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DOS ESTUDOS

5.2. Caracterização da Territorialidade da Pesquisa

5.2.3. Cidade Estrutural

A Estrutural foi construída às margens da rodovia DF-095, a qual dá nome à cidade, ou vice-versa. As primeiras ocupações datam da década de 60, quando trabalhadores catadores de lixo instalaram-se na região (GDF, Administração Regional do SCIA, 2013)

A história da Estrutural está ligada à história do que era para ser um aterro sanitário de Brasília, conhecido simplesmente como “Lixão da Estrutural”, fonte de muitos problemas ambientais e sociais e ao mesmo tempo fonte de sustento de várias famílias que tinham e tem no lixo63 a única fonte de renda. Como conta a Alfabetizadora:

A Estrutural foi formada pelo seguinte. Com o grupo de Catadores de Lixo que veio. Eu creio que eles não tinham onde morar então vieram de outras cidades e aí tinham que ter trabalho e foi juntado naquele, tipo no lixão, onde qualquer cidade normal tem né. Essas pessoas que trabalham com reciclagem. E aí foi formando a Estrutural (GF n° 3)

Em 1989, do outro lado da rodovia, foi instalado o Setor Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA), trazendo consigo a primeira de muitas ameaças de remoção das famílias ali residentes, pois a área despertava e ainda desperta grande interesse econômico pela proximidade do centro da capital.

Apenas em janeiro de 2004, por meio da Lei Distrital n° 3.315, o SCIA se tornou mais uma Região Administrativa formada pela Estrutural, o próprio SCIA e a Cidade do Automóvel. Vale ressaltar que das três áreas apenas a Estrutural é reservada como área residencial e, coicidentemente, a última a ser urbanizada (e ainda não finalizada).

A luta pela regularização das moradias está longe de ser resolvida64, famílias continuam

a serem removidas ou continuam morando em áreas de risco.

A Estrutural por conta das dificuldades sociais e econômicas possui vários movimentos organizados: Associação de Moradores, Associação de Artesãs, Movimento de Educação e Cultura da Estrutural (MECE) e Cooperativas de Catadores de Materiais Recicláveis, como por exemplo a Cooperativa de Reciclagem, Trabalho e Produção (CORTRAP). Este último, inclusive, organiza-se no DF por meio da Central de Cooperativas de Materiais Recicláveis do DF (CENTCOOP-DF)65 e nacionalmente por meio do Movimento Nacional de Catadores

de Materiais Recicláveis ( MNCR)66

Por meio das lutas sociais “(...) veio o asfalto, tem esgoto, tem energia, como vocês veem, a gente pode usar internet.” (GF n° 3), porém a cidade ainda precisa de muito mais coisas

63 Ver diferença entre lixo e resíduos em NAIME, 2010. http://www.ecodebate.com. br/2010/05/12/lixo-ou-residuos-solidos-artigo-de-roberto-naime/

64 Ver documento do Fórum de Monitoramento da Cidade Estrutural “Um Golpe na Dignidade dos

Moradores da Estrutural” https://docs.google.com/file/d/0B8U4TZ5YqQnN2MyMGZkNjAtOThmYi00ZWUyLW

FkYTAtZjgxMFiYmRhY2Rl/edit?hl=pt_BR&pli=1

65 Ver página do CENTCOOP: http://www.centcoop.org.br/

como “(...) uma escola técnica, uma faculdade e bancos.” (GF n° 3).

Hoje, a Estrutural67 conta com uma população urbana estimada de 25.732 habitantes

(GDF, CODEPLAN, 2011b). De 2004 até 2011, a população urbana da região cresceu 11.235 habitantes, conforme gráfico:

Gráfico 14 - Comparação da População Urbana do SCIA/Estrutural (2004 e 2011):

Fonte: Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios - SCIA/ Estrutural (PDAD 2011).

