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Ciência enquanto processo em desenvolvimento

CAPÍTULO 1: A divulgação científica e sua função social

1.1 Ciência enquanto processo em desenvolvimento

Para de fato auxiliar estudantes a não se tornarem “caudatários de correntes de opinião”, como diz Oliveira, e sim formuladores de suas próprias posições sobre temas

14 VOGT, C.; POLINO, C. (Orgs.) Percepção Pública da Ciência: resultados da pesquisa na Argentina, Brasil, Espanha e Uruguai. Campinas: FAPESP, Ed.Unicamp, 2003.

científicos e sobre a ciência em si, uma das características da promoção de letramento científico inclui apresentar a ciência como um campo em constante mutação, formado por processos variados e não como um “produto acabado” ou um conjunto de verdades definitivas. Isto é, “evidenciar a transformação de visões sobre a ciência e seu papel na sociedade (...) a fim de resgatar a dimensão histórica do processo de construção do papel que a ciência desempenha” (FONSECA & OLIVEIRA, 2015, p.447).

Ao estudar este caráter processual da ciência, Paulo Knauss (2005) defende a importância de se apresentar o conhecimento científico como algo que não é absoluto e a ciência como atividade que a todo instante redefine a natureza de seus objetos. “O que se evidencia com o caráter histórico do conhecimento científico e a constatação da sua diversidade é que a ciência não se define como dado, mas como construção intelectual” (KNAUSS, 2005, p.286).

Segundo Knauss, a ciência procura elaborar sistemas explicativos abrangentes para um conjunto grande de fenômenos variados, e estes princípios explicativos, orientados pela

organização e classificação do conhecimento, constituem o objetivo da ciência, mas ela não progride por simples acumulação e suas assertivas passam por constante avaliação.

O autor critica o fato de que frequentemente se demarca uma oposição ou hierarquia entre o conhecimento científico e o conhecimento comum, e aponta que o “compromisso exagerado com a perspectiva científica pode apenas resultar na reprodução autoritária e evasiva de conteúdos” (KNAUSS, 2005, p.280).

Decorre disso tudo a importância de retomar as principais características envolvidas no processo histórico de construção do que se convencionou chamar de conhecimento científico, bem como as formas de diferentes autores e correntes teóricas diferenciarem o

que é e o que não é ciência.

O conhecimento humano pode se apresentar em diferentes características específicas, como o conhecimento popular, o mitológico, o filosófico, o artístico e também o científico. Ainda que possam ser analisadas separadamente, é preciso ter clareza de que, na prática, essas formas não existem isoladamente, sofrem influências mútuas constantemente. Quando se refere à ciência, tradicionalmente o senso comum entende que o objetivo do conhecimento é compreender as relações lógicas da natureza e da sociedade, suas regularidades, seus padrões de comportamento e de transformação, buscando estabelecer conceitos, leis ou princípios, que representem e descrevam essas relações por meio de uma linguagem própria de áreas de estudos e pesquisas. Ao reunir teorias que tenham poder explicativo (indicação das causas de fenômenos) e preditivo (indicação de possíveis consequências de um fenômeno ou ação), a

ciência busca também resolver um conjunto de problemas que surgem para o ser humano no processo de produção de sua vida.

Ao longo da história da humanidade, foram muitas as maneiras com que se buscou responder a esse mesmo objetivo, e as fronteiras que delimitam o que pode ser

considerado um conhecimento científico ou quais as características do método científico nunca foram estanques nem inatas ou universais, ou seja, dadas pela realidade em si em

qualquer circunstância, e sim definidas de acordo com escolhas das sociedades e de seu tempo. Assim, a constante transformação das formas de organização social e produtiva, e dos problemas que surgiam para a manutenção da vida em cada uma delas, quase sempre resultaram também em transformações sobre a concepção de quais são os conhecimentos válidos e o que pode ser definido como científico.

