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O cinema argentino desempenha um papel importante na luta por Justiça e Reparação dos crimes cometidos pelo Estado argentino na última ditadura civil-militar. A geração de filhos de desaparecidos engajou-se em diversas frentes de militância, o que permite salientar que essa geração atua em segmentos bastante heterogêneos. O cinema foi e ainda é um meio bastante utilizado por essa geração para expor questões que são pertinentes a ela e também a sociedade argentina. A renovação da linguagem cinematográfica, o uso de novas tecnologias e a intensificação da ação estatal sobre a produção e seu escoamento contribuíram para que membros desta geração encontrassem no cinema um espaço legítimo para expressar suas lutas, traumas e construir suas imagens sobre sua identidade e memória. O número de obras que se debruça sobre o tema é bastante consistente e, ao mesmo tempo, bem aceita pelo público argentino.125 A geração de filhos de desaparecidos, os organismos de direitos humanos e o Estado encontraram nela uma ferramenta fundamental para informar e difundir suas ideias de representação e interpretações sobre o passado recente argentino.

Partindo da premissa da importância do cinema para a construção e reconstrução de imagens e narrativas sobre o passado recente argentino, serão analisadas duas obras cinematográficas produzidas por integrantes da geração de filhos de desaparecidos políticos, que fizeram do cinema um canal importante e eficaz para (re) construir suas memórias, traumas e posicionamentos. Os filmes selecionados foram produzidos no contexto do chamado Nuevo Cine Argentino e puderam desfrutar das novas possibilidades abertas por este movimento. Ou seja, circularam nas salas de cinema Espacios INCAA – fossem em seus anos de lançamento ou em reexibições; tiveram seus diretores formados nas principais escolas de cinema do país; figuraram nos principais festivais cinematográficos da Argentina e do mundo além de serem amplamente discutidos pela crítica especializada e pela academia.

Los Rubios (Albertina Carri - 2003) e Infancia Clandestina (Benjamín Ávila - 2012) são obras que abordam questões delicadas e traumáticas referentes à última ditadura argentina de maneiras distintas e, ao mesmo tempo, muito eficientes e com pontos comuns. Constroem representações marcantes da geração dos desaparecidos

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Público argentino não se refere somente ao grande público de espectadores, pode-se inserir neste grupo a crítica cinematográfica e a academia argentina e mundial que encontrou no cinema produzido pela geração de filhos de desaparecidos um campo interessante de pesquisa.

políticos, partindo da representação de sua própria geração. São obras que abordam as questões da memória e identidade de duas gerações, sendo esse o eixo principal que conecta ambas, construir uma imagem e representação sobre uma geração tendo como ponto de partida outra geração.

Os filmes selecionados produzem um distanciamento discursivo e formal em relação à produção posterior relacionada à temática ditatorial. Além de inaugurar um novo lugar do qual se fala sobre a ditadura, o lugar de filho, de vítima que não possuía autonomia para decidir sobre as decisões dos pais, que não teve responsabilidade alguma, mas que também sofreu diretamente com as consequências ao longo de sua vida. Uma voz que, até o momento, esteve praticamente ausente, ou que surgia de forma coadjuvante dentro do discurso fílmico dedicado à temática. Essa geração surge como um sujeito que expressa um novo ponto de vista e que, finalmente, rompe o silêncio e inaugura novas representações, algumas vezes incômodas, para assegurar um lugar aos seus questionamentos, posicionamentos e suas memórias.

As duas obras foram lançadas entre um intervalo de aproximadamente nove anos, Los Rubios foi lançada em 2003, primeiro ano do governo de Néstor Kirchner, em um contexto de forte instabilidade política, econômica e social. Esta obra reflete o momento de sua produção, no campo audiovisual o país vivia um dos momentos mais férteis de sua produção com o Nuevo Cine Argentino e no campo político e social, Kirchner chegava ao poder reivindicando para o Estado a responsabilidade da produção de uma memória oficial. Já Infancia Clandestina estreou na Argentina em 2012, apenas dois anos depois do grande sucesso de crítica e público do premiado El secreto de sus ojos. Sendo assim, o cinema argentino, dedicado ao grande público, vivia um momento de ascensão e triunfo graças ao sucesso do vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2009, da mesma forma que as pautas por justiça e reparação lideradas pelos familiares nas organizações de direitos humanos alcançavam seu apogeu no discurso político kirchnerista.

