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Cidade compacta como alternativa para um desenvolvimento urbano mais sustentável

CAPÍTULO 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.2 CONFIGURAÇÕES ESPACIAIS URBANAS E SEUS ASPECTOS (IMPACTOS) AMBIENTAIS,

1.2.2 Cidade compacta como alternativa para um desenvolvimento urbano mais sustentável

Um dos critérios definidores de uma urbanização ambientalmente sustentável é a manutenção das características presentes no ambiente natural, junto à provisão de infraestruturas e tratamentos urbanísticos de baixo impacto ambiental, buscando um equilíbrio (RIBEIRO e GONÇALVES, 2016).

Uma cidade compacta detém características espaciais de multiplicidade de usos e compacidade da malha urbana, que definem áreas urbanas relativamente densas e conectadas por sistemas de transporte público amplamente acessíveis (LEHMANN, 2016). Adicionalmente, esta tipologia favorece a mobilidade ativa, tornando os modos de deslocamento a pé e por bicicleta alternativas viáveis para viagens utilitárias – em contraposição às baixas densidades, que tornam inconcebíveis tais alternativas em função das grandes distâncias e da defasagem na provisão de infraestrutura de transporte público, incapaz de acompanhar as expansões cada vez mais esparsas e longínquas (Ibidem).

A compacidade urbana é “[...] medida em termos de área construída e população, e a concentração das funções urbanas” (ONU, 2015a, p.1, tradução). A compactação urbana apresenta características de forma, densidade e uso do solo “[...] que reduzem a superexploração

dos recursos naturais e estimulam as economias de aglomeração, com benefícios para os habitantes em termos de proximidade” (ONU, 2015a, p.1, tradução).

O conceito de cidade compacta com diversidade de usos, por vezes considerado como o mais sustentável, é proeminente em comparação à cidade dispersa na visão de vários autores19.

Baixas densidades no espaço urbano tornaram-se símbolo de desvio de urbanidade, à medida que a dispersão implica em reduzida eficiência espacial e operacional, com desperdício de recursos e de energia, e em degradação ambiental (KAJI et al, 2003; ROGERS, 2011).

Cidade expandida é sinônimo de elevadas expensas à sociedade no atendimento e manutenção de redes de suporte em todas as áreas objeto de políticas públicas, e de aumento dos custos econômicos individuais. Em contraposição às cidades compactas que fornecem “a maioria das soluções custo-efetivas para investimentos em infraestrutura” (ONU, 2015c, p. 4, tradução). Os custos de sustentação dos horizontes de projeto de sistemas de infraestrutura, como abastecimento de água, esgotamento sanitário e drenagem, por exemplo, são correlatos aos padrões de urbanização. Como parâmetro exemplificativo, nos Estados Unidos são estimadas despesas de 400 bilhões de dólares, por ano, resultantes de aumentos na infraestrutura, de provisão de serviços públicos e das despesas com transporte devido ao espraiamento urbano (ONU, 2015a).

Os efeitos do espraiamento manifestam-se por meio da subutilização de infraestruturas existentes – enquanto novas são criadas –, da progressiva ocupação e impermeabilização do solo, além da intensificação dos problemas de mobilidade urbana – em que os deslocamentos, a poluição do ar e os congestionamentos tornam-se elevados, em duração, extensão e frequência (ONU, 2015a).

Ademais, as emissões de gases do efeito estufa são inversamente proporcionais à compactação urbana – quanto maior a compactação, menores são as emissões. “Para cada um por cento de crescimento que ocorre no núcleo urbano ao invés do subúrbio, aproximadamente 5 milhões de toneladas métricas de CO2 per capita são evitadas” (ONU, 2015a, p. 2, tradução).

