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1. Introdução

2.3 Conceitos específicos

2.3.1 Deficiência

2.3.1.1 Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

Ainda sobre a Deficiência, acerca de sua complexidade tem se buscado ferramentas capazes de auxiliar na compreensão das muitas dimensões envolvidas e suas intensidades. Em destaque aos “modelos médico e social”, conforme orientação da OMS enfatiza-se a CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde), aprovada para publicação internacional em 22 de maio de 2001 pela 54ª Assembleia Mundial de Saúde (MAZZOTTA e D’ANTINO, 2011).

Faria e Buchalla (2005) afirmam que uma das missões da OMS é a produção de Classificações Internacionais de Saúde a serem incorporados pelos Sistemas de Saúde, gestores e usuários, com vistas a gerar uma linguagem comum.

As condições de saúde relacionadas às doenças, transtornos ou lesões, por exemplo, são classificadas na CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, 10ª

Revisão), que “fornece um modelo baseado na etiologia, anatomia e causas externas das lesões. Dessa forma, a CID-10 constitui um instrumento útil para as estatísticas de saúde, tornando possível monitorar as diferentes causas de morbidade e de mortalidade em indivíduos e populações”.

A CiF também pertence a ‘família’ de Classificações Internacionais de Saúde e é complementar a CID- 10. Em conjunto, as informações sobre diagnóstico e sobre a funcionalidade, fornecem uma imagem ampla e mais significativa da saúde das pessoas ou da população, que pode ser utilizada para os propósitos de tomada de decisão (CIF,2003, p.14).

Faria e Buchalla (2005) salientam que “a informação sobre o diagnóstico acrescido da funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a saúde do indivíduo ou populações”. E exemplificam que “duas pessoas com a mesma doença podem ter diferentes níveis de funcionalidade, e duas pessoas com o mesmo nível de funcionalidade não têm necessariamente a mesma condição de saúde”.

De origem em inglês, International Classification of Impairments, Disabilities and Handicaps (ICIDH) a CIF foi desenvolvida ao longo de duas décadas contando com a ajuda de 50 países, 1800 peritos, instituições internacionais representativas e de redes internacionais, tendo sido publicada em 1980 em caráter experimental.

A CIF é parte essencial de mudanças importantes de concepções e no modelo da classificação, com a aprovação e publicação de documentos de extrema relevância para o movimento de direitos das pessoas com deficiência no mundo e sua utilização, e tem contribuído de forma positiva para o estabelecimento de políticas públicas voltadas para as pessoas com deficiência (FARIA e BUCHALLA, 2005).

Inicialmente a CIF era uma classificação de ‘consequências da doença’ (versão de 1980), mas agora é uma classificação dos ‘componentes da saúde’ (DI NUBILA e BUCHALLA, 2008). Os ‘componentes de saúde’ identificam que constitui a saúde, enquanto que ‘consequências’ se referem ao impacto das doenças na condição de saúde da pessoa (CIF,2003, p.14).

A CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde) tem como objetivo geral proporcionar uma linguagem unificada e padronizada e uma estrutura que descreva os estados relacionados à saúde. Ela define os componentes da saúde e alguns componentes do bem-estar relacionados a Saúde (tais como educação e trabalho). Os domínios contidos na CIF podem, portanto, ser considerados como domínios da saúde e domínios relacionados à saúde. Esses domínios são descritos com base na perspectiva do corpo, do indivíduo e da sociedade em duas listas básicas: (1) Funções e Estruturas do Corpo e (2) Atividades e Participação. Como uma classificação, a CIF agrupa sistematicamente diferentes domínios de uma pessoa em uma determinada condição de saúde (e.g. o que uma pessoa com uma doença ou transtorno faz ou pode fazer). Funcionalidade é um termo que abrange todas as funções do corpo, atividades e participação; de maneira similar, incapacidade é um termo que abrange deficiências, limitação de atividade ou restrição na participação. A CIF também relaciona os fatores ambientais que interagem com todos estes construtos. Nesse sentido, ela permite ao usuário registrar perfis úteis da funcionalidade, incapacidade e saúde dos indivíduos em vários domínios (CIF, 2003, p.13).

A CIF é baseada, portanto, numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes de saúde nos níveis corporais e sociais (CIF,2003, p.14). Desse modo, na avaliação de uma PcD, esse modelo é baseado no diagnóstico etiológico da disfunção, evoluindo para um modelo que incorpora as três dimensões: a biomédica, a psicológica (dimensão individual) e a social. “Nesse modelo cada nível age sobre e sofre a ação dos demais, sendo todos influenciados pelos fatores ambientais” (FARIA e BUCHALLA, 2005) (figura 11).

Figura 11 - Interação entre os componentes da CIF.

