• Nenhum resultado encontrado

2.3 Teorias do Envelhecimento

2.3.2 Classificação das teorias do envelhecimento

2.3.2.6 Classificação das Teorias por Gerações

Recentemente, as teorias sociológicas sobre o envelhecimento começaram a ser classificadas por um critério de gerações, organizando-se de acordo com várias gerações a que pertencem (Freitas et al, 2002).

A

Teorias de 1ª geração

As Teorias de 1ª geração compreendem teorias elaboradas entre os anos 1947 e 1969, em que a unidade de análise é o indivíduo, sendo tratados factores como papéis sociais e normas, de forma a explicar como se dá o ajustamento ao inevitável declínio decorrente do envelhe- cimento. Eram propostos modelos de aplicação universal, não-dependentes do contexto e dos factores sociais.

Estas abarcam várias sub categorias: Teoria de Desengajamento ou Afastamento; Teoria da Atividade; Teoria da Modernização; Teoria da Subcultura.

Na Teoria de Desengajamento ou Afastamento, considera-se que durante o processo de envelhecimento as pessoas vão experimentando uma separação gradual da sociedade, com uma diminuição da relação com o meio, acentuando-se com a entrada na reforma, pelo afas- tamento da pessoa da vida ativa.

Na Teoria da Atividade, é considerado que o indivíduo, ao envelhecer, vai-se deparando com mudanças físicas, psicológicas e sociais, mas onde as necessidades psicológicas se man- têm. É reforçada a necessidade de os orientar para as áreas de lazer e da educação não- formal, para a promoção do bem-estar na velhice.

Esta é uma das poucas teorias que alerta para a necessidade da sociedade reconhecer o “valor da idade” e atribua assim os idosos novos papéis, valorizados, e se possível remune- rados39. De facto, as pessoas mais adaptadas e que sobrevivem mais anos em melhores con- dições, são aquelas que mais atividades têm, seja na atividade que possuíam, seja numa outra, a gosto do idoso. Como saúde não é só a ausência de doença, mas o bem-estar físico, psíquico e social (definição da OMS), podemos concluir que quantas mais atividades os idosos realizem mais possibilidades têm de estar satisfeitos com a vida, com a sociedade e consequentemente, com mais saúde.

39 Não só por necessidade económica, mas porque a nossa sociedade valoriza o trabalho remunerado, mais do que

A Teoria da Modernização procura explicar a relação entre a modernidade e as mudanças nos papéis sociais e no status das pessoas idosas, considerando que esse status está relaciona- do com o grau de industrialização da sociedade. A justificação é de que nas sociedades pré- industriais os idosos possuiam status, pois tinham o controlo de recursos, como o conhe- cimento da tradição, enquanto que agora, nas sociedades industrializadas e do conheci- mento, a tendência é de perda desse status.

Esta diminuição do status significa a redução nos papéis de liderança, de influência e decisão, bem como o “desengajamento do idoso da sua comunidade”, como nos diz Maria Eliane Siqueira in Freitas et al (2002).

Na Teoria da Subcultura, os idosos desenvolvem uma cultura própria, que se reflete em crenças e interesses comuns desse mesmo grupo etário, tais como cuidados de saúde, exclusão social, etc. como refere também Maria Eliane Siqueira:

"As que dizem respeito à restrição de oportunidades de integração com outros grupos etários e à existên- cia de políticas segregacionistas, exemplificadas por conjuntos residenciais para idosos e centros de convívio e outras práticas sociais que tendem a congregar os idosos num mesmo contexto".

B

Teorias de 2ª geração

As chamadas Teorias de 2ª geração abrangem as desenvolvidas entre os anos de 1970 e 1985. Nestas, o relevo é dado ao nível macrossocial, mostrando-se que as transformações nas condições sociais influenciam o processo de envelhecimento e a situação dos idosos como categoria social, dando maior realce às estruturas sociais e menos aos aspetos individuais do envelhecimento. Podemos aqui incluir a Teoria da Continuidade e a Teoria do Colapso de Competência.

Na Teoria da Continuidade procura-se explicar como as pessoas idosas tentam manter as suas estruturas psicológicas internas (memória) e externas (conhecimento do ambiente físico e social, das relações estabelecidas no exercício de papéis sociais). Procura-se também mostrar que os hábitos, gostos e estilos pessoais, adquiridos ao longo da vida, persistem na velhi- ce, sendo fácil avaliar a vida presente de um idoso tendo em conta a sua vivência ante- rior.

