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Circunstâncias de Incidência e Conversão

1.3 Espécies de Penas aplicadas no Brasil

1.3.3 Penas Alternativas

1.3.3.3 Circunstâncias de Incidência e Conversão

Segundo o artigo 44 do nosso atual Código Penal66, as penas restritivas de direito devem ser aplicadas nos casos de crimes em que foram aplicadas penas privativas de liberdade não superior a quatro anos e desde que o crime não tenha sido praticado com o uso de violência ou grave ameaça (requisitos de natureza objetiva). Também será aplicado, independentemente da pena cominada, se for resultado de crime culposo, se o réu não for reincidente em crime doloso e após a análise de vários elementos que indicarem que a substituição será suficiente, quais sejam: a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime (requisitos de natureza subjetiva).

No caso de concurso material de crimes, a substituição é possível, desde que o total da pena privativa de liberdade não ultrapasse o limite temporário anteriormente referido, ou seja, quatro anos, ressalvada a hipótese de crime culposo, em que ela é sempre admissível.

O parágrafo 3º do referido artigo informa que, embora o condenado seja reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que a medida seja socialmente recomendável e que a reincidência não seja decorrente da prática do

66Redação do art. 44: “As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de

liberdade, quando: I - aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; II - o réu não for reincidente em crime doloso; III - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.”

mesmo crime, ou seja, não ocorrerá a substituição se o agente for reincidente específico. Deve ainda ser observado disposição do artigo 64, inciso I, do CP, que diz que os efeitos da reincidência não prevalecem quando tiver decorrido o prazo superior a cinco anos entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior.

A conversão67 das penas privativas em liberdade em penas restritivas de direito possui natureza dúplice. Seu caráter será liberativo quando o condenado não é beneficiado inicialmente pela substituição, ocorrendo a conversão durante a execução da pena. Todavia, isso apenas ocorrerá se a pena privativa de liberdade não for superior a dois anos, que o condenado esteja cumprindo a pena em regime aberto, que tenha sido cumprido ao menos um quarto da pena, e que os antecedentes e a personalidade do condenado indiquem ser a conversão recomendável. (art. 180, LEP).

Entretanto, se o condenado transgredir qualquer uma das restrições impostas para a espécie da pena restritiva de direitos aplicada, esta será convertida em pena privativa de liberdade. Tal medida visa dotar as penas restritivas de direito de coercibilidade e, com isso, garantir o êxito da execução das penas alternativas.

As possibilidades de conversão encontram-se dispostas no art. 44, §§ 4º e 5º. A conversão obrigatória e proporcional ocorre no caso de descumprimento injustificado, parcial ou total, de restrição imposta na sentença condenatória, devendo o juiz decretar a conversão, voltando o sentenciado a cumprir a pena privativa original.

Destarte, ante a funcionalidade e vasta aplicabilidade do monitoramento eletrônico de presos, poderia esse ser inserido em nosso ordenamento como medida necessária para o fortalecimento do sistema das penas alternativas, seja como instrumento auxiliar na execução das penas restritivas de direito já existentes, seja como uma nova pena a ser inserida e aplicada em nosso sistema penal.

67 Cf. Mirabete: “A conversão é a substituição de uma sanção por outra, pena ou medida de

segurança, no curso da execução. Há, assim, alteração na execução, que pode ser favorável ou prejudicial a condenado, transformando-se a pena primitivamente imposta em outra ou em medida de segurança, ou uma desta em outra espécie. Por essa razão diz-se que a conversão pode ter caráter liberativo ou detentivo e constituir-se na conversão-internamento”. MIRABETE, Julio Fabbrini, op. cit., p. 766.

2 MONITORAMENTO ELETRÔNICO DE PRESOS

Com as incessantes falhas do sistema penitenciário nacional, surge o monitoramento eletrônico de presos como uma nova tecnologia de controle penal, vista por muitos legisladores como medida necessária para minorar os efeitos negativos da prisão.

Deve-se, portanto, com a análise do monitoramento eletrônico, adaptar a realidade do Direito Penal aos avanços tecnológicos da sociedade atual, procurar o auxílio de novas ferramentas no combate ao avanço da criminalidade e na busca por soluções hábeis aos problemas existentes no âmbito da execução das penas.

