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A relação entre os usos da água e objetivos de qualidade almejados são representados pela classificação dos corpos hídricos.

O agrupamento em Classes de Uso, fundamentado nas qualidades da água comuns entre os diversos usos, é comumente utilizado para a expressão dos objetivos de qualidade da água e definição das ações estratégicas (PORTO, 2002).

A classificação dos corpos de água é a combinação entre os objetivos de qualidade e os padrões ambientais, ou critérios de qualidade, os quais podem ser definidos para cada classe de uso ou diretamente pelos usos designados.

A classificação pode servir aos seguintes propósitos (PORTO, 2002):

I. Permitir a diferenciação entre trechos de rio com usos diferenciados: os trechos são classificados de acordo com os usos e cada um terá seu conjunto de objetivos de qualidade e padrões ambientais a serem obedecidos para o alcance da qualidade hídrica; método adotado no Brasil (um conjunto de objetivos reunidos sob uma classe); II. Medir a aderência da qualidade do corpo hídrico ao objetivo único (global) designado,

caso da Inglaterra e País de Gales;

III. Distinguir apenas dentre um uso específico, outros usos derivados, por exemplo, se o uso é recreação, as classes distinguem entre recreação de contato primário e recreação de contato secundário, caso do Estado do Colorado nos EUA.

O esquema adotado seja por classes de uso ou pelos usos diretamente, remete a um importante instrumento de planejamento para a integração da gestão da quantidade e da qualidade da água em uma bacia hidrográfica, denominado de enquadramento dos corpos hídricos, processo global que é constituído pelas seguintes etapas:

I. definição dos usos da água;

II. definição dos objetivos de qualidade;

III. estabelecimento dos padrões ou critérios a serem atendidos.

O tema enquadramento sendo a base de desenvolvimento desta dissertação, é um instrumento pouco entendido, merecendo um devido destaque. Além disso, ajudará a compreender porque é necessário algo que auxilie na sua aplicação.

5 O ENQUADRAMENTO COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO

O enquadramento de corpos hídricos é um instrumento de gestão cuja implementação não é simples. Os principais problemas para realização dos enquadramentos são a insuficiente capacitação técnica, metodologia pouco entendida e falta de coordenação nas ações de gestão (SRH/MMA, 1999 apud ANA, 2005a).

No estudo realizado pela Secretaria de Recursos Hídricos (SRH/MMA, 1999 apud ANA, 2005a), uma série de medidas deve ser tomada para sanar estas dificuldades, dentre elas destacam-se:

• a criação de fundos e mecanismos de apoio técnico e financeiro às atividades de enquadramento;

• o apoio à formação de comitês; • a criação de Agências de Bacia;

• a ampliação da rede de monitoramento de qualidade de água.

Deve-se ressaltar que o enquadramento, além de ser um instrumento de difícil entendimento, é um processo que envolve um extenso diagnóstico da bacia para determinar os usos atuais e futuros associados à vocação e às características sócio- econômico-culturais da região, além de estudos hidrológicos envolvendo a quantidade e a qualidade da água. Portanto, é essencial que sejam facilitadas as informações que servirão de base para o processo decisório.

Existe a necessidade de criação de programas de capacitação técnica para a realização dos enquadramentos, pois em muitos casos a definição do enquadramento não leva em conta os usos preponderantes dos corpos hídricos e nem a conformidade do enquadramento ao longo do tempo, devido principalmente ao pouco uso deste instrumento no planejamento de bacias hidrográficas.

Isso se deve ao fato principalmente do desconhecimento e das dificuldades metodológicas para aplicação do enquadramento e a prioridade de utilização de outros instrumentos de gestão, em detrimento daqueles de planejamento.

Existem outras razões, dentre elas sendo que nunca se desenvolveram diretrizes para orientar o procedimento de enquadramento, além do número excessivo de variáveis de qualidade da água que compõem o padrão ambiental

relativo ao objetivo de qualidade (LEEUWESTEIN; CORDEIRO, 2002 apud PORTO, 2002).

O trabalho realizado por Pizella e Souza (2007) em que foram analisados os problemas existentes na gestão da qualidade hídrica brasileira frente às premissas de sustentabilidade ambiental, por meio da identificação das novas tendências de estratégias adotadas internacionalmente, pode-se verificar que existe uma falta de clareza na definição das atribuições de responsabilidades entre os órgãos de gestão de recursos hídricos, apresentando em diversas situações, sobreposição de atividades entre estes órgãos; além da não constituição de sistemas de gestão como preconizado em leis federais e a incongruência entre estas e as leis estaduais são uns dos maiores empecilhos à gestão da qualidade hídrica no país.

Pelas considerações citadas anteriormente, conclui-se que é necessária a criação de um programa nacional de capacitação técnica de todos os envolvidos no processo de enquadramento, a fim de melhorar o conhecimento sobre este instrumento e de suas interfaces com os outros instrumentos de gestão dos recursos hídricos (COSTA, 2005 apud DINIZ, 2006), além de incentivar a participação social, munindo-a de informações necessárias para apoiar nas decisões.

Os três subconjuntos a seguir descritos resumem bem do que se espera de um sistema de gestão da qualidade da água, para que as decisões sejam de forma equilibrada com expectativas que sejam realizáveis e factíveis (PERRY; VANDERKLEIN, 1996 apud PORTO, 2002):

I. um forte embasamento técnico que permita avaliar as condições atuais de qualidade da água e o potencial de atendimento aos usos pretendidos, tanto no que se refere à recuperação de áreas poluídas como aos casos onde a preocupação é como autorizar novos usos e ao mesmo tempo conservar o recurso;

II. um embasamento de caráter político que reforce o caráter participativo da decisão sobre a aptidão da bacia hidrográfica e, portanto, sobre os usos pretendidos no médio e longo prazos;

III. um embasamento de caráter institucional e legal com mecanismos e instrumentos que permitam a realização das ações necessárias para alcançar as metas.

O trabalho de ampliação do enquadramento exige o estabelecimento de prioridades que devem considerar, entre outros aspectos, a hierarquia de usos e suas necessidades de qualidade, assim como existência de conflitos (MACIEL, 2000).

Para evolução do processo de enquadramento necessita-se da definição de metodologias que simplifiquem a tomada de decisão, a fiscalização e manutenção dos padrões estabelecidos. Essa simplificação pode ser obtida com o auxílio de

índices desenvolvidos especificamente para o controle do instrumento de enquadramento.