19 À exemplo de Calthorpe (1993); Jenks, Burton e Williams (1996); Maricato (2011); ONU (2015a) e Rogers

Uma expansão urbana adequadamente planejada, segundo a Agenda Habitat III, com vistas à consolidação de “densidades ótimas”20, evitando a “verticalização inútil”21, orientada à um

consumo de território eficaz – reduzindo o predomínio do espraiamento carregado de vazios urbanos –, e evitando a gentrificação e a segregação socioespacial, está relacionada, essencialmente, à inovação e adaptação de instrumentos municipais que permitam a organização do crescimento urbano (ONU, 2015a; 2016).

Nesta direção, Falcoski (1997; 2007) defende o desenvolvimento fundamentado na “intensificação urbana” 22, promovendo a ocupação dos vazios urbanos e sua função social,

conservação e manutenção das estruturas existentes, primeiramente à incorporação de novas estruturas físicas.

O quadro 1, a seguir, apresenta as especificidades entre as dinâmicas de urbanização centrífuga e centrípeta, na visão do autor.

Quadro 1 Dinâmicas de urbanização

FORMA URBANA HORIZONTAL

(Tradicional) FORMA URBANA COMPACTA (Proposta no PD de 2005)

Vetor: (C)Centro-(P)Periferia (Dentro-Fora) Forma Centrífuga

Desconcentração Demográfica e Funcional Baixa Densidade

Pior Densidade e Desempenho de Infraestrutura Maior Vazio Urbano Intersticial e Periférico

Vetor: (P)Periferia-(C)Centro (Fora-Dentro) Forma Centrípeta

Concentração Demográfica e Funcional Maior Densidade

Melhor Densidade e Desempenho de Infraestrutura Menor Vazio Urbano Intersticial

Fonte: Adaptado de Falcoski (1997)

Para Falcoski (1997), a urbanização tradicional tende à formas centrífugas por meio do espraiamento urbano (do centro para a periferia) e, em geral, isso representa uma maior incidência de vazios urbanos e um maior afastamento entre as funções da cidade (moradia,

20 Um conceito difícil de determinar com exatidão quantitativa, mas que para Calthorpe (1993) está relacionado às

médias densidades. Para a ONU (2012), a densidade ótima bruta estaria representada entre 150 e 450 habitantes por hectare. Para Mascaró (1986), em seu estudo de densidades econômicas, o valor ideal tange uma faixa compreendida entre 100 e 120 famílias por hectare, aproximadamente 350 a 420 hab/ha (MASCARÓ, 1986 apud NOBRE, 2004).

21 Expressão usada por Raquel Rolnik sobre a produção excessiva da verticalidade atrelada aos “[...] interesses das

empreendedoras em construir, sem elevar a concentração” (JORNAL FOLHA, 2013, online). Segundo Rolnik, “[...] os sobradinhos de alguns bairros concentram mais população do que a verticalização” (FOLHA, 2013, online) – este exemplo, prático para a cidade de São Paulo, poderia ser vinculado ao conceito de urbanização de médias densidades.

22 Processos, políticas ou estratégias empregadas em prol do aumento da densidade (CLARK e MOIR, 2015, p.9,

tradução). O conceito da intensificação urbana defende a ocupação compacta com redução de vazios urbanos, desenvolvimento de uso misto e em prol da eficiência espacial, energética e de recursos naturais e financeiros (ONU, 2015a; 2016). Apresenta similaridades conceituais ao Compact City europeu e ao Smart Growth americano.

P

comércio, serviços, lazer, etc.), que decorrem em menor eficiência na provisão de infraestruturas e serviços públicos, maiores demandas energéticas e impactos ambientais. Deste modo, Falcoski (1997; 2007) propõe a contenção da urbanização rarefeita por meio de uma dinâmica de urbanização centrípeta (que atrai a expansão para o seu núcleo, ocupando os vazios urbanos), em oposição à forma centrífuga (expansão rarefeita e periférica), para assim “[...] crescer sobre o construído e não crescer em termos de agregar bairros periféricos sem-fim e deixar que se destruam as cidades já existentes” (CASTELLS, 1982, p.68).