2.1 Considerações Iniciais

O artigo 146-A, do Projeto de Lei nº 165, de 2007, define o monitoramento eletrônico de presos como sendo o uso da telemática e de meios técnicos que permitem, à distância e com respeito à dignidade da pessoa a ele sujeito, observar sua presença ou ausência em determinado local e período que ali deva ou não possa estar, aplicando-se as condições fixadas por determinação judicial. De acordo com Maria Poza Cisneros:

Básicamente, a través de la vigilancia electrónica podemos controlar dónde se encuentra uma persona implicada en um proceso penal pero, desde esta premisa, se abre un amplio abanico de variantes, por cuanto la vigilancia puede ser continua o no, permitir la exacta localización o solo el no alenjamiento o aproximacíon em relacíon, en este caso, con determinados lugares o con terceras personas, puede utilizarse en distintas fases del proceso y ofrecer, además, información de caráter no espacial relativa a la conducta del individuo, como su consumo de alcohol o, incluso, sus constantes vitales.68

Sendo assim, percebe-se que o uso do monitoramento eletrônico pode dar-se sob vários aspectos, seja de forma contínua ou não, podendo apontar a exata localização do sujeito, limitar o acesso do mesmo a determinados locais ou pessoas, ou ainda, trazer informações adicionais relacionadas ao comportamento dos indivíduos, como o consumo de álcool ou outras substâncias consideradas ilícitas.

68

PEÑA, Luzón apud CISNEROS, Maria Poza. Las nuevas tecnologias em el âmbito penal. Revista Del Poder Judicial, nº 65, p. 59-134, 2002, p. 61.

Figura 2 Aparelho de Monitoramento de Consumo Alcóolico – Continuous Alcohol Monitoring69

Admite-se para o monitoramento eletrônico do preso três finalidades essenciais, quais sejam: detenção, para manter a pessoa a ser controlada em local predeterminado; como restrição, evitando-se assim que o indivíduo freqüente determinados locais ou se aproxime de determinadas pessoas; ou como vigilância, para que se mantenha vigilância constante do indivíduo, sem que se restrinja sua movimentação.

Calcula-se que o governo gasta, atualmente, cerca de R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais) mensalmente, por indivíduo que se encontra encarcerado70. Em contrapartida, estima-se que se gastaria com a vigilância eletrônica cerca de R$ 500,00 (quinhentos reais) mensais. Os dispositivos de controle serão produzidos no próprio Brasil, pelo LACTEC – Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento, e

69

Atriz norte-americana Lindsay Lohan fazendo uso de um aparelho que permite apontar a ingestão de bebidas alcoólicas. Segundo o endereço eletrônico da LCA (Provedor das tecnologias de monitoramento eletrônico do estado da Califórnia): “The SCRAM (Secure Continuous Remote Alcohol Monitor) provides continuous, 24-hour monitoring of alcohol concentration through the skin. The unit is attached to the ankle and communicates with a modem easily installed in the home using a regular telephone line. The SCRAM unit is fitted with secure straps and alarms that detect an attempt to tamper with the device. SCRAM is the first technology to utilize the science of transdermal alcohol testing in order to determine alcohol content. SCRAM measures the ethanol in insensible perspiration – a byproduct of alcohol consumption – in order to determine Transdermal Alcohol Content (TAC). SCRAM has the most impact when a client is also undergoing treatment for their alcohol issues.” Disponível em: <http://www.lcaservices.com/pages/equipment.html> Acesso em: 22 jul. 2010.

70

Presidiário custa 11 vezes mais que estudante. Estado de Minas. Belo Horizonte, 03 set. 2007. Disponível em: <http://wwo.uai.com.br/UAI/html/sessao_14/2007/09/03/em_noticia_interna,id_sess ao=14&id_noticia=27888 /em_noticia_interna.shtml> Acesso em: 15 ago. 2010.

desenvolvido por uma empresa de comunicação e tecnologia. Apresentando alguns outros valores, Carlos Roberto Mariath assim demonstra:

Neste diapasão, a um custo de mobilização do sistema de vigilância para 10.000 (dez mil) presos da ordem de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais), a um dispêndio mensal de R$500,00 (quinhentos reais) por pessoa monitorada, o chamado “monitoramento eletrônico de presos” surge como uma alternativa, uma vez que as condições conferidas pela solução tecnológica são capazes de potencializar a reintegração social do apenado, afastando o presos das nefastas conseqüências do encarceramento.71 Por meio do monitoramento eletrônico, busca-se reduzir os altíssimos níveis de lotação relacionados à população carcerária, diminuir os elevados custos que o encarceramento traz para o sistema, e, por fim, manter o contato do condenado com sua família, diminuindo-se os efeitos negativos que a prisão causa nos detentos.

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