Apenas a título de exemplo, o chamado pensamento primitivo (conceito inclusive questionado por pensadores como Levy-Strauss) não é considerado científico, mas há cerca de 10 mil anos já contribuía para o desenvolvimento da racionalidade humana e para a tentativa de compreender a realidade. A organização de lendas, totens e mitos, com indivíduos especializados em se comunicar com os espíritos que eram considerados responsáveis por dar vida a homens, animais, plantas, astros e fenômenos naturais, seja por invocações, feitiços, rituais ou poções, reuniu conhecimentos complexos sobre o mundo natural, as várias substâncias e seus efeitos para o homem (ervas medicinais, analgésicas, alucinógenas, abortivas, venenosas, estimulantes etc.), baseados em experiências do tipo tentativa-erro- acerto.

Como consequência de inúmeras mudanças nas formas de viver ao longo dos séculos, ocorre também uma transição do predomínio do conhecimento contemplativo para o realista prático-utilitário, surgindo novas categorias lógicas e metodológicas, como o empirismo (que toma a experiência como fundamentação do conhecimento). Com contribuições de inúmeros pensadores, consolida-se o método da observação de fenômenos, de cálculos precisos na quantificação das relações entre eles, de delimitação de hipóteses explicativas e formulação de leis universais. O nascimento da chamada ciência moderna, entre os séculos XVI e XVII, é marcado pelo trabalho de vários cientistas, que à época ainda eram considerados filósofos porque a função de pesquisador como a conhecemos hoje ainda não era definida.

Entre 1662 e 1666 consolidam-se as primeiras sociedades científicas (Royal Society na Inglaterra, e Académie Royale, em Paris), que se concentravam no estudo dos problemas técnicos de sua época: hidráulica, artilharia e navegação. Ao indutivismo experimentalista de Francis Bacon - que preconizava que todo conhecimento provém da experiência sensível -, e o

racionalismo mecanicista de René Descartes – que representa a ciência como isenta de dúvida e a realidade como algo que pode ser inteiramente apreendido pela razão -, entre outros, seguiram-se as obras de Galileu e Newton, considerados grandes marcos do conhecimento baseado em um método científico.

Galileu, por exemplo, defendia o método empírico, por isso buscou melhorar as condições para a observação dos fenômenos científicos (daí seu empenho em construir instrumentos para este fim, como as lunetas com sistemas de medição). Com ele, leis fundamentais sobre a natureza passam a ter caráter mais quantitativo e matemático, além de poderem se contrapor a alguns dos grandes dogmas religiosos.

Newton revolucionou a mecânica clássica, ao mudar a forma de estudar o movimento e suas causas, obteve uma expressão matemática para a força da gravidade, e sua teoria se tornou o principal paradigma da Física por aproximadamente três séculos, até o surgimento da teoria da relatividade de Einstein16 no século XX.

Durante a Primeira Revolução Industrial, ou seja, até fins do século XVIII, descobertas científicas ainda não tinham tanto efeito direto e imediato sobre a evolução da tecnologia, embora isso não signifique que eram áreas sem contato entre si, inclusive porque o progresso técnico também acelera o progresso científico (ou seja, as técnicas criaram problemas que as ciências se viram desafiadas a resolver, como no uso da máquina a vapor, do carvão e do ferro). Já na Segunda Revolução Industrial, durante o século XIX, surgem as técnicas de base científica (SZMRECSÁNYI, 2001). Como consequência, de acordo com Szmrecsányi, a expansão de pesquisas e a profissionalização da atividade científica geram mais reconhecimento social aos cientistas e afetam profundamente as práticas de escrita científicas, com esforços maiores para a popularização da ciência por meio de periódicos especializados, manuais, ciclos de conferências e de debates públicos. As universidades crescem, e passam a oferecer formações cada vez mais especializadas, garantindo formação em massa de futuros profissionais dedicados a atividades de pesquisa e docência. Esse percurso garante o reconhecimento público das ciências e técnicas, principalmente por conta

