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Cibele Forjaz é uma artista livre. Porém trabalha constantemente com uma liberdade advinda de seu desejo de trabalhar em grupo. O teatro de grupo é uma constante em sua vida. Sua primeira formação teatral tem uma breve passagem pelo CPT de Antunes Filho, Porém Logo ingressa no curso de direção teatral pela ECA na Universidade de São Paulo.

No período em que cursava Direção teatral na ECA/USP, Forjaz foi convidada por alguns professores para realizar uma montagem e logo começou a integrar um grupo formado por colegas de sala e de departamento: a Barca de Dionísio, grupo do qual ela era uma das fundadoras, juntamente com William Pereira, Antônio Araujo, Lúcia Romano, entre outros, culminado na montagem do espetáculo ‘Leonce e Lena’ de Georg Büchner, em 1987. Em 1989 dirigiu sua primeira versão de Woyzeck no grupo Barca de Dionísio.

Durante sua carreira Forjaz já integrou três importantes grupos teatrais, no cenário paulistano, são eles: “A Barca de Dionísios” nos anos de 1985 a 1991; O grupo Oficina Uzyna Uzona nos anos de 1992 a 2001; e a Cia Livre desde 1999 até os dias atuais. Para além destes grupos, a artista também é parceira e colaboradora de diversos outros grupos teatrais na cidade de São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires. Além de ter realizado diversos projetos paralelos com importantes artistas e grupos da cena teatral como: a Cia mundana, a Cia São Jorge de variedades, as atrizes Isabel Teixeira, Georgete Fadel, Denise fraga, etc.

Nos seus trabalhos de direção com a Barca de Dionísio podemos destacar: “O Homem da Flor na Boca”, de Pirandello em 1988; “Fala Comigo Doce como a Chuva”, de Tennessee Williams em 1988; “Noite”, de Harold Pinter em 1988; porém, foi em 1989 que Cibele

ganhou o prêmio de diretora revelação, com a adaptação do romance homônimo de Clarice Lispector “A Paixão Segundo GH”, com Marilena Ansaldi.

No entanto, logo no começo dos nos anos noventa, Cibele foi convidada a participar do Teatro Oficina Uzina Uzona, sob a tutela do diretor Zé Celso Martinez Corrêa. Ali, Forjaz foi se embebedar nesta inesgotável fonte de criação. Criando a luz, sendo assistente de direção ou trabalhando na produção ou participando ativamente de todos os espetáculos da companhia.

Forjaz esteve fortemente envolvida com o diretor e criador do Teatro Oficina, que obviamente, além de ser um renomado diretor teatral da cena contemporânea, tem uma importante passagem na história do teatro nacional nos anos de 1950/60/ 70. Cibele nos conta aqui em entrevista um pouco de como se deu este encontro

O que aconteceu, foi que eu fui fazer um teatro que não era de grupo, pela primeira vez e eu já estava formada, já tinha dirigido a Paixão segundo GH, de Clarice Lispector, com Marilena Ansaldi, era uma jovem promissora diretora. Então me chamaram para dirigir um espetáculo como diretora contratada e fiz, a gente ensaiava no Teatro Sérgio Cardoso, ensaiávamos numa sala e na outra sala estavam o Zé Celso, Marcelo Drummond e Raul Cortez, ensaiando “as Boas”. Estreamos no Centro Cultural São Paulo, uma semana antes da estreia de As boas, e foi a primeira vez que não me reconheci em cena. Já tinha dirigido umas seis, sete, oito peças, algumas na escola, outras fora, na Barca tinha dirigido o Lamento de Ariadne que foi um processo de construção colaborativo. Quando eu fiz esse espetáculo que não era de grupo e havia sido contratada para fazer, isso deu uma crise muito grande. Era um texto super bonito, era um elenco de bons atores, cada um vindo de um lugar, eu olhei aquilo e não me reconheci ali. Eu achei que não estava pronta pra dirigir, que eu não sabia dirigir ator direito. Nessa época a barca começou a dar uma balançada, porque cada um foi para um lado. Eu entrei em crise total, minha mãe tinha ido morar no EUA, eu fui passar uns dias com ela, fui pra Nova York, passei um mês, vendo vídeos de tudo que eu tinha estudado e nunca tinha visto, vi várias coisas, e quando eu cheguei tinha um recado pra mim do Zé, me convidando para fazer a Luz do Hamlet. Na verdade eu resolvi ficar no Oficina, quando eu vi ele dirigindo atores. (Entrevista concedida na cidade de São Paulo, no dia 22 de setembro de 2014).

E é nesse período dos anos noventa que Zé Celso reestabelece o Teatro Oficina Uzyna Uzona, o que vem até hoje ser uma das companhias teatrais mais importantes de nossos dias. Cibele participou ativamente da reestruturação do teatro e do grupo, participando da montagem “Ham-let” com o Teatro Oficina ainda em obras. Ali neste ambiente que nossa artista, completa sua formação como uma diretora que desejava trabalhar criativamente, sobretudo, dentro da estrutura formal de um teatro de grupo.

Concomitante, a sua atuação como diretora Forjaz desenvolveu um forte trabalho como iluminadora ou para utilizar outro termo: ‘light designer’, criando a iluminação para muitos espetáculos de diversos grupos paulistanos, principalmente na década de 90. Inclusive

sua pesquisa acadêmica tanto de mestrado, quanto de doutorado são relativas à história da iluminação cênica.

Seu trabalho mais expressivo como ‘light designer’ foi quando trabalhou na Cia. Uzina Uzona no Teatro Oficina do diretor Zé Celso Martinez Corrêa. Criando ou desenhando a luz para quase todos os espetáculos da companhia nesta época, como ‘Ham-let’, ‘Mistérios Gozozos’, ‘Bacantes’, ‘Ella’, ‘Os sertões’, ‘Cacilda’ entre outros. Forjaz também criou a luz para muitos espetáculos de diversos grupos paulistanos.

Questionando Forjaz, sobre a sua saída do Oficina ela nos conta que:

Eu já estava há algum tempo para sair e o Zé não me deixava. Eu sou diretora e lá eu não consegui dirigir, lá é o lugar do Zé. E toda vez que eu falava em sair ele me convidava para dirigir lá. Mas eu via que era impossível, havia muito trabalho lá, e o trabalho próximo era produção. Não havia necessariamente um espaço para minha direção, eu demorei pra sair, uns dois, três anos, porque era necessário estar lá. Sempre brinquei que se eu pudesse ser duas, uma de mim tinha ficado lá. (Entrevista concedida na cidade de São Paulo, no dia 22 de setembro de 2014).

Foi ainda durante o tempo em que estava no Teatro Oficina que começou a surgir a Cia. Livre, companhia na qual Cibele dirige até hoje seus espetáculos. Foi a partir de um ciclo de leituras de peças de Nelson Rodrigues no SESC Pinheiros que saíram os dois primeiros espetáculos da companhia.