Los Rubios e Infancia Clandestina foram então lançados com um intervalo de quase uma década. Consequentemente foram produzidos em contextos diferentes e contaram com diferentes suportes financeiros, estéticos, comerciais e publicitários. O primeiro é um documentário, enquanto, o segundo um drama ficcional. Ambos baseados nas memórias pessoais da infância marcada pela ditadura e suas sequelas. Não cabe aqui delimitar e centrar-se nas diferenças de gênero cinematográfico, pois o

primordial para essa análise são as diferenças e aproximações dos discursos históricos e memorialísticos sobre a ditadura civil-militar presentes em cada uma das obras.

Albertina Carri e Benjamin Ávila tiveram suas vidas marcadas pelos traumas e violências da ditadura civil-militar argentina ambos filhos de desaparecidos políticos possuem uma trajetória marcada pelas heranças traumáticas da história recente da Argentina e utilizaram o cinema como forma de criar imagens e narrativas sobre suas memórias, manifestar seus posicionamentos, além de criar e/ou reproduzir certas representações sobre esse passado. Benjamín salientou algumas vezes que o cinema era sua forma de militância assim como muitos outros diretores, filhos de desaparecidos, que interpretam e usam o cinema como uma ferramenta de militância. Em contrapartida, Albertina sempre buscou afastar-se o estigma de cinema-militante, declarando que não fez parte de nenhuma organização de direitos humanos e que seu trabalho não tem o caráter de militar frente à causa dos filhos de desaparecidos.

Albertina Carri nasceu em 1973, é a filha caçula de Ana María Caruso e Roberto Carri. Seus pais foram sequestrados no ano de 1977, quando tinha apenas três anos de idade. Assim que foi privada da convivência junto a eles, mudou-se para o interior e foi morar com seus tios em uma fazenda. Depois, já adolescente, voltou à Buenos Aires onde estudou e dedicou-se à carreira cinematográfica, formou-se na Fundación Universidad del Cine (FUC) em 1992.

Benjamín Ávila nasceu em 1972 e quando completou sete anos passou a viver na clandestinidade junto com sua mãe e padrasto, ambos militantes montoneros. No ano de 1979, sua mãe foi sequestrada e seu irmão mais novo apropriado ilegalmente pelo Estado. Depois do desaparecimento de sua mãe passou a viver com seu pai, em Tucumán e aos treze anos retornou a Buenos Aires. Formou-se em Desenho, Imagem e Som na Universidade de Buenos Aires no ano de 1996.

Albertina e Benjamín passaram a infância convivendo com ausências e desde muito jovens tiveram que lidar com questões complexas e traumáticas como, por exemplo, a clandestinidade, o desaparecimento dos pais, o sequestro de um irmão. Após desenvolverem certa maturidade, assim como muitos outros integrantes dessa geração, passaram a expor publicamente as sequelas dos traumas vividos ao longo de suas vidas. Foi a partir da década de 1990 que esta geração surge como um novo ator social tanto no campo político quanto no plano cultural.

Tanto Albertina quanto Benjamín pertencem a essa geração, ambos escolheram as artes visuais como carreira, optaram por construir narrativas fílmicas sobre os

traumas, vivências e ausências de suas infâncias. Os pontos de convergências são variados, porém a maneira como cada um optou por construir sua narrativa é bastante marcante e mostra suas diferenças não somente estéticas, mas principalmente, interpretativas sobre diversas questões que são caras à produção cinematográfica sobre a temática ditatorial.

