• Nenhum resultado encontrado

2.1 Panorama geral das migrações humanas

2.1.3 Classificação das migrações

Neste momento, faz-se importante ressaltar as classificações básicas da mobilidade humana, em termos gerais e introdutórios, visto que encontra-se no senso comum uma grande alternância dos termos abaixo descritos, por isso, é importante esclarecê-los.

Quanto à classificação e tipificação do fenômeno migratório (Tabela 2), existe a migração nacional, que ocorre entre os estados do mesmo país e a migração internacional ou transnacional, que ocorre entre países diferentes (MARTINE, 2005; MORAIS; QUEIROZ, 2017).

Tabela 2. Classificação quanto à tipificação do fenômeno migratório

MIGRAÇÃO NACIONAL quando as pessoas migram entre os estados

de um mesmo país

MIGRAÇÃO INTERNACIONAL

quando as pessoas migram de um país para o outro

A migração que é o enfoque desta dissertação é a migração internacional, também chamada de transnacional, cuja denominação engloba ―fenômenos distintos, com grupos sociais e implicações diversas‖ (PATARRA, 2006, p. 9), da mobilidade humana que cruza as fronteiras dos Estados-nação, movimento esse que traz desafios a serem vencidos por todos os atores envolvidos.

Ao se classificar o migrante do ponto de vista do país de onde ele está partindo (Tabela 3), ele é considerado emigrante e do ponto de vista do país que o recebe ele é imigrante (RUIVO, 2006; SILVA, 2011).

Tabela 3. Classificação geral do migrante

EMIGRANTE Aquele que parte de um local para morar em

outro

IMIGRANTE Aquele que chega em um local para morar

Fonte: Elaboração do autor, 2020.

Quanto às razões para migrar, há duas categorias básicas de migrantes (Tabela 4): a dos migrantes por opção, que são os que optam por migrar, por motivos diversos; e a dos migrantes obrigatórios, que são aqueles forçados a deixar seu lugar de origem por motivos alheios à sua vontade (OJIMA; NASCIMENTO, 2008).

Tabela 4. Classificação do migrante quanto às razões para migrar

MIGRANTE POR OPÇÃO Aquele que opta partir de seu lugar para outro, por motivos diversos

MIGRANTE OBRIGATÓRIO Aquele que é forçado a deixar seu lugar por

motivos alheios à sua vontade (guerras, perseguições, mudanças climáticas)

Dentre os migrantes obrigatórios, existem diversos motivos para essa migração, tais como os econômicos, de guerra e segurança e pelas questões ambientais, como a das tragédias dos comuns6 (HARDIN, 1968), também conhecida por tragédias dos bens comuns (CASTRO, 2018), referentes às interferências antrópicas no ambiente (CLARO, 2012).

A Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que em 2018 mais de 258 milhões de pessoas eram migrantes internacionais, provindos de vários países do mundo, isto é, indivíduos que moravam num país diferente de onde nasceram (ONU, 2018). O relatório referente a dados de 2017, apontava que

a maioria desses migrantes se desloca entre países de maneira segura, ordenada e regular. As Nações Unidas calculam que o número total de migrantes internacionais cresceu 49% desde 2000, superando a nível mundial taxa de crescimento populacional, que é de 23%. Como resultado disso, a taxa de migrantes pulou de 2,8 % para 3,4% da população mundial (ONU, 2018 - tradução do autor).

Dados do relatório de 2020 da International Organization For Migration (IOM) - Organização Internacional para Migração, uma das organizações da ONU que trata de mobilidade humana, referente a dados coletados em 2019, o número global de migrantes internacionais em 2019 era de 272 milhões de pessoas, o que representa 3,5% da população mundial (IOM, 2020). O relatório aponta ainda que

dentre os migrantes internacionais 52 % são homens, 48 % são mulheres e 74% dentre todos os migrantes internacionais estão em idade de trabalho (20-64 anos) (IOM, 2020, p. 3).

Além disso, o relatório destaca que grande parte da migração ocorre devido a conflitos, eventos climáticos e crises econômicas, afetando em grande parte mulheres e crianças, que são 6 em cada 10 migrantes.

Dos 5 continentes, a África é apontada como o continente com segunda maior densidade demográfica (ONU, 2020b), atribuída em grande parte à deficiências em relação ao controle de natalidade e situação social, mas esse crescimento populacional, é ―no entanto, suavizado pela grande emigração africana para outras regiões, especificamente Europa e Ásia‖ (IOM, 2020, p. 24).

6

Do inglês Tragedy of commons, onde commons no contexto ambiental não significa comuns, como no sentido literal, e sim ―bens comuns‖, ao apontar como o indivíduo age para com os recursos naturais em favor apenas de si, não levando em conta o impacto negativo causado aos demais que também necessitam daquele recurso.