16 Com a revolução gerada pelas teorias de Einstein, outras mudanças ainda seriam sentidas na concepção do

conhecimento científico, e também na própria filosofia. Até então, não era imaginável que o tempo tivesse durações diferentes dependendo do referencial, mas, de modo simplificado, Einstein partiu de uma contradição entre a mecânica de Newton e o fato de que a luz não mudava de velocidade quando em movimento, e resolveu essa contradição ao desenvolver uma nova compreensão das dimensões, subvertendo a noção de tempo como linear e absoluto. Paulo Knauss (2005) cita Ortega y Gasset para discutir o sentido histórico da teoria de Einstein e afirma que ela, ao reconhecer que não há um único centro de percepção do mundo, “coloca-se como justificação da multiplicidade dos pontos de vista, o que significa uma nova maneira de sentir a história e a vida” (KNAUSS, 2005, p.284). O autor lembra ainda que essa visão não deve ser confundida com o subjetivismo, já que a perspectiva não é uma deformação do sujeito sobre a realidade, mas a própria forma pela qual a realidade se apresenta aos sujeitos.

dos resultados concretos que eram visíveis na vida cotidiana das pessoas, como a iluminação a gás, o telégrafo, as primeiras máquinas elétricas e a indústria siderúrgica, entre muitos outros.

As bases construídas por esses cientistas e a formulação desse tipo de conhecimento sobre o mundo demonstraram altos níveis preditivo e explicativo e levaram a um grande

sucesso de realizações obtidas a partir da ciência. Para Silvio Chibeni (1998), é possível

atribuir a este sucesso prático alcançado pela Física, Química e Biologia uma atitude de certa veneração do senso comum à ciência, notadamente nesses campos das chamadas ciências exatas (por este motivo é que este capítulo tem como foco o desenvolvimento da ciência nessas áreas, e não nas ciências humanas, o que não significa ausência de reconhecimento quanto à cientificidade de outras áreas do conhecimento, como a Sociologia e a Psicologia, apenas uma questão de recorte para a análise sobre o que constitui a compreensão geral a respeito do método científico).

O papel dessa atividade cresceu tanto que o historiador Eric Hobsbawm (1995) declarou: "O fato de que o século XX dependeu da ciência dificilmente precisa de prova" (HOBSBAWM, 1995, p.506) e, segundo ele, as atividades científicas

Foram se tornando cada vez mais incompreensíveis para os não-cientistas, embora os leigos tentassem desesperadamente entendê-las, com a ajuda de uma vasta literatura de popularização, às vezes escrita pessoalmente pelos melhores cientistas. Na verdade, à medida que aumentava a especialização, mesmo os cientistas precisavam de cada vez mais publicações para explicar uns aos outros o que se passava fora de seus respectivos campos. (HOBSBAWM, 1995, p.506).

No entanto, o próprio autor reconhece que, graças à "espantosa explosão de teoria e prática da informação, novos avanços científicos foram se traduzindo, em espaços de tempo cada vez menores, numa tecnologia que não exigia qualquer compreensão dos usuários finais" (HOBSBAWM, 1995, p.509). De modo que, segundo ele, mesmo a ciência tendo se tornado indispensável e onipresente, "diante da maioria dos produtos diários da ciência e tecnologia somos leigos ignorantes sem compreender nada" (HOBSBAWM, 1995, p.510). Segundo o historiador, o crescimento dessa sensação foi tanto que levou a um extremo ao longo do século XX, quando "o progresso das ciências naturais se deu contra um fulgor, ao fundo, de desconfiança e medo" (HOBSBAWM, 1995, p.511), citando o sentimento comum de que a ciência era incompreensível, que suas consequências eram imprevisíveis, que ela poderia ser inerentemente perigosa.

De todo modo, apesar das sensações de incompreensão e até de medo, e das diversas reviravoltas que diversos campos da ciência sofreram ao longo do século, difundiu-se entre as pessoas em geral uma crença de que, por trás desses conhecimentos científicos, existe um

privilegiada em relação aos demais tipos de conhecimento. No entanto, essa visão da

ciência como "infalível" e "universal" resulta, segundo Chibeni, de equívocos sobre os fundamentos do método científico, e sobre as atribuições da ciência.