Maria Eliane Siqueira in Freitas et al (Freitas et al, 2002). refere:

"A teoria vem sendo utilizada para explicar a complexidade do processo de adaptação ao envelheci- mento nas sociedades contemporâneas. Ganha importância ao ressaltar o significativo número de ido- sos que, por desvantagens em estádios anteriores da vida, não desenvolvem condições para a continui- dade. Essas desvantagens são, entre outras, baixo nível educacional, baixa renda, poucas relações sociais e alta mobilidade geográfica, factores que levam o idoso à descontínuidade e a uma vivência negativa do envelhecimento".

Na Teoria do Colapso de Competência, pretende-se explicar a interdependência entre as pessoas idosas e o seu mundo social, estudando a visão negativa que os mais idosos têm de si mesmos e da imagem que lhes transmitem os que com eles vivem e/ou convivem. As perdas que vão surgindo, como a perda de saúde ou a perda do cônjuge, afetam a chamada “competência social do idoso”, e podem levar a uma espiral crescente de resultados negati- vos.

C

Ligações entre as 2ª e 3ª gerações

A autora Maria Eliane Siqueira apresenta, ainda, como teorias de 2ª geração e já com carac- terísticas de 3ª geração, as seguintes teorias: Teoria da Troca, Teoria da Estratificação por Idade e Teoria Política-Económica do Envelhecimento.

Na Teoria da Troca, o idoso é forçado a afastar-se das interações sociais porque possui pou- cos recursos em comparação com os jovens (menos estudos, menores salários, menos saú- de).

Quanto à Teoria da Estratificação por Idade (Bengtson V., 2008), efetuaram diversos estu- dos, apresentando esta teoria como um paradigma, denominando-o "envelhecimento social". Consideram os autores que as várias mudanças que ocorrem na vida das pessoas, influen- ciam e são influenciadas por mudanças ocorridas nas estruturas sociais e instituições.

Na Teoria Política-Económica do Envelhecimento, propõe-se que a partir da análise das políticas públicas podemos chegar à compreensão do status dos idosos. Estudam-se concei- tos relativos às tendências económicas, factores sócio-estruturais, constrangimento estrutu- ral, controlo de recursos sociais, marginalização, classes sociais.

D

Teorias de 3ª geração

As teorias chamadas de 3ª geração agrupam teorias muito diversas, mas todas elas reconhe- cem que as pessoas idosas são atores ativos e não passivos do seu próprio processo de enve- lhecimento. Estas fazem a ligação entre as restrições sociais, os significados culturais e indi- viduais e as forças sociais, procurando demonstrar que o envelhecimento é um processo vivencial que não acontece de forma isolada, sendo fortemente influenciado pelas condições circundantes.

Assim, faz parte desta classificação a Teoria do Construcionismo social, a qual reflete uma análise microssocial, evidenciando o comportamento do indivíduo dentro da estrutura da sociedade. Aqui surgem conceitos relativos a questões muito diversas, mas interligadas, como o significado e as realidades sociais, as relações sociais no envelhecimento, as atitu- des da pessoa perante a idade e o seu próprio envelhecer, os acontecimentos da vida e a sua temporalidade.

Também a Teoria Perspectiva do Curso de Vida é considerada de 3ª geração, baseando-se em estudos ao nível micro e macrossocial. Nesta, considera-se todo o processo de vida, em vez de se focar apenas nos estudos sobre a velhice, esta teoria considera, ou seja desde o nascimento até à morte.

Aqui, o envelhecimento é considerado como um processo simultaneamente de caráter social, psicológico e biológico. A teoria baseia-se na ideia de que as experiências do envelhecimento do presente são o resultado do passado, das situações de corte, como por exemplo “casar ou não”, “ter ou não ter filhos”. Cada uma destas opções, no pas- sado, influenciam a forma de envelhecer.

As Teorias Feministas do Envelhecimento também podem ser incluídas nas teorias de 3ª geração. Aqui, há uma integração dos níveis micro e macrossocial de análise, dan- do relevo especial às ligações entre a pessoa e a estrutura social. As relações de poder são destacadas, com análises a nível microssocial da rede social, dos cuidado- res, das famílias dos idosos e dos significados sociais e as identidades no processo de envelhecimento. Quando ao nível macrossocial, faz-se o estudo da estratificação por género (sexo), e da estrutura de poder das instituições sociais.

Na Teoria Crítica, são destacadas duas dimensões, a estrutural e a humanística. São apresentados os conceitos de poder e de ação social.