Patrício e Peixoto acrescentam, ainda conforme dados fornecidos pela ONU, que, ―considerando as grandes áreas geográficas do mundo, o volume da migração sul-sul ocupa o lugar cimeiro, com 38%, seguido da migração sul-norte, com 35%, norte-norte, com 22%, e norte-sul, com 6%‖ (PATRÍCIO; PEIXOTO, 2018). Essa denominação de ―áreas opacas para as áreas luminosas‖ é uma referências simbólicas que representam a direção dos fluxos humanos de regiões não- desenvolvidas para regiões desenvolvidas. Observa-se que ocorrem geralmente no sentido periferia-centro, sul-norte e oeste-leste (PATRÍCIO; PEIXOTO, 2018), já que pessoas e grupos migratórios estão normalmente em busca de subsistência, melhor qualidade de vida, segurança, estabilidade, educação, elementos mais comuns em regiões desenvolvidas (BHAGWATI, 2004).

Segundo Etges e Carissimi (2014), zonas ou territórios denominados opacos são aqueles que apresentam e divulgam poucos dados a respeito de si, portanto com poucas informações comunicacionais, o que lhes dá uma condição de pouca atratibilidade aos que estão migrando. Já o nome de territórios luminosos é dado àqueles que ―acumulam densidades técnicas e informacionais e, portanto, se tornam mais aptos a atrair atividades econômicas, capitais, tecnologia e organização‖ (ETGES; CARISSIMI, 2014, p.45). Do ponto de vista da divulgação de dados, os autores acrescentam que os territórios luminosos ―apresentam densidade de informação e conhecimento do território‖ (ETGES; CARISSIMI, 2014, p.45). É o mesmo que Santos (1999) denomina de zonas luminosas, referindo-se do ponto de vista de desenvolvimento, a territórios que atraem pessoas, empresas e capital, por competirem ―vantajosamente com as que deles não dispõe‖ (SANTOS, 1999, p. 194).

Essas denominações estão diretamente relacionadas aos desenvolvimentos, endógeno, que ocorre internamente, ou exógeno, que ocorre de dentro para fora, já que as micro-migrações e as macro-migrações (Tabela 5) acontecem usualmente em busca de melhorias, como dito anteriormente (PEREIRA; TUMA FILHO, 2012).

Tabela 5. Classificação da migração quanto ao volume de pessoas

MICRO-MIGRAÇÃO migração de indivíduos

MACRO-MIGRAÇÃO migração de populações (coletivas)

Fonte: Elaboração do autor, 2020.

Ainda é importante destacar o enorme fluxo dos migrantes ilegais, a exemplo de muitos brasileiros que costumam emigrar para os Estados Unidos, cujas ações migratórias, segundo Silva (2011)

são iniciativas desvinculadas dos incentivos governamentais e, em certa medida, desestimuladas, uma vez que expõem seus agentes a condições de vulnerabilidade, pelo fato que a grande maioria permanece ilegal nos países aos quais se destinam e alguns se aventuram em travessias arriscadas, caso das tentativas de entrada nos Estados Unidos (SILVA, 2011, p. 33).

Desde o contexto da descolonização no Século XIX, culminando com o desenvolvimento da globalização no Século XX (SAID, 2011), o fenômeno de grandes deslocamentos humanos vem sendo observado, marcado especialmente pela entrada de milhões de imigrantes nos EUA e na Europa nas últimas décadas, e que os deslocamentos atuais se dão especialmente nos sentidos sul-norte e leste- oeste (Figura 6).

Figura 6: Infográfico dos recentes fluxos migratórios no mundo de 2010-2015

No infográfico de fluxo7 acima, produzido por Max Galka (2020), os recentes fluxos migratórios no mundo foram rastreados e ilustrados, a partir da localização das migrações, baseadas em dados da Divisão de População da ONU entre 2010- 2015. O infográfico procura responder aos seguintes questionamentos: 1) Quantos migrantes existem? 2) De onde eles estão vindo? 3) Para onde vão? Os círculos azuis permitem de forma on line verificar as estatísticas de cada país. As zonas em vermelho representam territórios onde houve perda de população no recorte temporal. As zonas em azul representam territórios com ganho de população (AD, 2020)

Cabe ressaltar que o fator ambiental é um importante aspecto relacionado à migração humana, pois parte dos fluxos migratórios decorrem de questões ambientais e igualmente impactam o ambiente, as sociedades e consequentemente as culturas. Adger et al. (2015) afirmam:

Para os indivíduos, o meio ambiente e seu papel em suas vidas e experiências, é um fator na decisão de mudar de local. Enquanto muitos trabalhos se concentram no lado negativo dos riscos ambientais como motivações para impulsionar a migração, o meio ambiente como recurso e conjunto de serviços também pode explicar por que a população às vezes vai para um lugar, mesmo quando há riscos ambientais. Muitas vezes isso se dá devido a oportunidades econômicas em outros lugares (Adger et al., 2015, p.4 - tradução do autor).

A seguir, será explanada a classificação dos principais tipos de imigrantes.