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3. Materiais e Métodos

3.1.1 Técnicas de recolha de dados

É muito raro que um investigador encontre uma técnica de recolha de dados já adaptada aos seus objetivos e pronta a ser utilizada. Na maioria dos casos o investigador terá que construir o seu instrumento de recolha de dados. A escolha de uma técnica e de um ins- trumento em particular depende, entre outros aspetos, do tipo de informação que se pre- tende e do tempo de que se dispõe para a recolher. A grande preocupação a ter em conta na construção de um instrumento de recolha de dados é procurar reduzir a possibilidade de cometer erros.

Existem diversos tipos de técnicas, sendo as principais (Quivy, R. Campenhoudt, L. 2003): observação direta, experimentação, análise documental, análise de fontes oficiais, análise secundária de dados antigos (um caso particular da análise documental), procedi- mentos particulares (recurso à experiência pessoal, autobiografia…), entrevistas e questio- nários escritos.

Uma técnica deve possuir as seguintes qualidades (Caplow, Theodor, 1970): fidelidade e validade. Diz-se que uma técnica tem fidelidade quanto está apta a fornecer uma medida constante de um fenómeno constante. Se o fenómeno que se deseja medir não variar entre duas aplicações na mesma técnica à mesma realidade, a medida que obtemos também não deve variar. Uma técnica tem validade se está apta a medir aquilo que é suposto medir. Neste caso, a técnica é comparada com outras técnicas que podem medir o mesmo fenó- meno ou com outras fontes de informação. Várias hipóteses podem surgir: Uma técnica pode ser fiel sem ser válida, isto se fornecer resultados constantes mas não medir o que é suposto medir; mas não pode ser válida sem ser fiel, pois se medir mesmo um certo fenó- meno, então, se este for constante, a sua medida deve ser obrigatoriamente constante. A entrevista é uma técnica de recolha de dados do tipo qualitativo e de larga utilização em investigação. Desenvolve-se na forma de uma conversa intencional, de uma forma geral, entre duas pessoas, com o objetivo de obter diretamente informação sobre uma das pes- soas, o que permite uma abordagem mais profunda do indivíduo. “As entrevistas são utilizadas para transformar em dados a informação directamente comunicada por uma pessoa (ou sujeito)” (Tuck- man, B.W., 2000).

Estas têm portanto a finalidade de extrair determinada informação do entrevistado a partir de uma conversa com o entrevistador, fornecendo-lhe, pela linguagem, os seus pontos de vista, as suas experiências e as suas convicções.

Em conjunto com a observação participante, análise de documentos e outras técnicas (Bogdan, R & Biklen, S.K. 1994), esta técnica é muitas vezes utilizada como estratégia dominante para a recolha de dados e “Para examinar conceitos, relações entre variáveis e conceber hipóteses também pode ser utilizada como método exploratório” (Fortin, 1999).

Uma variante da entrevista, é a entrevista semi-estruturada, em que é criado previamente um guião, o qual servirá de orientação. Todos os revistados respondem às mesmas ques- tões mas possuem um grau de liberdade na escolha da ordem das respostas. Trata-se de uma técnica útil para estudar grupos de pessoas, sendo possível, na sua aplicação, serem introduzidas novas questões que entretanto se mostrem pertinentes.

(Bell, J. 1997) apresenta a grande vantagem da entrevista “a sua adaptabilidade e a pouca direti- vidade, respeitando-se assim os interlocutores” (Quivy, R. Campenhoudt, L. 2003). A entrevis- ta pode ser utilizada, em geral, por todos os setores da população pois permite uma eleva- da taxa de resposta e os erros de interpretação são mais facilmente detetáveis. Como refere Fortin (Fortin, 1999) “É uma técnica mais eficaz na descoberta de informações sobre temas complexos e carregados de emocão”.

Este autor apresenta algumas limitações da entrevista, resultado da sua elevada flexibili- dade, o que pode ser negativo, quando gera conversas e divagações por parte do entrevis- tado. Exige, ainda, muito tempo e um trabalho elaborado de codificação e de análise dos dados. Não deve portanto ser aplicada a grandes universos.

Apresenta-se, em seguida, algumas comparações de algumas técnicas usadas na pesquisa sociológica (Almeida, J.F. 1994).

O Inquérito por questionário torna possível a recolha de informação sobre grande número de indivíduos, permite comparações precisas entre as respostas dos inquiridos e possibilita a generalização dos resultados da amostra à totalidade da população. Aqui, o material recolhido pode ser superficial e a padronização das perguntas não permite captar diferen- ças de opinião significativas ou subtis entre os inquiridos. Além disso, as respostas podem dizer respeito mais ao que as pessoas dizem, do que ao que efetivamente pensam.

Quanto à entrevista, esta permite um aprofundamento da perceção do sentido que as pes- soas atribuem às suas ações, torna-se flexível porque o contato direto permite explicitação das perguntas e das respostas. Contudo, é menos útil para efetivar generalizações, pois o que ganha em profundidade perde-se em extensividade. Esta técnica implica interações diretas e as respostas podem ser condicionadas pela própria situação da entrevista.

Relativamente à análise documental, esta pode traduzir-se em informação diversa de acor- do com as características do documento, quer sobre informação muito abrangente (estatís- ticas, por exemplo), quer sobre informação em profundidade (temas específicos). Fica-se dependente das fontes que existem e da sua melhor ou pior qualidade, verosimilhança, representatividade, etc. A quantidade de informação recolhida é em geral enorme e disper- sa, o que exige tratamento e análise mais demorados.aquiii

Quanto à pesquisa de terreno (técnica chamada de observação participante), esta garante uma informação rica e profunda e permite flexibilidade ao investigador porque possibilita mudar de estratégia e seguir novas pistas que entretanto possam aparecer. Esta só pode ser

usada para estudar pequenos grupos ou comunidades, pois levanta dificuldades de genera- lização.

Outras técnicas não documentais existem, tais como a Sondagem e os Testes sociométri- cos, contudo sem relevância para o presente estudo.