Los Rubios – Albertina Carri (2003)

“[...] la generación de mis padres, los que sobreviveron a una época terrible, reclaman ser protagonistas de una historia que no les pertenece. Los que vinieron después, como Paula L. y mis hermanas quedaron en el medio, heridos, construyindo sus vidas a través de imagenes insuportables.”126

Los Rubios foi lançado em 23 de outubro de 2003 na Argentina. Primeiramente se imaginou o seguinte título “Documental 1. Notas para una ficción sobre la ausencia”, que buscava unir o documentário e ficção. Inicialmente a obra seria uma investigação audiovisual sobre a ausência de seus pais, este projeto foi enviado a um concurso do F.N.A127 e saiu vencedor. Assim que conseguiu o subsídio Albertina começou a coletar testemunhos de familiares e amigos, sua primeira intenção foi gravar tudo que ela vinha escutando sobre seus pais ao longo de sua vida. Não havia um roteiro pré-estabelecido para as filmagens, sua primeira ideia era sobrepor várias vozes em torno do caso do desaparecimento de seus pais.128

O filme-ensaio de Albertina tem como proposta central pensar a ausência através de um formato “memória”, o que torna sua obra inovadora se comparada com a produção cinematográfica argentina sobre a temática até aquele momento. Apesar de o filme levar os espectadores a visitar os lugares onde Albertina viveu na clandestinidade com seus pais e irmãs, entrevistar alguns vizinhos do bairro, colher testemunhos de

126

Esta frase é dita em voz-off, quando Analía Couceyro, vestindo uma peruca loira, passeia pelo bairro em que a família Carri esteve reunida pela última vez.

127

Fondo Nacional de las Artes, criado em 1958, é um organismo estatal ligado ao Ministério da Cultura e que tem como principal objetivo subsidiar atividades culturais e artísticas em todo o país.

128

CIRULO, Diego. (2013) Reflejos en la oscuridad. P.14.

http://www.grupokane.com.ar/index.php?option=com_content&view=article&id=642:artentreviacarri&ca tid=36:catficcion&Itemid=29 (acessadoem 08/12/2015).

amigos e companheiros de militância de seus pais, visitar o Centro Clandestino de Detenção onde eles foram presos, coletar sangue para um eventual exame de DNA, Los Rubios não é um documentário clássico. Por esta breve descrição Los Rubios pode ser classificado como mais uma das produções cinematográficas que debruçam-se sobre a temática ditatorial, seus traumas e consequências. Aparenta ser um documentário clássico em que a filha busca reconstruir a figura perdida dos pais. Porém a forma como Albertina subverteu essas fórmulas representativas, já consolidadas pelo cinema argentino, fez com que seu documentário se tornasse um relato inovador que gerou uma ruptura com a produção e reprodução de memórias através do cinema.

Era a primeira vez que uma filha de desaparecidos executava uma investigação em formato “memória”, a obra trata das memórias da diretora e é apresentada através de uma narrativa fragmentada em que o passado se projeta constantemente no presente e que vários estados das ausências são apresentados, estabelecendo uma ruptura com os discursos dominantes. A temática central do filme é a ausência gerada pelo sequestro e desaparecimento dos pais. E esta ausência é representada pelos vazios e lacunas que são característicos e que compõem suas memórias.

Albertina foi uma das primeiras de sua geração a construir uma narrativa fílmica sobre o desaparecimento de seus pais e as sequelas deste fato e ela o faz em um momento de intensa instabilidade política e social no país. Desde o final da década de 1990, a Argentina presenciou uma série de retrocessos das conquistas nas políticas de reparação ao mesmo tempo que enfrentava um intenso descontentamento com as políticas neoliberais que levaram o país à falência. A obra de Carri nasce em um momento de reconquista de estabilidade, com Kirchner, e de ascensão das pautas de direitos humanos vinculando a memória ditatorial a uma questão de Estado.

A diretora

Albertina nasceu em 1973 na cidade de Buenos Aires, na Argentina. É filha de Ana María Caruso e Roberto Carri e tem mais duas irmãs. Sua mãe era professora de letras e latim, formada pela Universidad de Buenos Aires; seu pai era jornalista e sociólogo detentor de uma vasta produção acadêmica. O casal fazia parte da organização guerrilheira Montoneros e, em 24 de fevereiro de 1977, Ana María foi

sequestrada em uma estação de trem e Roberto detido, em sua própria casa, naquele mesmo dia.

