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Ônus ao cidadão e para a Administração Pública decorrente de fragilidade das análises e das decisões administrativas do INSS

Concluídas e tempos BMOB

5. Desconformidades nas análises e fragilidade nas decisões administrativas do INSS quanto aos requerimentos de direito,

5.4 Ônus ao cidadão e para a Administração Pública decorrente de fragilidade das análises e das decisões administrativas do INSS

Como já mencionado, não foi possível obter junto ao INSS, até a emissão deste relatório, quantitativos e séries históricas pertinentes às atividades de revisão de posicionamento dos requerimentos de direitos, tanto daqueles decorrentes de pedidos protocolados diretamente pelos interessados pela via administrativa, sob a responsabilidade do CRPS, quanto os relacionados à judicialização. Pretendia-se, com esses dados, avaliar os impactos que as eventuais desconformidades das análises gera ao INSS e a outras instâncias envolvidas no mesmo tema.

Assim, diante da não disponibilização das informações pelo INSS, naquilo que diz respeito às judicializações, buscaram-se outras possíveis fontes, tendo se subsidiado em informações de auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) que objetivou avaliar os riscos relacionados à judicialização dos benefícios concedidos pelo INSS, objeto do TC 022.354/2017-4, e que resultou no Acordão nº 2894/2018 – TCU – Plenário e, ainda, em elementos constantes da Ação Civil Pública do Ministério Público Federal referente ao Inquérito Civil “IC nº 1.16.000.000126/2017-15”, que apura irregularidades nos serviços prestados pelo INSS.

Quanto aos pedidos de revisão na esfera administrativa, utilizou-se como subsídio documentos e levantamentos disponibilizados pela regional da Auditoria Geral do INSS em Recife (Ofício SEI Circular nº 5/2020/DRECB/CGRD/DIRBEN/PRES-INSS, de 14.02.2020, emitido pela Diretoria de Benefícios aos superintendentes-regionais e gerentes das agências do INSS; e-mail de 17.02.2020 da regional da Auditoria Geral em Recife à CGU; e planilha elaborada por aquela regional de auditoria do INSS “Estoque por serviço GET 06-02-20”, que contém a posição deste estoque, cujos dados foram extraídos do sistema GET em 06.02.2020).

Na auditoria mencionada, o TCU apontou a ausência de informações gerenciais sobre

a judicialização, tendo sido destacado pelo Tribunal que a análise e o acompanhamento

tempestivo e contínuo destes dados são essenciais para a melhoria da qualidade dos serviços prestados aos segurados do INSS e para o aprimoramento das análises administrativas e das defesas apresentadas pela União. Aquele Tribual aponta, ainda, as seguintes questões:

a) Em 2017 foram utilizados R$ 92 bilhões com pagamentos de benefícios judicializados, que corresponde a 15% do gasto total com benefícios naquele mesmo ano;

b) Em 2016 os custos processuais da judicialização foram de R$ 4,6 bilhões,

correspondendo a 24% do custo operacional total para os órgãos envolvidos (Justiça

Federal de 1º e 2º graus, PGF – Procuradoria Geral Federal/AGU, INSS e DPU – Defensoria Pública da União), e, também, equivalente a 59% do custo operacional do

INSS (de 7,8 bilhões) naquele exercício;

c) Elevado custo das ações ajuizadas para a concessão de benefícios, a partir das

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administrativo, evidenciando-se a necessidade de mudanças em todo o processo, seja

administrativo seja judicial, com vistas à redução dos conflitos geradores da referida judicialização, sem prejudicar, contudo, os legítimos interesses e direitos dos segurados; e

d) Em 2016 cerca de R$ 9 milhões foram gastos com multas judiciais impostas ao INSS

em face da demora no cumprimento de decisões judiciais.

Entre as causas dos problemas, o TCU aponta “Erros do INSS na análise administrativa” e “Dificuldades de a União prestar defesa adequada”.

Sobre a Ação Civil Pública do Ministério Público Federal – MPF referente ao Inquérito Civil “IC nº 1.16.000.000126/2017-15”, que apura irregularidades nos serviços prestados pelo INSS, são mencionadas situações relacionadas a fragilidades existentes no âmbito do INSS, as quais acabam refletindo em sobrecarga no âmbito do Poder Judiciário e de atuação como “instância originária nas demandas previdenciárias”.

O MPF destaca sobre a crescente judicialização da matéria previdenciária, enfatizando que o Judiciário não tem, e nem deve ter, a estrutura necessária para atender às pretensões que, de ordinário, devem ser primeiramente formuladas junto à Administração, sobrecarregando-o ainda mais, em prejuízo de todos que aguardam a tutela jurisidicional.

O MPF aponta, ainda, que o deslocamento da pretensão não atendida pelo INSS para o Judiciário implica em altos custos, duplicando o trabalho já realizado (em tese) administrativamente e que os gastos do processo judicial representam 4 vezes mais que o processo administrativo: “enquanto o trâmite de um requerimento (processo) administrativo custou, em média, R$ 894,00, um processo judicial de 1ª instância custou R$ 3.734,00”.

Relativamente aos pedidos de revisão na esfera administrativa, os documentos disponibilizados pela regional da Auditoria Geral do INSS em Recife revelam a existência de cerca de um milhão de processos que aguardam o reexame pelo CRPS, além de outros que, por serem mais antigos e estarem em meio físico, ainda não estão quantificados. Os documentos produzidos pelo TCU e pelo Ministério Público Federal acerca das judicializações e, ainda, os dados disponibilizados pela regional da Auditoria Geral do INSS em Recife sobre os recursos administrativos, apontam para uma mesma direção. Nesses documentos, ficam evidenciadas diversas fragilidades na execução da principal atividade do INSS, relacionada à análise de requerimentos e à concessão de benefícios. Entre os problemas identificados nestes documentos constam: precariedade das análises e das decisões administrativas; falta de motivação clara, compreensível e correta nas decisões administrativas, principalmente no indeferimento de benefícios; falhas na gestão e no acompanhamento das judicializações pelo INSS; fragilidades nos controles e nas informações gerenciais existentes; falta de capacidade de o INSS cumprir tempestivamente as determinações judiciais; ônus para o INSS com o pagamento de multas decorrentes de atraso no cumprimento das determinações judiciais; transferência de atividade própria da autarquia previdenciária ao Poder Judiciário, aumentando as ações judiciais e o esforço do Poder Judiciário para processá-las; ônus ao próprio INSS, e para outros órgãos públicos, como a PGF/AGU e a DPU, que se veem instadas a atuar; ônus às atividades do Conselho de Recursos da Previdência Social –

70 CRPS, vinculado ao Ministério da Economia, a quem cabe o processamento dos recursos protocolados pela via administrativa, que em fevereiro de 2020 já possuía um estoque de pelo menos um milhão de processos aguardando análise.

6. Adesão ao Programa Especial sem a necessária capacitação