Fonte: CIF (2003)

Vale salientar que pela CIF elementos como Funcionalidade e Incapacidade, bem como fatores contextuais de ordem pessoal e ambiental, são fundamentais para a melhor compreensão das implicações individuais e sociais das deficiências. Dessa forma, os fatores contextuais, transformam-se muitas vezes em limitações impostas pelo ambiente físico e social e que ampliam as desvantagens sociais da PcD. Dessa forma, “a proposta da CIF tem sido útil para apreender as variáveis envolvidas nessa situação dinâmica de interação do indivíduo com um determinado contexto” (MAZZOTTA e D’ANTINO, 2011).

Assim, para sua aplicação a CIF dispõe as informações em duas partes, a Parte I trata da Funcionalidade e ad Incapacidade, e a Parte 2 refere-se os Fatores Contextuais. Cada parte tem dois componentes (tabela 7):

▪ Componentes de Funcionalidade e Incapacidade:

‘Corpo’ e ‘Atividade e Participação’, que podem ser expressos de duas maneiras, pois podem ser utilizados para indicar problemas (ex. incapacidade, limitação de atividade ou restrição de participação) resumidos sobre o termo ‘incapacidade’; ou podem indicar aspectos não problemáticos (ex. neutros) da saúde e dos estados relacionados à saúde resumidos sob o termo ‘funcionalidade’.

Esses componentes de incapacidade e funcionalidade são interpretados por meio de construtos operacionalizados por qualificadores. (CIF, 2003, p.19)

▪ Componentes dos fatores Contextuais

Fatores ‘Ambientais’, tratam desde o ambiente mais imediato do indivíduo até o ambiente geral; e Fatores ‘Pessoais’ são um componente dos Fatores Contextuais, mas não estão classificados na CIF

Fatores ambientais Condição de saúde (Transtorno ou doença) Atividades Funções e

estruturas do corpo Participação

Fatores pessoais

O construto básico do componente dos Fatores Ambientais é o impacto facilitador ou limitador das características do mundo físico, social e de atitude (CIF, 2003, p.19).

Tabela 7 - Uma visão geral da CIF Parte 1:

Funcionalidade e Incapacidade

Parte 2: Fatores Contextuais

Componentes Estruturas do corpo Funções e Atividades e Participação Fatores Ambientais Fatores Pessoais Domínios Estruturas do corpo Funções do corpo (tarefas, ações) Áreas da vida

Influências externas sobre a funcionalidade e a incapacidade Influências internas sobre a funcionalidade e a incapacidade Construtos Mudanças nas funções do corpo (fisiológicas Mudanças nas estruturas corporais (anatômicas) Capacidade: Execução de tarefas em ambiente padrão Desempenho: Execução de tarefas no ambiente habitual Impacto facilitador ou limitador das características do mundo físico, social e de atitude Impacto dos atributos de uma pessoa Aspecto positivo Integridade funcional e estrutural Atividades

Participação Facilitadores Não aplicável Funcionalidade

Aspecto negativo Deficiência

Limitação de atividade Restrição de participação

Barreiras/

Obstáculos Não aplicável Incapacidade

Fonte: Cif (2003)

A CIF é reconhecida por conter uma série de ferramentas e permitir várias abordagens, além de poder ser utilizada por profissionais de diversos setores, como a saúde, a educação, a previdência social, a medicina do trabalho, a estatísticas, as políticas públicas, entre outras. Entretanto, sua maior importância está relacionada as práticas clínicas, ensino e pesquisa. “Na área clínica, ela se propõe a servir de modelo de atendimento multidisciplinar, devendo servir para as várias equipes e os vários recursos de que dispõem os serviços, tais como médico, psicólogo, terapeuta, assistente social etc.” (FARIA e BUCHALLA, 2005).

Uma das vantagens da adoção e ampla aplicação da CIF é a possibilidade de uniformização de conceitos e da utilização de uma linguagem uniforme que permita a comunicação entre pesquisadores, gestores, profissionais de saúde, organizações da sociedade civil e usuários em geral (CIF,2003, p.14).

Buchalla (2003) destaca que a incorporação da CIF nas práticas de atenção à saúde, embora já esteja também sendo adotado por diversos setores e equipes multidisciplinares, deve ainda ser explorado de maneira mais ampla, para que se ateste sua aceitação, “sua validade em diferentes áreas, seu impacto nos cuidados de saúde, seu potencial em medir o estado funcional dos pacientes e seu uso pelos sistemas de informação para elaboração de estatísticas de saúde”.

Faria e Buchalla (2005) recomendam estudos adicionais por profissionais e pesquisadores de diversas disciplinas e setores da saúde, a fim de auxiliar nas legislações e implementar políticas públicas para as pessoas com deficiência.

Contudo, vela ressaltar que a CIF é uma ferramenta tão ampla que pode inclusive auxiliar profissionais de outras áreas a conhecer melhor a funcionalidade de PcD, principalmente no que diz respeito ao contexto com as questões das limitações do espaço e sociais.

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