Em busca de reexaminar esta demarcação sobre o que constitui o método científico,

surgiu a Filosofia da Ciência no século XX. Por meio dela, diversos teóricos desenvolveram

reflexões sobre como a ciência se desenvolve e buscaram se contrapor a algumas percepções da visão comum da ciência. Em linhas gerais, segundo Chibeni, a visão comum pressupõe que a ciência sempre começa por observações (ou seja, é a partir da experiência que tem início qualquer conhecimento científico), que as observações são realizadas de forma neutra (a única coisa que o cientista tem em mente é a observação pura, livre de outras ideias que ele possa ter adquirido por educadores ou outros cientistas), e que as leis científicas são extraídas por um processo objetivo chamado indução (a partir de situações específicas, é possível induzir uma lei geral).

De acordo com Chibeni, esta concepção comum de ciência foi elaborada com apoio de uma linha filosófica conhecida por positivismo lógico, que se organizou especialmente no chamado Círculo de Viena, na década de 1920, que reunia debatedores em seminários regulares e colóquios internacionais. Os defensores do positivismo lógico valorizam o empirismo radicalizado (só reconhecem o conhecimento que possa ser apreendido pelos sentidos) e defendem a ideia de uma ciência unificada (todas as áreas do conhecimento científico possuiriam um mesmo lastro e a mesma metodologia, em que toda teoria científica deve ser um sistema de enunciados experimentalmente verdadeiros).

Esta visão da ciência segue referenciando o trabalho de alguns cientistas, mas já passou por inúmeras objeções. Segundo Chibeni, a principal é com relação à segurança do processo indutivo porque, pela lógica, nenhum conjunto de observações da realidade será suficiente para justificar a validade universal de qualquer lei obtida por indução. Por exemplo: mesmo que todos os papeis observados peguem fogo, em termos lógicos sempre é possível existir algum papel que não pegue fogo, portanto essa experiência não seria suficiente para induzir a lei segundo a qual todos os papeis são combustíveis.

Positivistas chegaram a argumentar que, em determinadas condições, a indução é segura, como quando se realiza grande número de observações, garantindo ampla variação das situações em que o fenômeno é observado e a ausência de contra-evidências. No entanto, Chibeni aponta que estas condições não foram seguidas em todos os momentos da história da ciência: muitos experimentos fundamentais foram realizados apenas poucas vezes e muitas teorias científicas se desenvolvem em meio a inúmeras “anomalias” ou contra-exemplos (o

autor cita a mecânica de Newton, que já era um sucesso mesmo quando ainda estava em desacordo com a trajetória da Lua e não foi abandonada nem quando não pôde dar conta da órbita de Urano).

Outra grande objeção a esta visão comum de ciência é a de que a investigação científica não começa com observações “puras”, já que o cientista tem sempre uma ideia, ainda que provisória e reformulável, do que deve ou não deve ser observado e controlado ou variado, e para decidir quais variações serão utilizadas nas condições de observação do fenômeno é preciso fazer escolhas (já que, a princípio, é possível variar fatores em número indefinido), e essas escolhas são sempre guiadas por pressuposições teóricas ou mesmo subjetivas. Assim, o que se faz quando se observa determinado fenômeno “varia significativamente de indivíduo para indivíduo, conforme sua bagagem intelectual. Em certo sentido, a apreensão da realidade se faz parcialmente mediante ‘recortes’ próprios de cada observador, determinados por sua experiência prévia, as teorias que aceita, os objetivos que tem em vista” (CHIBENI, 1998, p.4-5). Reconhecer essas condições não deve conduzir a um subjetivismo completo, pois parte da atividade científica é, sim, formada por uma busca a descrições tão objetivas quanto possível do mundo. No entanto, esse ideal é procurado por meio de um controle crítico dos fatores subjetivos que não podem ser ignorados, ou seja, o cientista precisa fazer um esforço deliberado para utilizar “a grade intelectual particular segundo a qual ele vê o mundo”.

O autor destaca ainda que a história da ciência também reúne casos notáveis em que a descoberta de leis científicas não teve início com uma observação empírica, e sim com uma tese prévia a ela. Louis de Broglie, por exemplo, concebeu o comportamento ondulatório das partículas sem nenhuma evidência empírica, apenas por teorizar uma simetria com outros conhecimentos sobre o comportamento da luz.