No quadro a seguir, é interessante notar que a taxa de pessoas não alfabetizadas quase caiu pela metade, mas os dados frios não mostram que, em relação aos números absolutos, quase nada foi alterado:

67 Como mencionado na seção anterior, não foram utilizados dados oficiais mais recentes, pois até o

Quadro 23 - Evolução da taxa de pessoas não alfabetizadas no SCIA/Estrutural (2004 e 2011):

Fonte: Elaborado pelos autores com base na Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios - SCIA/ Estrutural (PDAD 2011).

Pela ausência de dados oficiais mais recentes não é possível traçar uma linha evolutiva da taxa de pessoas não alfabetizadas na Estrutural depois do início do DF Alfabetizado. O que nos parece correto afirmar é que a taxa de analfabetismo caiu muito mais em função do crescimento populacional do que por qualquer tipo de ação alfabetizadora de jovens e adultos que por ventura possa ter existido na cidade.

5.2.4 Sobradinho I e Sobradinho II

De modo semelhante às Regiões do Paranoá e Itapoã que compartilham muito da mesma história, Sobradinho I e Sobradinho II não são diferentes. Sobradinho II foi desmembrado, mas ainda mantém laços com uma das poucas RA’s que foram planejadas: Sobradinho I.

Entretanto, no caso do Itapoã, o Programa DF Alfabetizado (ciclo 2011/2012) o tinha selecionado como Região prioritária para o atendimento de pessoas não alfabetizadas. Sobradinho I e II trata-se de uma questão um pouco diferente. Primeiramente as duas RA’s não estavam nos planos do GDF para receber o programa, mas mesmo assim foram incluídas; e em segundo lugar, com a entrada de Sobradinho como parte do programa, o documento n° 05/2011 “Chamada Pública para a Seleção de Voluntários para o Programa DF Alfabetizado” não estabelecia distinção entre qual das duas RA’s seria dada prioridade de atendimento, como foi o caso das demais regiões. Diante disso, Sobradinho I e Sobradinho II foram tratados, para fins do programa, como uma única região.

5.2.4.1 Sobradinho I

Os primeiros documentos oficiais da região datam de 1853, antes mesmo da existência de Sobradinho, ou até mesmo do Distrito Federal, e mostram que a área já era habitada e conhecida como Fazenda Sobradinho (GDF, Administração Regional de Sobradinho I, 2013).

pensada e planejada para receber as famílias realocadas (expulsas) de outras localidades perto do Lago Paranoá, inclusive os moradores do próprio Paranoá, assim como funcionários de órgãos públicos (GDF, CODEPLAN, 2011c), mas só em 1960 foi de fato fundada.

Uma das áreas foi destinada para receber os trabalhadores do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), hoje Vila DNOCS68 que ainda enfrenta vários problemas

como nos conta a Alfabetizadora de Sobradinho:

A Vila DNOCS é um bairro que até bem pouco tempo era um bairro de barracos né. E que eles foram contemplados com as casas daquele programa do governo. Então hoje lá não existe mais barraco né. Eles têm suas casas, mas eles não têm transporte, não têm escolas, não têm nenhuma infraestrutura assim. Então é uma comunidade pequena, mas que está à margem de Sobradinho, com um índice muito alto de violência né. (GF n° 5)

Dando prosseguimento à história de Sobradinho I, apenas em 1964, com a Lei Distrital n° 4545, de 10 de dezembro de 1965, Sobradinho foi alçada ao posto de Região Administrativa do DF.

Com o grande crescimento populacional de Sobradinho I e com a necessidade de retirar moradores de ocupações “irregulares” - essa é a tônica do Distrito Federal, a população carente é sempre arrancada e colocada em outra localidade – na década de 90 foi criado o Núcleo Habitacional Sobradinho II, entretanto Sobradinho II teve um crescimento populacional vertiginoso, superando Sobradinho I, de forma que em 2004, por meio da Lei Distrital n° 3.314, Sobradinho II se torna a RA XXVI.

Sobradinho I também abriga movimentos sociais ligados à educação e cultura como: Centro de Educação Pesquisa Alfabetização e Cultura de Sobradinho (CEPACS) e o Centro de Tradições Populares com o “Boi do Seu Teodoro”.69.

