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Desde o ano de 2001105 surgem discussões entre os representantes do poder público, após observações na fragilidade do sistema penal atual e na incapacidade de se resolver essas questões. Os projetos de lei nº 4.324/01 do deputado Marcus Vicente – PTB/ES, e nº 4.834/01 do deputado Vittorio Medioli – PSDB/MG tratavam do uso de dispositivos eletrônicos no controle de condenados e como pena restritiva de direitos.

Em 12 de junho de 2007, o projeto de lei 1.288/07, de autoria do Senador Magno Malta, PR/ES, foi apresentado. Tal proposta teve, em sua origem, o PLS 0175/10, tendo a ele sido apensados os projetos de lei nº 337, do deputado Ciro Pedrosa – PV/MG, nº 510/07, do deputado Manato – PDT/ES, nº 641/07, do deputado Edio Lopes – PMDB/RR, nº 1295, do senador Aloízio Mercadante – PT/SP e nº 1440, de autoria do deputado Beto Mansur – PP/SP.106

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Em Cuiabá, foram realizados experimentos em 5 presos do regime semiaberto; em Rondonópolis participaram 9 voluntários, também do regime semiaberto.

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Monitoramento eletrônico de presos é 1º passo da modernidade. Só Notícias, Cuiabá, 10 ago. 2010. Disponível em: <http://www.sonoticias.com.br/noticias/9/110669/monitoramento-eletronico-de- presos-e-1o-passo-da-modernidade-diz-curado> Acesso em: 7 set. 2010.

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GERALDINI, Janaína Rodrigues, op. cit., p. 102.

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MARIATH, Carlos Roberto, op. cit., p. 12.

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Todas essas propostas anteriores visavam a realização de alterações no Código Penal e na LEP, para que se possibilitasse a utilização do monitoramento eletrônico, para os mais variados fins.

Dentre todas essas proposições, certamente a mais marcante foi a apresentada pelo senador Aloízio Mercadante, que visava a alteração dos artigos 37, 66, 115, 123, e 132 da Lei de Execução Penal, os artigos 36 e 85 do Código Penal, o artigo 312 do Código de Processo Penal, além de desejar acrescentar os artigos 146-A ao 146-G à LEP, para que se torna-se possível a disposição sobre o monitoramento eletrônico.

Tal proposta foi aprovada em abril de 2007 na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, juntamente com a proposta do senador Magno Malta, de nº 1288/07, que previa alterações nos artigos 66, 115, 122, 132 da LEP e o artigo 36 do Código Penal.

Por fim, foi apresentada a proposta do deputado Beto Mansur, que além das alterações anteriores, também previa as possibilidades do uso do monitoramento eletrônico nas penas restritivas de direito (alterando-se os artigos 43, 44 e 48 do CP), nos condenados submetidos ao sursis (art. 77, CP) e nos casos previstos nos artigos 408 e 594 do Código de Processo Penal.

No dia 15 de junho de 2010, o projeto de lei 1.288/07 foi aprovado, tendo sido sancionado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva e transformado na Lei Ordinária nº 12.258/10107. Porém, grande parte do projeto foi vetada, somente sendo possível o monitoramento eletrônico no caso de saída temporária em regime semi-aberto e de prisão domiciliar. A lei também estabelece regras em relação às tentativas de danificar ou remover o equipamento, quem o fizer poderá ter a autorização de saída temporária ou prisão domiciliar revogada, além de regressão do regime e advertência por escrito.

Parte da doutrina é favorável aos vetos realizados. As razões do veto, expostas na mensagem 310, de 15 de junho de 2010, da Subchefia para assuntos jurídicos da Casa Civil foram as seguintes:

A adoção do monitoramento eletrônico no regime aberto, nas penas restritivas de direito, no livramento condicional e na suspensão condicional da pena contraria a sistemática de cumprimento de pena prevista no ordenamento jurídico brasileiro e, com isso, a necessária individualização,

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Disponível em: < http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/fraWeb?OpenFrameSet &Frame=frm Web2&Src=/legisla/legislacao.nsf/Viw_ Identificacao/lei%252012.258010%3F Open Document%26 Auto Fram ed > Acesso em: 15 nov. 2010.

proporcionalidade e suficiência da execução penal. Ademais, o projeto aumenta os custos com a execução penal sem auxiliar no reajuste da população dos presídios, uma vez que não retira do cárcere quem lá não deveria estar e não impede o ingresso de quem não deva ser preso.

Todavia, tais alterações não foram satisfatórias. Se em alguns aspectos certas vedações foram necessárias para se compatibilizarem com o nosso ordenamento, a exemplo do uso no regime aberto, em outros, elas não foram corretas e de certa forma impedirão os benefícios que o uso dos dispositivos eletrônicos de vigilância poderia trazer.

O regime aberto, por exemplo, é baseado na auto-disciplina e no senso de responsabilidade do condenado, permitido-lhe trabalhar fora do estabelecimento pena, bem como freqüentar cursos ou outras atividades autorizadas, sem vigilância.

Isto posto, o uso do monitoramento eletrônico de presos, nessa hipótese, violaria as normas do Código Penal, bem como representaria o exercício de uma vigilância desnecessária sobre o condenado. Vários relatórios e estudos apontam o baixíssimo número de condenados que fugiram ou abandonaram o programa de regime aberto. Demonstra-se assim a injustiça que seria feita se a monitoração telemática fosse aplicada nesses casos. Além disso, não seriam atingidos os objetivos de redução da população carcerária e nem os custos do aprisionamento.

Apontam-se, contudo, novas propostas no intuito da criação de uma nova modalidade de regime aberto, praticado dentro do domicílio do condenado, com o uso do monitoramento eletrônico. Tal proposta merece ser analisada, pois vários seriam os beneficiados com a medida, vez que poderiam cumprir a reprimenda em suas casas, contando com o monitoramento como a única forma de controle a ser exercida.

A possibilidade de monitoramento eletrônico na fase processual é uma das hipóteses de monitoramento que poderia ter sido acrescida em nosso sistema. Tal aplicação seria uma alternativa adequada ao encarceramento. A vigilância estatal sobre os indivíduos submetidos à prisão preventiva seria mantida, mas sem atingir de forma rígida àqueles que ainda serão julgados pelas práticas delituosas.

Nada impede, portanto, que se pudesse utilizar o equipamento naqueles que estão respondendo à ações penais pela suposta prática de crimes hediondos ou a eles equiparados, pois a prisão preventiva é medida de exceção. Até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, o réu é presumido inocente.

Outra medida de extremo interesse seria a aplicação do monitoramento eletrônico como medida alternativa substitutiva da prisão. Ora, sabe-se que grande parte das penas aplicadas em nosso país são as de pequena duração. Portanto, a utilização do monitoramento ajudaria na diminuição de pessoas encarceradas, bem como possibilitariam uma grande redução nos custos estatais em relação aos gastos provenientes da manutenção de presos no cárcere.

Entretanto, cabe cautela ao se analisar mais propostas relativas ao uso do monitoramento eletrônico, pois assim estar-se-ia concebendo uma utilização exacerbada do dispositivo, ampliando-se o controle estatal e, de certa forma, restringindo de maneira exagerada as garantias e direitos fundamentais dos cidadãos.

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