O destino da família Carri mudaria completamente depois destes acontecimentos, após a detenção do casal, na província de Buenos Aires (Hurlinghan), permaneceram presos no CCD chamado “El Sheraton” e suas três filhas foram levadas a Comisaría de Villa Tesei, também na província de Buenos Aires e logo depois retiradas de lá por familiares. Passados dez dias do sequestro, Ana María entrou em contato com a família e essa comunicação foi mantida até dezembro de 1977. Albertina e suas irmãs – Andrea e Paula – ficaram, primeiramente, com os avós e algum tempo depois se mudaram para o interior com os tios.

Já no início dos anos de 1990, Albertina iniciou seus estudos na Fundación Universidad del Cine (FUC) especializando-se como roteirista, realizou estudos de fotografia e câmera e logo juntou-se à esquipe do diretor de fotografia Félix “Chango” Monti. Essa experiência fez com que Albertina participasse de produções de vários longas-metragens juntamente com importantes diretores do cinema argentino como, por exemplo, Héctor Olivera (Una sombra ya pronto será, 1944) e Martín Rejtman (Silvia Pietro, 1999). Em 1997, aos 24 anos, filmou seu primeiro longa-metragem No quiero volver a casa que foi selecionado para os festivais de Buenos Aires, Rotterdam, Londres e Viena.

No ano 2000 pesquisou técnicas de animação com o auxílio da Fundación Antorchas, que resultou nos curtas-metragens Barbie también puede estar triste e

Aurora. Ainda neste naquele ano, através do financiamento do F.N.A., começou a desenvolver o documentário Los Rubios, que seria lançado três anos depois. Esta foi a obra que determinou o reconhecimento tanto nacional quanto internacional de Albertina como diretora. O reconhecimento da crítica e do público não foi uma circunstância restrita à Argentina, o prestígio internacional foi bastante contundente, participou de importantes festivais de cinema como Rotterdam, Toronto, Locano e Goteborg, além de ganhar os prêmios do público, de melhor filme e diretora revelação da 5ª edição do BACIFI.

Depois do sucesso de Los Rubios, Albertina produziu e dirigiu outras obras. Em 2005 lançou Géminis e, em 2008, La Rabia ambos participaram de importantes festivais e foram premiados. Já em 2010, Albertina foi convidada a participar do projeto de comemoração ao bicentenário da República Argentina, 25 miradas – 200 minutos, apresentando o curta-metragem Restos. Em 2012 produziu outro curta-metragem

chamado Pets. Vale lembrar que Albertina também realizou produções televisivas como, por exemplo, o filme Urgente (2007) além de alguns episódios para séries como Mujeres en rojo (2003), 0800 no llames (2005) e 23 pares (2012).

A produção cinematográfica de Carri é bastante variada e se dedicou diretamente à temática ditatorial apenas em uma de suas obras, até o momento. Sua filmografia toca em questões muito importantes e polêmicas, de forma pouco convencional, dentro da sociedade argentina, passando pela violência das relações sociais – representada pelos pampas argentinos em La Rabia, a violência contra a mulher e o abuso infantil em Urgente.

A cinematografia de Albertina é bastante contundente, foi depois do grande sucesso de Los Rubios que ela tornou-se uma das principais cineastas do chamado Nuevo Cine Argentino, graças à nova perspectiva apresentada nesta obra. Los Rubios foi recebido pelo público com grande inquietação primeiro por apresentar uma narrativa fragmentada e, segundo, por impor uma ruptura discursiva com a produção anterior a ele. A obra apresenta um traço geracional marcante, ela não busca a construção de memória e da imagem dos pais, não tenta gerar figuras heroicas destes desaparecidos nem da militância dos mesmos. Diferentemente do que ocorria nas produções cinematográficas anteriores, que privilegiavam a reconstrução das figuras dos militantes desaparecidos como figuras heroicas, Los Rubios busca enfatizar questões decorrentes da ausência dos pais desaparecidos e como essa ausência emocional não pode ser preenchida, mesmo que ela colete todas as informações possíveis sobre seus pais e tenha consigo todas as fotos, escritos, livros; mesmo que construa uma narrativa rica de informações e memórias esta ausência jamais será preenchida.

