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Cinegética e pesca em águas interiores

No documento Síntese de diagnóstico: sistema biofísico (páginas 187-192)

1.14 SISTEMAS FLORESTAIS E ORDENAMENTO FLORESTAL NA

1.14.7 Produções da floresta

1.14.7.5 Cinegética e pesca em águas interiores

As áreas florestais e agro-florestais da região albergam uma importante diversidade de habitats e de biótopos de fauna selvagem, que apresenta um enorme potencial em termos cinegéticos. Ao longo dos últimos anos tem-se verificado uma evolução positiva no que se refere ao ordenamento do regime cinegético, resultante da realização de investimentos no sector e de um aumento de associações de caçadores. Em termos gerais, de acordo com a DGRF (2006), 57% da superfície da região encontra-se integrada em zonas de caça de diferentes tipos. Verifica-se a existência de uma zona de caça nacional (a da Lombada, uma das maiores do país) e de diversas zonas de caça turística, com especial incidência na área Nordeste da região. As mais numerosas são as zonas de caça municipais e as zonas de caça associativa.

Os recursos cinegéticos da região podem classificar-se em dois grupos, a caça menor e a caça grossa, que apresentam algumas variações na sua distribuição regional. Na caça grossa inclui-se o javali, o corço e o veado. Das três, o javali é o que se encontra mais uniformemente distribuído pela região e é a espécie mais frequente. A região apresenta vastas áreas que constituem habitats favoráveis à existência do javali, à excepção de povoamentos densos de resinosas, que colocam algumas restrições tróficas e as extensas áreas agrícolas, devido à escassez de locais de refúgio e de abrigo. O corço encontra-se

implantado um pouco por toda a região, em especial nos locais mais montanhosos do Nordeste, do Barroso, Padrela e Alvão/Marão, que constituem locais propícios à sua permanência. A sua presença mais habitual faz-se sentir nas áreas Norte dos concelhos de Vinhais e de Bragança, nas áreas adjacentes ao rio Sabor, no concelho de Montalegre, e na corda Alvão/Marão em direcção à Padrela (Vila Pouca de Aguiar). O veado é a espécie mais rara, encontrando-se limitada ao Parque Natural de Montesinho, onde já foi detectado em diversas freguesias pertencentes ao concelho de Bragança.

A caça menor disponível na região integra um leque mais alargado de espécies, sedentárias e migradoras. O coelho é uma das espécies que se encontra mais representada na região, sendo apenas desfavoráveis à sua presença as áreas com níveis de precipitação mais elevados (acima dos 1000mm), ou aquelas que tenham solos húmidos. É por esta razão que regista uma maior difusão nas áreas Sul da região, nomeadamente, na orla Sul da serra de Montemuro, Leomil e Lapa. A Norte também está presente, mas com um menor número de efectivos.

A lebre é um lagomorfo menos vulgar que o anterior, revelando alguma irregularidade na distribuição e um baixo número de exemplares. Prefere os relevos ondulados dos planaltos de montanha, com vegetação baixa, sendo mais frequente nos concelhos de Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro e Mogadouro.

A raposa é uma espécie que se encontra bem distribuída por toda a região, fruto da sua flexibilidade ecológica e de estar presente nos territórios onde o coelho marca presença. Por outro lado, a distribuição deste predador é também influenciada por determinadas actividades humanas, que acabam por definir habitats potenciais para a raposa.

A perdiz vermelha apresenta um óptimo ecológico caracterizado por um nível de precipitação não muito abundante (inferior a 600mm) e pela ausência de temperaturas muito baixas, pelo que a Terra Quente transmontana e as áreas Sudeste da região constituem o seu habitat preferencial. A existência de áreas densamente cobertas também constitui um factor limitativo à sua presença, porque prefere áreas abertas e com uma ocupação do solo diversificada.

As espécies cinegéticas migradoras ou parcialmente migradoras mais relevantes são a rola, o pombo, a codorniz e o tordo/estorninho. A rola é uma das aves migradoras que mais amplamente se pode encontrar por toda a região, com a excepção das terras mais frias de planalto e de montanha. O seu óptimo ecológico situa-se, por imperativos térmicos, na zona envolvente ao Douro e seus afluentes. As áreas que nesta sub-região forem tradicionalmente produtores de cereais, como Moimenta da Beira, Tarouca e Penedono, tornam-se locais ainda mais atractivos para esta ave.

O pombo, tal como a rola, pertence à família dos columbídeos, revelando hábitos idênticos à da espécie antecessora. Encontra-se bem distribuído por toda a região, embora seja menos frequente nos concelhos do sector Noroeste, em especial, Vila Pouca de Aguiar. Surge com abundância em diversos concelhos durienses (Armamar, Alijó, Vila Flor, Moimenta da Beira, Freixo de Espada-à-Cinta), mas também é comum em Mirandela, Mogadouro e Macedo de Cavaleiros.

A codorniz é uma ave que também se encontra distribuída por toda a região, revelando uma maior preferência por áreas de montanha, vales, prados e lameiros, embora seja menos frequente nos concelhos da sub-região duriense. É vulgar em Montalegre, Chaves, Bragança, Vinhais, Vimioso e Mirandela.

Por último, o tordo e o estorninho, são duas aves que permanecem em Portugal sobretudo no Inverno, embora algumas nidifiquem, especialmente no caso do estorninho. As principais comunidades destas aves podem encontrar-se nas áreas de cultivo de olival e de vinha, por constituírem fontes de alimentação predilectas. As mais desfavoráveis coincidem com as manchas extensas de resinosas e de áreas improdutivas/matos por não assegurarem o alimento de que precisam.

