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Cibernética e o homem

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CAPÍTULO III – O CAMINHO DA MENSAGEM

2. Cibernética e o homem

A cibernética, como já brevemente abordada no início do trabalho, tem uma aproximação muito grande quando o tema é tecnologia e comunicação. No entanto, a Cibernética não pode ser entendida como uma teoria dita da comunicação, tampouco pouco ser abarcada como teoria que explica a relação da comunicação com a tecnologia. Wierner foi o pesquisador que mais se apropriou do termo cibernética, sendo bem explícito na introdução do seu livro Cibernética e Sociedade – o uso humano de seres humanos. Wierner ressalta que:

Ao dar a definição de Cibernética no livro original, coloquei na mesma classe comunicação e controle. Porque eu fiz isso? Quando me comunico com outra pessoa, transmito-lhe uma mensagem, e quando ela, por sua vez, se comunica comigo, replica uma mensagem conexa, que contém uma informação que lhe é originalmente acessível e não a mim. Quando comando ações de outra pessoa, comunico-lhe uma mensagem, e embora tal mensagem esteja no modo

imperativo, a técnica da comunicação não difere da de uma mensagem de fato (WIERNER, 1954, p.16).

Wierner não delimita o escopo da cibernética na mensagem em si, como a citação acima dá a entender. Na verdade, Wierner expande a cibernética e a coloca em um outro nível em que a mensagem é responsável por expandir seu escopo, pois ele entende que a mensagem é fundamental para o processo de controle sistemático, já que esta passa a ser o gatilho da interação de qualquer natureza, seja ela entre humanos, seja entre humanos e máquinas. Sem a mensagem, o controle cibernético não pode ser estabelecido. Ou seja, para ele a comunicação é o que viabiliza através da mensagem o controle e autorregulação. Wierner é bem direto ao afirmar que:

A tese deste livro é a de que a sociedade só pode ser compreendida através de um estudo das mensagens e das facilidades de comunicação de que disponha; e de que, no futuro desenvolvimento dessas mensagens e facilidades de comunicação, as mensagens entre homem e as máquinas, entre as máquinas e o homem, e entre a máquina e a máquina, estão destinadas a desempenhar papel cada vez mais importante (WIERNER, 1954, p.16).

Fica claro, portanto, que a cibernética não está voltada a nada além do que o próprio homem, observando a prática interativa que se dá nos protocolos trocados via mensagens. Wierner delimita seu escopo em uma amplitude maior que somente o processo de troca de mensagens, porque para ele, do ponto de vista matemático, a instrução contida na mensagem pode ser a diferença dos controles que se estabelecem na relação do homem com o próprio homem, ou com o homem e a máquina:

Além da teoria da transmissão de mensagens da engenharia elétrica, há um campo mais vasto que inclui não apenas o estudo da linguagem mas também o estudo das mensagens como meios de dirigir a maquinaria e a sociedade, o desenvolvimento de máquinas computadores e outros autômatos que tais, certas reflexões acerca da psicologia e do sistema nervoso, e uma nova teoria conjectural do método cientifico. [...] Até recentemente, não havia palavra especifica para designar este complexo de idéias, e, para abarcar todo o campo com um único termo, vi-me forçado a criar uma. Daí, cibernética, que derivei da palavra grega kubernetes, ou “piloto”, a mesma palavra grega que eventualmente derivamos da nossa palavra “governador” (WIERNER, 1954, p.16).

Esse pensamento é endossado por Álvaro Pinto que soma ao pensamento de Wierner ao afirmar que a Cibernética não é sobre comunicação, tampouco tecnologia, e sim, sobre o homem e seu ecossistema social:

Com efeito, em última instância, a cibernética tanto na teoria quanto na pratica, incorpora e fornece um conjunto de informações que, uma vez constituído em ciência, não retorna à máquina, mas ao homem. Na verdade, a cibernética não faz progredir a máquina mas sim progredir o homem, que avança no desenvolvimento de sua essência racional, ao se mostrar capaz, graças a esse saber, de conhecer melhor os processos naturais e sociais, valendo-se das indicações, das informações que recolhe do mundo objetivo, inclusive do próprio organismo enquanto estrutura viva, onde se desencadeia ações e reações em função de suas finalidades e das condições do ambiente ( VIEIRA PINTO, 2005, p.25).

Possivelmente, os desvios que foram adereçados à Cibernética podem estar associados primeiro a uma crescente industrialização massiva da sociedade e seus processos industriais para a produção de bens, ou pela influência bélica e os avanços animadores na ocasião, de máquinas cada vez mais velozes e processadores mais eficientes, e por que não citar o sonho da maioria dos cibernéticos, sobre o cérebro eletrônico ou o sonho da união do homem com a máquina para eternizar o homem.

Wiener denuncia essa realidade apontando que “dessa forma, o problema do controle de tiro antiaéreo fez com que uma geração de engenheiros se familiarizassem com uma comunicação endereçada à máquina e não ao ser humano” (WIERNER, 1954, p.146).

Assim como os esforços de guerra redirecionaram toda uma gama de cientistas para os objetivos da vitória a ser alcançada, muitas questões além dos esforços de guerra - e graças aos encontros de Macy - a Cibernética, que era a disciplina e o pensamento que discutia dentre outras coisas o homem e a máquina, teve seu escopo ampliado, tendo seus princípios sobre o controle do timoneiro usados, até mesmo, na Administração moderna.

Além disso, o que podemos constatar é que, a maioria das obras dedicadas aos estudos das Teorias da Comunicação sequer aborda a cibernética como uma corrente teórica que explica a comunicação. Na verdade, é mais comum ver a Teoria da Informação de Shannon e Weaver do que aspectos da Cibernética de Wiener. Mas podemos constatar cibernéticos como Álvaro Pinto se dedicarem às questões da comunicação social e ao homem por um viés sociológico, principalmente quando a discussão é contrastada pela teoria matemática. Faz sentido pensar dessa forma, porque o que falta a uma - no caso da Teoria Matemática abordar o significado da mensagem - a outra consegue embarcar em função do cunho sociológico que cabe dentro do escopo da cibernética.

Uma vez que a Cibernética, por mais que tenha uma relação de proximidade com o tema, não toma como problema do campo as questões da comunicação com uma angulação da tecnologia, não a usaremos tampouco como fundamentação teórica.

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