Hoje Sobradinho I 70 conta com uma população urbana estimada de 85.491 habitantes

(GDF, CODEPLAN, 2001c). De 2004 até 2011, a população urbana da região cresceu 24.201 habitantes, conforme gráfico:

68 Para aprofundamento sobre o processo de regularização, ver: http://www.abc.habitacao.org.br/

wp-content/uploads/2012/10/CODHAB-DF-Vila-DNOCS-REG.pdf

69 O Boi de Seu Teodoro é considerado Patrimônio do DF e do Brasil, ver: http://boideseuteodoro.

wordpress.com/ Seu fundador o Senhor Teodoro Freire 2006 foi homenageado com a Ordem do Mérito Cultural,

sob o título de Comendador. Ver: http://www2.cultura.gov.br/site/acesso-a-informacao/programas-e-acoes/

ordem-do-merito-cultural/ordem-do-merito-cultural-2006/

70 Não foram utilizados dados oficiais mais recentes, pois até o presente momento a PDAD 2013 de

Gráfico 15 - Comparação da População Urbana de Sobradinho I (2004 e 2011):

Fonte: Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios - Sobradinho I (PDAD 2011).

A taxa de pessoas não alfabetizadas não caiu, significantemente, assim como também não caiu, de modo significativo, em números absolutos, conforme quadro abaixo:

Quadro 24 - Evolução da taxa de pessoas não alfabetizadas em Sobradinho I (2004 e 2011):

Fonte: Elaborado pelos autores com base na Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios - Sobradinho I (PDAD 2011).

Pela ausência de dados oficiais mais recentes não é possível traçar uma linha evolutiva da taxa de pessoas não alfabetizadas em Sobradinho I depois do início do DF Alfabetizado, mas podemos notar que existe um número constante de pessoas não alfabetizadas que variou muito pouco em 7 anos.

5.2.4.2 Sobradinho II

Antes da Região Administrativa de Sobradinho II ser constituída, em 1990 ela primeiramente surgiu como parte de um programa habitacional para expandir Sobradinho I, resposta ao crescimento populacional da região e às ocupações consideradas irregulares.

“Paranoazinho”. O Decreto Distrital n° 13362, de 7 de agosto de 1991 foi o instrumento legal utilizado para desapropriar essas terras e destiná-las para fins de moradia popular, comércio local, aparelhos públicos etc. (GDF, Administração Regional de Sobradinho II, 2013)

Apenas em 2004, Sobradinho II, por meio da Lei Distrital n° 3314, de 27de janeiro, se tornou a Região Administrativa RA XXVI

Geograficamente, as RA’s Sobradinho I e II são próximas, tendo como divisórias apenas a Rodovia Distrital – DF 420 e a Avenida do Contorno.

Hoje, Sobradinho II 71 conta com uma população urbana estimada de 105.363 habitantes

(GDF, CODEPLAN, 2011c). De 2004 até 2011 a população urbana da região cresceu 33.558 habitantes, conforme gráfico:

Gráfico 16 - Comparação da População Urbana de Sobradinho II (2004 e 2011):

Fonte: Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios - Sobradinho I (PDAD 2011).

A taxa de pessoas não alfabetizadas caiu em função do aumento da população da RA, pois em números absolutos o analfabetismo cresceu, conforme quadro a seguir:

71 Não foram utilizados dados oficiais mais recentes, pois até o presente momento a PDAD 2013 de

Quadro 25 - Evolução da taxa de pessoas não alfabetizadas em Sobradinho II (2004 e 2011)

Fonte: Elaborado pelos autores com base na Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios - Sobradinho II (PDAD 2011).

Pela ausência de dados oficiais mais recentes não é possível traçar uma linha evolutiva da taxa de pessoas não alfabetizadas em Sobradinho II depois do início do DF Alfabetizado. Assim como nas demais RA’s prioritárias, nos preocupa o número constante ou a redução bastante lenta do número de pessoas não alfabetizadas.

5.4. Categorias a partir das percepções