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A arte teatral é por excelência uma arte coletiva. De modo que pensamos sempre o teatro como uma obra realizada a partir de um agrupamento de pessoas que se unem em função da criação de um trabalho em comum. Um coletivo que envolva pessoas com interesses artísticos em comum e a partir deste desejo realize diversos espetáculos. Partindo deste ideal, diversos artistas se unem neste sonho de poder realizar um trabalho que seja coerente e coeso.

Falar sobre Cibele Forjaz é falar sobre teatro de grupo. Para que possamos entender a natureza da sua obra teatral é interessante começar refletindo sobre o teatro de grupo. André Carrera (2008) que já desenvolve uma pesquisa acerca do assunto nos afirma que:

A história dos grupos de teatro no Brasil mostra como a unidade de trabalho do grupo permanente (a sua modalidade amadora), foi fundamental para o início da estruturação de um sistema moderno do teatro brasileiro. Ao buscar um teatro que funcionaria com independência em relação tanto aos mecanismos do mercado como ao regime do gosto estabelecido, os amadores puderam, inicialmente, estabelecer vínculos com novos modelos de cena (CARRERA, 2008, p. 1)

Carrera nos coloca aqui que os grupos de teatro amador são em grande parte responsáveis pela formação do teatro de grupo no Brasil. No entanto, como estamos falando de uma artista paulistana, então cabe aqui recordar um pouco sobre a história do teatro de grupo na cidade de São Paulo.

No início do século XX, com a chegada dos imigrantes italianos, se estabeleceu uma boa base para o que futuramente, seria o mercado mais promissor para o teatro de grupo. Estes imigrantes tinham a necessidade da convivência em grupo. Quase mesmo uma questão de sobrevivência em um país estrangeiro. E foi nesse meio, que surgiram os grupos amadores denominados de “filodramáticos”.

Foram muitos os grupos italianos filodramáticos em São Paulo e se diferenciavam entre si em função da ideologia que os motivava. Movimentos operários, grupos de artesãos, homens e mulheres simples para quem a expressão artística serviria como aprimoramento, diversão e forma de comunicação (VENEZIANO, 2006, p.48.).

Aqui Neyde Veneziano nos conta um pouco destes grupos filodramáticos e logo fomentaria inclusive, segundo a autora e pesquisadora no assunto, o “Teatro de Revista” na cidade. Porém, estes grupos que se formaram no contexto paulistano, sob a tutela dos imigrantes italianos, logo dariam origem àquele que seria um dos mais importantes teatros na cidade de São Paulo: o Teatro Brasileiro de Comédia.

Então temos nos anos 40 o surgimento do TBC, teatro que instaurou a formação de um teatro profissional. O TBC trabalhava com um grupo de artistas fixos. Logo, um ponto importante deste foi a profissionalização de seus artistas. Criando e produzindo espetáculos em um ritmo frenético, o TBC é o empreendimento que transformou o rumo da cena teatral nacional. Em dezesseis anos foram levadas no palco da Rua Major Diogo, na região central de São Paulo, cento e quarenta e quatro obras, vistas por quase dois milhões de pessoas.

Ainda não perdendo o foco de nossa artista, nos interessa encaminhar o nosso olhar para dois grupos em específico, que nos ampliam o entendimento acerca do teatro de grupo em São Paulo e que certamente reverbera para todo o país.

São dois grupos que fortemente influenciam o trabalho de Cibele Forjaz: o Teatro de Arena formado por Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal, José Renato Pécora e outros; e o Teatro Oficina formado por José Celso Martinez Corrêa, Renato Borghi, Amir Haddad e outros.

O Arena e o Oficina são dois grupos de extrema relevância no cenário teatral nacional. A importância de ambos reflete em todo o país, sobretudo pela sua força política. São dois grupos paulistanos que produziram intensamente nas décadas de 50, 60 e 70.

O Arena apresentava uma visão mais nacionalista, montando sempre espetáculos de autores nacionais, enquanto o Oficina estava influenciado por ideias existencialistas. Com a ditadura militar estes grupos acabaram sendo desmantelados, pois muitos de seus artistas foram exilados. No entanto é com o esfacelamento destes grupos que chegamos ao nosso tema.

Em uma entrevista a nós concedida, diretora Cibele Forjaz afirma:

Pra mim, no teatro, sempre foi muito importante a ponte entre a geração que veio antes. Uma geração passa para a outra, ao vivo, ou por contraponto, ou por continuidade, geralmente uma geração aprende com a outra. No caso da nossa geração, o fato de ter acontecido a ditadura militar e o exílio de vários grupos, o Arena se desestrutura inteiro, o Boal vai para o exílio, idem o Oficina. Quando eles voltam em 1979 demora muito tempo pra eles se reorganizarem, voltarem a trabalhar. A economia do Brasil dos anos 80 estava muito ruim. Então, eu sentia muita falta da relação direta com a geração que vem antes, assim como o Zé teve tanto com o TBC, quanto com o Kusnet, com madame Morrinot, que são as grandes

referências dele e eu sempre tive isso com o Arena e o Oficina de serem mitos pra mim. (Entrevista concedida na cidade de São Paulo, no dia 22 de setembro de 2014)12.

Aqui Forjaz se declara de uma geração que se formou nos anos 80, quando boa parte dos artistas que ela admirava, estava retornando do exílio pós-ditadura, e estava se reorganizando. Forjaz se considera órfã destes exemplos, durante seu período de formação, tendo que formar assim, seus próprios modelos. Porém, nossa artista teve a possibilidade de trabalhar nos anos 90, durante um longo período, com o diretor Zé Celso na Cia Teatro Oficina Uzyna Uzona.