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Crise ambiental e Sustentabilidade urbana

2.3. Sustentabilidade urbana

2.3.1. Cidades Sustentáveis e o Ecourbanismo

Rogers (2005) descreve as cidades do futuro como ambientes sustentáveis e civilizados por meio do aumento de conscientização ecológica, tecnologia das comunicações e produção automatizada.

Grande parte das cidades do mundo já começou a traçar o caminho para a cidade sustentável, e oportunidades e soluções vêm sendo apresentadas. Resta colocá-las com todo seu potencial em prática.

Necessita-se, primeiramente, de uma grande transformação cultural, e então e a partir daí, de uma mudança na forma de usar os recursos. Segundo Girardet (2004:257), as cidades sustentáveis devem ser centros civilizados, lugares de criatividade, saúde, beleza e convívio, acima de qualquer tipo de vida sedentária; com bons edifícios e espaços públicos, habitação acessível e de boa qualidade, e estruturas adequadas para a vida comunitária.

Para isso, uma cidade auto-sustentável deve considerar as relações entre cidadãos, serviços, políticas de transporte, geração de energia e os impactos totais no ambiente local e numa esfera geográfica mais ampla. A característica básica que reflete essas considerações é a compacidade. É consenso na literatura, que a cidade compacta é a solução para abrigar os propósitos da sustentabilidade urbana, já que ela salva áreas da ocupação humana.

Por meio do modelo de cidade compacta atingem-se melhores níveis de eficiência energética e menores taxas de consumo de recursos, de poluição e de área expandida sobre a área rural.

Incluídas no conceito de compacidade para uma cidade sustentável, destaca- se a ênfase nos sistemas de transportes e diversidades de usos, contribuindo para a redução das distâncias, favorecendo os pedestres e ciclistas.

Segundo Edwards (2005), a forma da cidade sustentável que deverá se desenvolver ao longo do século XXI retratará:

ƒ compacidade, legibilidade, diversidade de usos e gabaritos médios (quatro a dez pavimentos);

ƒ presença de elementos da natureza, por meio dos rios e do verde nas praças e avenidas;

ƒ predominância de transporte público, considerando as necessidades dos pedestres e das pessoas com deficiência física;

ƒ polinuclearidade, tendo além do centro principal, os subcentros;

ƒ reutilização, reabilitação e revitalização em áreas antigas enquanto práticas comuns e valorizadas;

ƒ questões ambientais e de eficiência energética sempre integradas com as sociais e as econômicas;

ƒ permanência dos ingredientes tradicionais das cidades por meio da manifestação e expressão das aspirações humanas que dão textura e identidade aos lugares e respondem às necessidades sociais e artísticas da cultura urbana.

Na Figura 2.5 apresentado encontram-se esquematizadas as inter-relações básicas de uma cidade sustentável.

Figura 2.5. Inter-relações básicas da cidade sustentável. Fonte: Edwards (2005:119).

Contribuindo com o pensar sobre a cidade sustentável foi desenvolvida a disciplina nomeada ecourbanismo. De acordo com Ruano (1999:10), o “ecourbanismo define o desenvolvimento de comunidades humanas sustentáveis por meio de ambientes construídos harmoniosos e equilibrados”. É um conceito essencial para todo planejamento urbano realmente preocupado com os problemas sociais e ambientais mundiais contemporâneos (Ruano, 1999:10).

Rumo à cidade sustentável, o ecourbanismo articula algumas variáveis numa abordagem sistêmica do desenho urbano. Nele, o planejamento e o desenho urbano devem incluir, como componentes estruturais considerados desde o início do processo, as novas tecnologias de informação e telecomunicações, assim como também as preocupações ecológicas, dentro de uma estratégia global de sustentabilidade. São preocupações que transcendem barreiras políticas e culturais, em direção ao benefício global (Ruano, 1999).

Em “Ecourbanism: sustainable human settlements: 60 case studies”, o autor Miguel Ruano divide a temática em sete temas, que não têm igual relevância entre si, mas tendo cada um sua própria importância particular no planejamento de assentamentos humanos sustentáveis. São eles:

ƒ Mobilidade: relaciona-se com a solução para os problemas causados pelos veículos, através de estratégias que propõem um tecido urbano compacto com diversidade de usos, de forma que morar, trabalhar, estudar e recrear estejam a uma distância e meio compatível para se fazer o percurso a pé ou com bicicleta; trata, ainda, de densidades suficientes para suportar transportes de massa e de provisão de infra-estrutura de telecomunicações atualizada.

ƒ Recursos: trata dos recursos envolvidos na construção e funcionamento de assentamentos humanos, tais como:

‚ idéias: podem ser novas ou velhas, mas que devem ser sempre ajustadas entre os meios e a necessidade;

‚ materiais de construção: incentivo ao uso de materiais e métodos construtivos ecológicos, atentando sempre para o ciclo de vida dos materiais, isto é, custo de fabricação, uso e descarte;

‚ energia: esforços para reduzir seu consumo ou usar fontes renováveis;

‚ água: otimização do seu ciclo por meio da obtenção ecologicamente aceitável de água potável, separação das águas

residuais em água cinza e preta, coleta e uso de água pluvial, retenção da água em enxurradas e reposição do lençol freático; ‚ resíduos: considerados como um recurso ou subproduto a ser

reciclado, assim, os resíduos sólidos podem contribuir para geração de energia (gás metano e calor), podem ser reutilizados na construção com os entulhos de demolição, metais e plásticos reciclados e ainda podem produzir compostos orgânicos.

ƒ Participação: propõe-se um processo projetual interativo por meio de um conjunto de técnicas para garantir que os espaços satisfaçam a real ou percebida necessidade de seus usuários.

ƒ Comunidade: trata da valorização dos laços sociais – considerados como um dos bens mais valiosos das sociedades humanas e cruciais para a sobrevivência da espécie – com propostas para lugares mais humanos, tais como, ênfase no espaço público e na interação humana, planejamento orientado para pedestres, ciclistas e transporte público, escala humana e bairros compactos com diversidade de usos. ƒ Ecoresorts: considerando o turismo como a indústria mais importante do mundo

com elevadas projeções de crescimento e considerando seus impactos nas áreas mais sensíveis da natureza, como praias e montanhas, propõe-se um desenvolvimento turístico ecológico.

ƒ Revitalização: centra-se na restauração de zonas urbanizadas degradadas, antes de urbanizar as valiosas e cada vez mais escassas áreas naturais ou agrícolas. ƒ Televillages: dar ênfase aos locais onde as pessoas moram, porém fazendo sua

vida em outro lugar sem se locomover, isto através das novas tecnologias de telecomunicações, o que pode ser muito benéfico, pois ajuda a minimizar muitos problemas ambientais causados pelo transporte. Acredita-se que sua forma física ainda está por ser proposta no planejamento urbano, já que por enquanto limita-se a cabos de fibra ótica e outros similares, aparecendo nas edificações no máximo como reações estilísticas.

Além dessas proposições para um mundo mais sustentável, é necessário o desenvolvimento da consciência entre as pessoas sobre as implicações que têm de certos modos de vida, que precisam ser mudados em favor da saúde dos habitantes da Terra. Para isso todos devem se sentir como parte da solução e parte do problema, por meio de propostas discutidas, acordadas e até mesmo originadas pelas próprias pessoas que as farão acontecer, que viverão por meio delas e com elas. Nesse sentido, “envolvimento é a chave para o desenvolvimento de assentamentos humanos sustentáveis” (Ruano, 1999:23).

2.3.2. Novo Urbanismo, Smart Growth e LEED for Neighborhood