As primeiras objeções formais à visão de ciência propagada pelo positivismo

lógico surgiram na obra do filósofo austríaco Karl Popper, que defendeu uma ciência de

empirismo não-indutivista, conhecido por falseacionismo. A proposta é que as teorias, para serem científicas, têm um caráter completamente conjetural, sendo criações da mente destinadas a ajustar-se tão bem quanto possível ao conjunto de fenômenos. Uma vez proposta, a teoria deve ser rigorosamente testada e, se falhar, deve ser substituída por outra. Para Popper, a cientificidade de uma teoria reside em sua refutabilidade (somente as teorias passíveis de serem falseadas fornecem informação científica sobre o mundo) e o papel fundamental das experimentações é mostrar que algumas dessas propostas são falsas, estimulando a produzir outras melhores.

Um dos resultados dessa visão de ciência formulada por Popper, de acordo com Chibeni, é a necessidade de uma formulação de teorias de forma clara e precisa, já que não se pode falsear aquilo que não está claramente definido. Apesar das vantagens em relação à visão positivista da ciência, o autor aponta que o falseasionismo também apresenta algumas limitações, como a pouca importância dada às confirmações da ciência (ou ‘evidências corroborativas’) e o fato de que algumas refutações podem mesmo ser irrelevantes para a ciência (falsear conjeturas ousadas é muito diferente de falsear conjeturas prudentes, por exemplo). Estas limitações ocasionaram a busca por alternativas, o que abriu espaço para a formulação de novas teorias da ciência, como as “revoluções de paradigmas” de Thomas Kuhn, o “dadaísmo metodológico” de Paul Feyerabend e os programas científicos de Imre Lakatos.

Nos anos 60, o físico Thomas Kuhn surpreendeu os filósofos da ciência com a publicação “A Estrutura das Revoluções Científicas” em que mostra que a ciência não é feita apenas por seus “produtos” ou resultados, mas também por seu contexto. O critério de demarcação que ele propôs mostrou que um determinado conhecimento se torna científico a partir do momento em que adquire status de paradigma. Kuhn afirma que a ciência se desenvolve a partir de revoluções científicas em intervalos geralmente grandes de tempo, renovando-se permanentemente por rupturas de paradigmas depois de um período de crise dentro da própria ciência, que pode surgir a partir de controvérsias ao redor de metodologias e conceitos. No período de transição, a ansiedade pelo novo paradigma tende a ser mais forte do que a tentativa de revigorar o velho. Nos intervalos em que predomina um paradigma, no entanto, a ciência segue certo tipo de dogmatismo e se desenvolverá de acordo com um conjunto de valores e métodos que irão servir de modelo para uma ou várias comunidades cientificas.

Para Kuhn, na maior parte do tempo a ciência vive da estabilidade de crenças em um determinado paradigma, que é a base para a ciência normal de um período, mas quando surgem evidências que não cabem no paradigma ele pode ser substituído. Desta forma, o conhecimento não é cumulativo, ainda que quase sempre se preserve muita coisa do paradigma anterior. A partir dessas ideias de Kuhn, surgem muitas percepções sobre o fato de que a ciência se desenvolve por meio de diferentes modelos que, em cada momento,

estabelecem princípios, métodos e procedimentos, distinguem quais são as perguntas legítimas e os critérios para validar respostas.

Com uma concepção alternativa sobre o conhecimento científico, Paul Feyerabend (1975) chegou a ser acusado de “inimigo da ciência” porque, para ele, a ciência não tem

propriamente um método e grandes momentos da ciência não foram totalmente racionais, já que a história mostra que diversos cientistas se valeram de brechas no método científico para desenvolver novas teorias e a ciência sempre demonstrou ser um processo que envolve diferentes estratégias, ornamentos e instituições. Ele defende uma metodologia pluralista, que possibilita aproximar teorias científicas com outras teorias como mitos antigos. Sua posição é de que não é possível promover uma descrição geral da ciência, pois a prescrição de apenas

um método definitivo para a ciência limita as ações dos cientistas e o progresso científico. Feyerabend possui, portanto, uma postura “de abrir canais, dentro da Filosofia da