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DOS ESTUDOS

5.2. Caracterização da Territorialidade da Pesquisa

5.2.2 Paranoá e Itapoã

Diferente do Sol Nascente, na Ceilândia, Itapoã legalmente já se constitui como uma Região Administrativa, com território, administração e aparelhos públicos próprios. Contudo, sua história está intimamente ligada à região vizinha/mãe/irmã Paranoá. Ligação que se dá pelos aspectos geográficos, econômicos, sociais e culturais.

Geograficamente as duas regiões são muito próximas e são separadas apenas por uma rodovia distrital; a economia das duas regiões é movimentada pelos moradores de ambas as regiões que em parte trabalham e utilizam o comércio regional; alguns equipamentos públicos são utilizados pelos moradores das duas localidades; e ambas dividem uma herança cultural nordestina e goiana.

Não é possível falar de Itapoã, sem falarmos primeiro da Região do Paranoá. Por isso, trataremos da caracterização desta, para logo em seguida, retomarmos com a RA XXVIII.

5.2.2.1 Paranoá

Assim como outras Regiões Administrativas do Distrito Federal, a história do Paranoá é marcada pela exclusão e, sobretudo, por muita luta em prol dos direitos de moradia e cidadania60.

59 Estudo da UNESCO que discute a concentração da mídia, ver: http://unesdoc.unesco.org/

images/0016/001631/163102por.pdf

60 Para maior aprofundamento sobre a história do Paranoá a obra “A repercussão da atuação de

O Paranoá ou Vila Paranoá surgiu em 1957 (GDF, Administração Regional do Paranoá, 2013) a partir da construção da Barragem do Paranoá, apesar de relatos afirmarem que a ocupação da região ter começado muito antes disso, como por exemplo, com a Fazenda Paranoá (JESUS, 2010, p. 26).

Os trabalhadores que vieram para a construção da barragem, que formou o Lago Paranoá, fixaram suas moradias e em 1960 já somavam cerca de 3 mil habitantes.

Em 1964, através da Lei Distrital n° 4545, de 10 de dezembro de 1964, o Paranoá foi reconhecido como Região Administrativa, mas é só em 25 de outubro de 1989, com o Decreto Distrital n° 11921, que a RA ganha os limites geográficos definitivos que vigoram até os dias de hoje.

O período entre 64 e 89 foi marcado por intensas lutas pela fixação das moradias e contra a remoção de casas. As lutas foram encabeçadas pelos jovens do Turma Unida Comunicando Amor (TUCA 2), do Movimento Pró-Melhorias e da Associação de Moradores61,

grupos que por muito tempo trabalhavam em sintonia, inclusive com alguns dos seus membros integrando mais de um deles. Entretanto, este último, a Associação de Moradores, em 1987, com a vitória de sua nova direção, aliou-se ao governo.

Nesse contexto político em que a Associação de Moradores se torna correia de transmissão dos governantes, no mesmo ano jovens que outrora encamparam a luta pela fixação e melhorias do Paranoá, no intuito de continuar a luta e a caminhada política, fundaram o Centro de Cultura e Desenvolvimento do Paranoá (CEDEP) que continua firme até dos dias atuais.

Outro ponto que merece destaque diante do histórico de lutas dos moradores do Paranoá é que a cidade foi a primeira do Brasila receber um Centro de Atenção Integral à Criança (CAIC) Santa Paulina (VASCONCELOS, 2012, p. 176).

Passadas algumas décadas após as primeiras lutas por moradia e a conquista de permanecer na área, o Paranoá hoje conta com uma população urbana estimada de 45.613 habitantes (GDF, CODEPLAN, 2013b). De 2011 até agora a população urbana cresceu 3.186 pessoas, conforme gráfico:

interessantes para a discussão. Ver: http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/2995/1/2007_LeilaMariadeJesus.

PDF

61 Para maior aprofundamento sobre os movimentos sociais do Paranoá, ver: JESUS, 2010; e REIS,

Gráfico 12 - Comparação da População Urbana do Paranoá (2011 e 2013):

Fonte: Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios - Paranoá (PDAD 2013).

