Introducing fisheries subsidies, p. 09.

recompra de embarcações e de produtos. Isso acarreta aos Estados não somente maiores gastos imediatos, mas também em longo prazo. Por isso, muitos autores são favoráveis a modelos de gestão independentes de subsídios, considerando-os, em geral, como prejudiciais ao controle de capturas.

O fato é que, uma vez implementados, é difícil a eliminação desses auxílios governamentais, seja por razões econômicas ou técnicas, as quais, ao final, são decisões políticas. Canadá e Estados Unidos possuem inúmeros exemplos em que subsídios ao benefício do setor pesqueiro, seja para a construção de embarcações, seja para financiar a aquisição de insumos, os quais são de quase impossível eliminação273. Nesse esforço de redução dos subsídios à pesca, identificando-os com o aumento do esforço pesqueiro e, consequentemente, com a sobrepesca, a OMC tem negociado medidas paulatinas desde 2001, quando da Declaração de Doha274. Até então, os resultados são bastante pontuais, dada a efetiva dificuldade dos países excluírem os subsídios pesqueiros de seus programas de Estado275.

Uma dedução válida é a dependência dos subsídios em relação aos objetivos a serem promovidos pelo Estado sob determinados contextos econômicos. Os subsídios são as medidas técnicas econômicas destinadas à consolidação dos planos governamentais, que oscilaram entre defesa nacional e soberania territorial marítima. Se aceita essa premissa, a consequência necessária é que cada contexto exige formas distintas de investimentos públicos. Por isso, os subsídios, compreendidos como transferências financeiras de entidades públicas para o setor privado, podem ser concretizados por vias diretas ou indiretas276.

273 WEBER, M. L. From abundance to scarcity: a history of U.S.

marine fisheries policy. Washington: Island Press, 2002. p. 34.

274 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO. Doha

Ministerial Declaration. Disponível em:

<http://www.wto.org/english/thewto_e/minist_e/min01_e/mindecl_e. htm>. Acesso em: 20 de janeiro de 2015.

275 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A

ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA. Fisheries subsidies. p. 136.

276 A definição sintética elaborada por Sumaila é bastante útil para

uma ideia geral sobre os subsídios: “Subsídios pesqueiros são definidos aqui como transferências financeiras, diretas ou indiretas,

Mas ambas modalidades geram efeitos de dependência empresarial e incremento de esforço no setor pesqueiro.

Para uma possível sistematização contextualizada dos subsídios pesqueiros, a fim de identificar seus objetivos e a possibilidade de alterações, William Schrank ofereceu uma classificação teleológica bastante simples e assumida como eficiente. Gareth Porter é mais detalhista na categorização dos subsídios à pesca, apresentando inclusive a classificação utilizada por organizações internacionais, como a OCDE277. Entretanto, a perspectiva de tratamento dos subsídios aqui evocada alberga somente o sentido teleológico dos subsídios; por isso, o sistema classificatório de Schrank é mais adotado na literatura.

Segundo Schrank, os subsídios pesqueiros podem ser classificados em cinco modalidades, de acordo com a forma de repasse e o propósito do investimento estatal. A primeira modalidade corresponde aos pagamentos diretos do Estado para a indústria, compreendendo as verbas aplicadas para a construção de novas embarcações, para o pagamento de seguro-desemprego aos pescadores (bem como compensação por períodos de proibição de pesca - defeso) e os programas de sustentação de preços278.

A segunda modalidade de subsídios agrupa as isenções e as deduções fiscais. Nesse grupo encontram-se as isenções de impostos sobre a aquisição de equipamentos, de combustíveis e mesmo sobre a comercialização dos produtos pesqueiros. Essa modalidade é bastante diferente dos empréstimos e garantias oferecidas pelos governos às empresas e aos pescadores, técnica também bastante comum de estímulo à pesca. A diferença reside no fato de que aos subsídios e isenções, muitas vezes, não