A região de TMAD possui um inegável valor em matéria de diversidade ecológica e de recursos cinegéticos, que devem ser objecto de um criterioso ordenamento, de modo a que as actividades humanas não ponham em risco a sua permanência na região. A caça é uma actividade que pode contribuir para o desenvolvimento local e que também poderá exercer um papel de controlo de crescimento de determinadas espécies. Por sua vez, a abundância de recursos cinegéticos também está dependente da gestão que é feita dos espaços agro-florestais, pelo que o equilíbrio entre ambos os factores só se consegue através de um adequado ordenamento territorial e gestão dos recursos cinegéticos. É reconhecido que o maior número de espécimes de caça grossa na região parece resultar do progressivo abando dos terrenos agrícolas, que são reconvertidos em florestais ou em matos e da redução da pecuária. Contudo, nem todos os povoamentos florestais constituem habitats para estas espécies, como seja o caso das extensas áreas de pinhal frequentes por toda a região, devido às suas restrições tróficas. Por isso, a promoção de descontinuidades e a aposta na reconversão de novos povoamentos arbóreos com folhosas, trará indubitáveis melhorias em termos de biodiversidade e de potencial cinegético. Das espécies de caça grossa, o corço é aquela que deve ser objecto de maior conservação e de fomento à distribuição. Porque TMAD constitui o último refúgio do corço em Portugal e porque causa bastante menos prejuízos (ambientais e agrícolas) que as restantes espécies. A coincidência dos trabalhos silvícolas com os períodos menos sensíveis do ciclo biológico destas espécies é também importante.

No que respeita à caça menor, as acções a implementar deverão ponderar os diferentes factores que podem potenciar o seu desenvolvimento, nomeadamente as restrições que cada sub-região apresenta em termos ambientais ou florestais. O coelho e a perdiz são as espécies de maior interesse, pelo que as áreas que se enquadrem no seu óptimo ecológico deverão ser alvo de uma intervenção (zonas de fraca vocação florestal, ocupadas por herbáceas/matos e localizadas fora dos perímetros serranos frios e declivosas e não muito húmidas). O tipo de acções necessárias para reforçar a colonização destes espaços passa pela introdução de descontinuidades na malha herbácea, de modo a enriquecer a estrutura paisagística e florística. A regeneração de espécies florestais autóctones, a introdução/manutenção de pequenas manchas arbóreas, a limpeza de matos, a manutenção de lameiros e de pastos são acções pertinentes, que poderão beneficiar de apoios agro-ambientais. Intervenções em áreas de aptidão florestal baixa/moderada também devem ser consideradas, principalmente a incidir sobre manchas de resinosas, de modo a revitalizar as espécies autóctones, que anteriormente ocupavam muitos destes espaços.

A abundância de recursos cinegéticos e a biodiversidade da região pode estimular ainda o desenvolvimento de outras actividades que urge apoiar e divulgar, em estrito respeito pelos valores da conservação. É o caso do turismo de natureza, categorizado como um dos dez produtos turísticos pelo Plano Estratégico Nacional do Turismo (DGT, 2006). A grande diversidade geográfica e ecológica da região é um ingrediente para o desenvolvimento de actividades na natureza todo o ano: percursos pedestres, BTT, canoagem, acções de formação/educação ambiental, observação de aves, entre outras. No caso da ornitologia, a região dispõe de locais privilegiados a nível nacional para a observação de aves, algumas delas com distribuição restrita. Os locais mais favoráveis são a Albufeira do Azibo, o Alvão, o Douro Internacional (uma das melhores áreas do país para a observação de aves de rapina) e a serra de Montesinho (onde ocorrem diversas aves de distribuição limitada em Portugal, como a cegonha-preta ou a águia- real.

A pesca e a piscicultura têm também alguma representatividade na região, devido à existência de algumas truticulturas e à prática da pesca profissional e da pesca desportiva ao longo do rio Douro e seus afluentes, tendo esta última registado um forte incremento ao longo dos últimos anos. O rio Douro encontra-se classificado como zona de pesca profissional, assim como os seus principais afluentes, os rios Sabor, Tua e Tuela. Nos rios Tuela e Baceiro encontram-se as únicas zonas de pesca reservadas de TMAD. A região apresenta um grande potencial para os salmonídeos, tendo em conta o número de troços classificados, com bons níveis de qualidade das águas, nomeadamente, os cursos a montante dos rios Sabor, Tuela, Rabaçal, Tinhela e afluentes do Tâmega. A

revelam o potencial piscícola que a rede hidrográfica da região possui. Os cursos de água da região caracterizam-se por possuir um baixo teor em nutrientes, mas situações de eutrofização encontram-se pontualmente em diversos locais da bacia do Douro, associadas a descargas de efluentes urbanos e de indústrias agro-alimentares. É no Tâmega que os impactes antrópicos são mais visíveis, com reflexos já ao nível da degradação da cortina ripária.

A fragilidade dos cursos de água considerados como salmonídeos implica a minimização de acções nas respectivas faixas ripícolas, de modo a não perturbar os ecossistemas aquáticos. As operações a desenvolver nestes locais devem privilegiar a protecção/manutenção da faixa riparia e acções para prevenir a ocorrência de incêndios. Nos cursos de água não classificados como salmonídeos é igualmente importante a rearborização/manutenção arbórea como medida de protecção dos corredores ribeirinhos existentes. A vegetação ripícola desempenha várias funções de relevo, como a protecção das margens dos rios, o controlo das cheias, regularização climática, depuração das águas, para além de constituir habitas privilegiados para diferentes espécies. Os locais identificados como pontos de lazer, pesqueiros, locais de pesca desportiva, entre outros, devem ser objecto de projectos de arborização a definir pelas autarquias, de modo a criar áreas aprazíveis e funcionais, com o mínimo impacte ambiental possível.

No documento Síntese de diagnóstico: sistema biofísico (páginas 187-192)