Carri opta por estratégias eficazes para salientar a dificuldade e, até certo ponto, impossibilidade de se transmitir e produzir um discurso linear sobre suas memórias de infância. Como a diretora busca construir uma narrativa a partir de suas memórias, que são fragmentadas e lacunares, a linguagem utilizada para a construção da obra também é fragmentada e repleta de brechas. E para criar esses fragmentos e lacunas a diretora constrói uma espécie de jogo de espelhos129 entre a realidade e a ficção, entre passado e presente e

esses jogos aparecem ao longo de todo o filme e transmitem ao espectador a impressão de que as memórias e lembranças de Albertina são permeáveis e que nunca se

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NORIEGA, Gustavo. Estudio crítico sobre Los Rubios: Entrevista a Albertina Carri. 1ª Ed. – Colección Nuevo Cine Argentino – Buenos Aires: Picnic Editorial. 2009. P.88.

chegará a uma verdade única sendo somente possível se chegar a um conjunto de parcialidades, fragmentos de “verdades”.

Jogos de Espelhos – A “impossibilidade” de representação.

A primeira cena de Los Rubios mostra uma animação com bonecos Playmobil. Ao longo o filme este recurso aparecerá mais três vezes, somando quatro cenas que têm em comum o fato de serem representações de um fato passado. Além da primeira cena do filme, que representa a vida no campo, há também a representação de um local de descontração dos companheiros de militância dos pais; a representação do desespero dela e das irmãs ao chegarem ao campo e, por último, o sequestro de seus pais. O uso das animações evidencia uma das estratégias de Albertina de transmitir uma impossibilidade da representação de certos temas. Estas cenas são marcantes e evidenciam as referências de infância da diretora.

Para enfatizar essa impossibilidade, há em Los Rubios uma questão pouco convencional a documentários tradicionais, o uso de uma atriz para interpretar a diretora e roteirista. Dentro da narrativa convivem duas Albertinas, uma interpretada por Analía Couceyro e outra pela própria Albertina. Pode observar que a atriz, em vários momentos atua em situações que a própria Albertina não se sente confortável ou não quer participar por alguma outra razão, ou seja, a atriz representa a pessoa que adentra lugares físicos e emocionais aos quais a diretora não consegue ou não quer estar. Como, por exemplo, a cena em que Albertina não consegue manter-se diante de uma das vizinhas que relata o sequestro de Roberto Carri.

“Allí es donde el personaje ‘Albertina’ tenía la posibilidad de atravesar esos portales [...] y yo no. Es más, en esas incursiones al barrio donde yo vivía con mis padres comencé a entender que era lo que tenía que suceder en la parte de ficción de la película y qué lugar ocupaba la otra Albertina.”130

A “outra” Albertina aparece em algumas cenas que se referem ao trabalho da diretora, há cenas em que a atriz aparece revisando as entrevistas, falando com a câmera, conversando com os vizinhos e crianças do bairro onde Albertina viveu,

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observa-se uma representação do presente e do trabalho de Albertina. A diretora também aparece em sua “vida real” dirigindo Analía Couceyro e realizando as ações que competem a uma diretora e/ou roteirista, quase sempre as cenas em que Carri aparece são habitualmente em preto e branco. O documentário recorre à atuação da atriz em vários momentos e isso pode ser interpretado como uma tentativa de Albertina de distanciamento do relato, estabelecendo assim uma distância emocional que a diretora julga ser necessária para que o filme tenha o alcance que deseja.

“...és que me parecia demasiado fuerte plantarme frente a la cámara y decir ‘cuando tenía a três años a mi mamá y a mi papá los mataron.’ Porque se el espectador se pone a llorar no hay reflexión posible. La historia por si es dramática y traumática, y yo convivo con ella. Por eso también quise quitarle solemnidad al tema porque, si bien convivo con esta historia, mi cotidianidad no está siempre marcada por ella. Soy normal, con altos y bajos.”131

O jogo de espelhos que o filme proporciona está na transição entre o presente o passado representado pela presença concomitante de Analía Couceyro – atriz que interpreta Albertina – e da própria Albertina. Porém dentro deste jogo observa-se o

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