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2. O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA PAUTA PRINCIPIOLÓGICA

2.5. CLASSIFICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

A classificação dos princípios constitucionais não é homogênea uma vez que existe uma enorme gama dessas normas, as quais contêm diversas características, o que dificulta uma categórica classificação. Tais classificações orientam-se de modo geral pelo critério de generalidade e positividade, partindo dos princípios gerais do Direito, depois os que se referem a uma determinada concepção político social, e finalmente os mais específicos, dotados de uma maior precisão.

Canotilho divide os princípios constitucionais em quatro categorias: princípios jurídicos fundamentais, que antes mesmo de serem apreciados como princípios específicos do Direito Constitucional são princípios gerais do direito, a exemplo do princípio da publicidade e da proporcionalidade; princípios políticos constitucionalmente conformadores, que são

princípios constitucionais que explicitam as valorações políticas fundamentais, nucleares, do legislador constituinte, a exemplo do princípio democrático e do princípio repubicano; princípios constitucionais impositivos, que são os que, sobretudo no âmbito da constituição dirigente impõem aos órgãos do estado a realização de fins e execução de tarefas, a exemplo da redução das desigualdades regionais; e, os princípios-garantia, que são os princípios de maior densidade normativa e menor grau de vagueza, permitindo o estabelecimento direto de garantias para os cidadãos, a exemplo da legalidade estrita em matéria criminal40.

José Afonso da Silva, por sua vez, divide os princípios da Constituição brasileira basicamente em duas categorias: a dos princípios político-constitucionais e a dos princípios jurídico-constitucionais. Os princípios político-constitucionais são as decisões fundamentais do legislador constituinte sobre a existência política da nação, concretizadas em normas conformadoras do sistema constitucional positivo, das quais decorrem as normas reguladoras das relações da vida social. Encontram-se materializados nos artigos 1º ao 4º da Constituição Federal de 1988 e dizem respeito à existência, forma, estrutura e tipo de Estado; à forma de governo e à organização dos poderes; à organização da sociedade; ao regime político; à prestação positiva do Estado; e à comunidade internacional. Já os princípios jurídico- constitucionais compreendem aqueles princípios constitucionais gerais que informam a ordem jurídica nacional, muitas vezes derivados dos princípios fundamentais, a exemplo do. princípio da supremacia da Constituição, da legalidade, os chamados princípios-garantias que figuram no art. 5º da Carta Magna 41.

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CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed. Coimbra: Almedina, 2003. p. 1165-1177.

Considerando o grau de importância e a abrangência, Luís Roberto Barroso triparte os princípios constitucionais em: princípios fundamentais, que constituem as normas provenientes das decisões políticas e que estruturam o Estado, sendo assim, o fundamento da organização política do Estado e núcleo imodificável do sistema, servindo de limite às alterações constitucionais; princípios constitucionais gerais, que são aqueles derivados dos princípios fundamentais, ou seja, constituem desdobramento desses e equivalem aos princípios-garantia de Canotilho, encontrando-se mais concentrados no artigo 5º da Constituição Federal; e, princípios setoriais ou especiais, que dizem respeito a um determinado tema, capítulo ou título da Constituição e, portanto, irradiam-se sobre um limitado número de normas; podem ser autônomos, como o princípio da anterioridade em matéria tributária ou podem consistir em densificações dos princípios gerais, como o princípio da legalidade penal42.

Aponta a doutrina que os princípios jurídicos podem estar expressamente enunciados em normas explícitas ou podem ser descobertos no ordenamento jurídico, sendo que, neste último caso, eles continuam possuindo força normativa. Ou seja, não é por não ser expresso que o princípio deixará de ser norma jurídica. Reconhece-se, destarte, normatividade não só aos princípios que são, expressa e explicitamente, contemplados no âmago da ordem jurídica, mas também aos que, defluentes de seu sistema, são anunciados pela doutrina e descobertos no ato de aplicar o Direito43.

Apesar disto, acredita outra parte da doutrina que o mais prudente é que os princípios sejam, na medida do possível, expressos, a fim de que se prestigiem a segurança jurídica e a

42 BARROSO, Luis Roberto. Revista Jurídica n 7. p. 17-39. CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito

Constitucional. 12 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p. 446-447.

43 ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de Princípios Constitucionais. Revista dos Tribunais, São Paulo, 1999,

harmonia sistemática do direito44. Isso não nega, porém, a existência de princípios que embora não expressos, podemos considerar implícitos no ordenamento jurídico. Apenas alerta para que em meio de tantas preposições que se incluem entre os princípios gerais o mais prudente é recorrer ao ordenamento jurídico positivo para determina-los, especialmente a Constituição que, como norma fundamental e norteadora do ordenamento jurídico, é a instância onde devemos refletir sobre os princípios.

Enumeram-se alguns princípios que, embora não expressos no texto constitucional ou em qualquer outro diploma escrito, são de comum observância: princípio da supremacia da Constituição, princípio da unidade da Constituição, princípio da continuidade da ordem jurídica, princípio da interpretação conforme a Constituição.

Percebe-se que os princípios, enquanto normas jurídicas podem fundamentar autonomamente uma pretensão em juízo, mesmo que implícitos, não ferindo as condições da ação, mais especificamente à possibilidade jurídica do pedido45.

Aliás, é interessante notar que a própria Constituição pátria vigente positiva este entendimento quando afirma no Artigo 5º, § 2º que os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte46.

Por outro lado, sabe-se que em uma sociedade marcada pelas notas da diversidade e da pluralidade e que repousa suas bases nos ideais democráticos, valores heteregôneos, senão

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ROCHA, José de Albuquerque. Teoria Geral do Processo. 7 ed. Editora Atlas: São Paulo, 2003.

45 COSTA, Flávio Ribeiro da. A força normativa dos princípios constitucionais. Boletim Jurídico, Uberaba/MG,

a. 5, nº 195. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=1543> Acesso em: 11 dez. 2007.

46 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

contraditórios ou concorrentes, são plasmados na Norma Fundamental, ganhando assim o timbre da juridicidade constitucional. Com efeito, a Constituição figura como depositário de ideologias e convicções várias que devem ser respeitadas como corolário de um Estado Democrático consagrador da igualdade jurídico-material. Isso já seria suficiente para não compreender a Constituição como um complexo fechado ou hermético. Portanto, de antemão, há de se ter em vista a abertura da Lei Maior, impulsionada pela textura diferenciada dos princípios constitucionais como elementos de alta relevância para sua maior capacidade de acomodação e atualização frente ao nascimento de novos conceitos e valores adjacentes a um corpo coletivo47.