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4 Resultados e Discussão

4.3 Habilidades Desenvolvidas pelos Docentes na Incorporação dos Cadernos Didáticos

4.3.3 Classe 03: Cadernos Didáticos

A classe 03 foi denominada de “Cadernos Didáticos”, pois o conteúdo desta classe apresenta forte relação com a forma como o professor utiliza os cadernos didático. Esta categoria está muito relacionada com os saberes da formação profissional, incluindo os dois subgrupos apontados por Tardiff (2005b): os saberes das ciências da educação e os saberes pedagógicos.

Esta classe foi subdividida nas seguintes subclasses:

1. Inadequação ou falta de compreensão das situações de aprendizagem? 2. Forma de uso dos cadernos didáticos.

4.3.3.1 Inadequação ou falta de compreensão das situações de aprendizagem? Outro ponto que aparece nas entrevistas é sobre a complexidade das atividades. O relato do participante 04 aponta que algumas questões presentes nos cadernos são muito difíceis de serem resolvidas, já outras, são tão fáceis que se tornam vazias de significado para os alunos.

Participante 04: “E também, às vezes, ali aparecem questões que realmente são difíceis para os alunos. Às vezes tem algumas coisas muito assim, que o

pessoal fala “nossa, que questão idiota”, que é muito fácil, tá muito na cara.

Às vezes a gente pensa que está. Mas não está. E, por outro momento, tem coisa muito difícil, que eles não entendem, aí você tem que estar

trabalhando com eles para chegar a uma resposta.”

Podemos questionar se as questões estão realmente difíceis ou fáceis demais para os alunos ou se a forma de condução da atividade pelo professor não proporcionou o devido comprometimento e compreensão por parte dos alunos. Nas entrevistas, uma das situações de ensino comentada pelos professores demonstrou opiniões divergentes, como se vê nos trechos apresentados a seguir, com os discursos de cada um dos professores.

Participante 03: Porque tem coisas que é muito fácil assim, para o aluno, ele fala assim - Nossa! Mas é muito fácil! - daí eles largam mão. Por exemplo: o caderno do segundo ano do ensino médio pergunta assim [...] tem um desenhinho lá, tem um homem sentado no banco, um prédio, um riozinho e pergunta - qual é ser vivo? qual é ser não vivo? - isso é coisa para uma criança de quinta [...] nem quinta série, minha filha está no terceiro ano e faz isso - o que é um ser vivo, o que é um ser não vivo - então, eu acho que o que eles falam que é atividade de investigação inicial, eu acho que essas atividades deveriam ser um pouco mais elaboradas, porque o alunos falam - nossa, mas que coisa boba - daí eles perdem um pouco o interesse e daí até você [...] é eu acho que deveria ser um pouco mais interessante pra eles.

Participante 04: Sim, parece óbvio, mas, no entanto, a hora que eles vão fazer a atividade, eles não conseguem, aquilo que é tão obvio, mas eles não conseguem colocar no papel o porquê daquela resposta. Então, tem um caderno do segundo ano, que tem um painel, onde tem vários elementos, como por exemplo: um gato, cachorro, o homem, o cavalo, tem água, tem pássaro, tem carro, um CD, estas coisas todas. Aí eles têm que classificar aquilo, assinalar o que é um ser vivo e o que não é um ser vivo. E, eles

muitas vezes falam “Professora, isso aqui é um ser vivo?”, e eu não

acredito, às vezes, até planta eles não sabem. Eles frequentam o primeiro colegial e não sabem o que é um ser vivo. E a gente fica, puxa vida né. E daí vem o questionamento, por que você escolheu esse grupo aqui como um ser vivo, que características tem que estar presentes. Às vezes eles sabem e não conseguem juntar, ou seja, relacionar tudo aquilo que eles aprenderam, para resolver aquele determinado problema.

A questão inicialmente parece simples, mas se não for tratada com a devida atenção, os alunos seguirão adiante sem formar conceitos essenciais.

Embora a maioria dos professores entrevistados planeje suas aulas, há ainda um passo a ser dado no que diz respeito a forma de aplicação das estratégias propostas nos cadernos didáticos. Pois se a estratégia de ensino proposta não cabe no contexto de aplicação, ela precisa ser revista, pelo próprio professor; desde que se tenha tido um esforço por compreender a forma e os propósitos de tal estratégia.

O participante 05 relatou o quanto seus alunos apresentam dificuldades para aprender. Descreve a comunidade em que vivem como sendo muito carente e com problemas sociais graves. Isto faz com que as situações de aprendizagem apresentadas pelo caderno didático se mostrem inadequadas ao contexto. Percebe-se que este participante faz um esforço em enriquecer suas aulas com atividades que apoiem mais os alunos a enfrentarem a sua realidade. Nem por isso, deixa de seguir os conteúdos curriculares e de utilizar o caderno.

Participante 05: Então, a gente agora [...] esse ano não é necessariamente só ele, então a gente complementa com livros. O caderno do aluno ou apostila - como eles são chamados – o caderno do aluno, eles trazem, então tem um conteúdo diário que você dá, mas você tem a atividade fora também, para fazer em casa. Então, o conteúdo, junto com ele, o caderno do aluno, a gente não usa só isso aí, a gente pega outras coisas, agora tem laboratório, nós levamos os alunos ao laboratório, então eles tem aula prática. Então caderno do aluno é uma maneira dele ter aquele ritmo, o conteúdo a ser seguido, mas ele não é único.

Na execução das situações de aprendizagem propostas pelo caderno didático, os pressupostos pedagógicos que o professor traz consigo, podem alterar a forma como a própria situação de aprendizagem é entendida. Num modelo pedagógico tradicional, o professor tem uma sequência didática a ser cumprida. Deve-se apresentar o conteúdo e depois, os alunos exercitam. Entretanto, no modelo da escola nova (SHIGUNOV NETO e MACIEL, 2009), o professor deve ter um olhar voltado para o aluno, conduzindo sua aprendizagem. Para uma prática significativa não basta transmitir um conteúdo, é preciso fazer com que o aluno avance gradualmente em direção a compreensão do conteúdo.

4.3.3.2 Forma de uso dos cadernos didáticos

Participante 11: Primeiro, em casa, eu leio o caderno do professor, então eu