Não nos parece que aumento da população possa ter impactado diretamente na análise do Programa DF Alfabetizado ciclo 2011/2012, pois no período a RA não apresenta grande crescimento do número de habitantes, porém constata-se forte crescimento da taxa de pessoas não alfabetizadas, mesmo com a vigência do programa contrariando a tendência de diminuição de 2004 a 2011. Em números absolutos quase dobram o número de pessoas não alfabetizadas. Como podemos observar abaixo:

Quadro 21 - Evolução da taxa de pessoas não alfabetizadas no Paranoá (2004, 2011 e 2013

Fonte: Elaborado pelos autores com base na Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – Paranoá (PDAD 2013).

Aparentemente as causas do aumento são diferentes das possíveis causas do aumento do analfabetismo em Ceilândia. Talvez a não existência de ações de alfabetização nos anos anteriores a 2013 podem ter levado ao crescimento desse número.

5.2.2.2 Itapoã

Como destacamos anteriormente, Itapoã e Paranoá dividem muitas coisas em comum, mas apesar da proximidade geográfica com o Paranoá, a área ocupada pelo Itapoã pertencia à Região Administrativa de Sobradinho (GDF, Administração Regional do Itapoã, 2013), porém há a controvérsia que de fato as terras pertenciam/pertencem à União (GDF, CODEPLAN, 2011a)

A ocupação do Itapoã teve início na década de 1990 e desde então seus moradores com a participação de movimentos sociais lutam pela permanência e melhoria da região. Dentre os movimentos sociais podemos citar: o Centro de Formação da Economia Solidária (CEFES) e a Associação de Bumba Meu Boi do Itapoã (o próprio CEDEP atua na região).

Em 2003, o Itapoã foi vinculado à Região Administrativa do Paranoá e já em 2005 os moradores conquistaram a constituição da cidade em Região Administrativa. Apesar da autonomia administrativa, a cidade até hoje divide muitos órgãos públicos com a RA vizinha, como é o caso da Coordenação Regional de Ensino do Paranoá (CRE Paranoá) e demais serviços de utilidade pública,causando várias dificuldades aos moradores:

(...) nós temos um problema com ônibus, geralmente nossos ônibus passam por dentro do Paranoá e nossos alunos vão em pé, voltam em pé, alguns trabalham longe ou trabalham em empresa, a maioria da população tem nível de escolaridade muito baixo, então a maioria trabalha mais com trabalhos forçados, trabalhos manuais, trabalhos que exigem mais esforços físicos, então chegam cansados (...) (Eliane, GF n° 8)

Hoje o Itapoã62 conta com uma população urbana estimada de 50.339 habitantes (GDF,

CODEPLAN, 2011a) De 2004 até 2011 a população urbana cresceu apenas 4.087, conforme gráfico:

62 Não foram utilizados dados oficiais mais recentes, porque até o presente momento a PDAD 2013

Gráfico 13 - Comparação da População Urbana do Itapoã (20004 e 2011):

Fonte: Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios - Itapoã (PDAD 2011).

Fontes não oficiais acreditam que a população do Itapoã já ultrapassa a marca dos 60 mil habitantes. Como não existem ainda dados mais recentes não é possível completar o quadro abaixo, traçando uma linha evolutiva da taxa de pessoas não alfabetizadas depois do início do DF Alfabetizado.

Quadro 22 - Evolução da taxa de pessoas não alfabetizadas em Itapoã (2004 e 2011):

Fonte: Elaborado pelos autores com base na Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios - Itapoã (PDAD 2011).

O mesmo problema com os dados de 2013 vai voltar a se repetir com a Cidade Estrutural como veremos a seguir na próxima seção. De qualquer maneira o quadro acima, com os dados de 2004 e 2011, aponta a redução da taxa e dos números absolutos de analfabetismo na Região Administrativa do Itapoã, mesmo sem ações de alfabetização constantes.