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OS CLUBES E AS FESTAS O Clube Paulistano

CAPÍTULO 3 – A CIDADE NA MEMÓRIA DE SEUS HABITANTES

3.9 OS CLUBES E AS FESTAS O Clube Paulistano

Maringá, desde a década de 50, contava também com outros lugares

como os clubes, cinemas e outros festejos, que propiciavam múltiplas formas de sociabilidade aos maringaenses.

O entretenimento pode-se manifestar de várias formas, e a festa, sem dúvida, é uma das grandes expressões da alegria do povo. O Clube Paulistano teve poucos, porém intensos momentos, no que concerne ao afluxo de pessoas aos seus concorridos bailes. Atraía grande parte da população impossibilitada, de freqüentar o Aero-Clube e o Grêmio dos Comerciários, espaços esses mantidos por estratos da sociedade com renda bem superior de grande parte da população. O breve fechamento do Clube Paulistano ocorreu devido ao preconceito socioeconômico de alguns moradores da vizinhança, que reclamavam junto ao poder público do barulho provocados pelos bailes, e a Prefeitura, atendendo ao apelo, recomendou o fechamento do salão. Dessa forma, outras festas domiciliares proliferaram-se, única forma de escapar da vigilância dos insatisfeitos. Anos depois proliferaram como cogumelos na floresta as brincadeiras dançantes, reuniões de jovens em casas de família por vários cantos da cidade.

A Sra. Eurídes de Oliveira8 relembra alguns momentos em que freqüentava o Clube Paulistano.

Não fui uma grande freqüentadora do Paulistano, mas fui algumas vezes para distrair, passear e até mesmo tive algumas paqueras por lá. O musical variado, agradava a todos. Eu sempre fui muito tímida e ficava um pouco nervosa, quando um rapaz me tirava pra dançar. Agora as músicas mais agitadas eu não sabia dançar, mas era divertido. Os moços eram bonitos também, agradava, e as moças não podiam escolher muito senão ficava sem o par. Eu lembro que algumas vezes tinha umas brigas entre os rapazes por causa da moças, mas passava logo. Os vizinhos não tinham bons olhos para o Paulistano quando tinha baile ou uma outra festa porque o barulho atrapalhava o sono deles. Alguns deles iam até a porta do clube e mandava chamar o diretor pedindo que o som fosse abaixado, ou então queria saber até que horas eles ainda tinham que agüentar tudo aquilo. O paulistano tinha mais gente simples e no Aéro-Clube tinha mais gente de dinheiro, um povo mais arrumado, com mais dinheiro que nós. Logo o clube fechou e a as pessoas acabaram indo mais nas festas caseiras:aniversários, casamentos, churrascos.

Funcionando como lugares de convivência, de diversão, de reunião de

pessoas para simples conversa, os clubes também agregavam sentidos diversos e podiam adquirir grande importância social e política, em especial, em uma cidade como Maringá, que crescia a cada dia.

A circulação e a vivência, que esses espaços e especialmente os eventos nele ocorridos possibilitaram aos que os freqüentavam, devem ser entendidos como práticas sociais, políticas e culturais, que fazem parte do cotidiano de uma pessoa em busca da sua inserção na comunidade, do fortalecimento e preservação de relações em todos os setores da vida pessoal, profissional e política.

Ainda que as mesmas formas de lazer dêem em espaços diferenciados como é o caso do carnaval, dos desfiles cívicos, das quermesses, da folia de reis, festejado nas ruas... os cinemas, os bailes e festas que aconteciam dentro de alguns clubes revelam formas diferenciadas de convívio entre os maringaenses. 3.9.1 A Elite se diverte no Aéro-Clube Maringá

Dentre os clubes criados para diversão e lazer, o Aero-Clube Maringá, destaca-se pelo seu caráter seletivo, por aglutinar grupos sociais com características específicas dadas pelo poder econômico, ou pertencentes a uma empresa como a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, que comandava grande parte da região Norte Paranaense [Figura 26].

Os bailes não tinham só objetivos de divertir a população, alguns deles eram promovidos com o intuito de conseguir fundos para compra de objetos, para as escolas locais. Muitas festas, casamentos, e até concursos de “Misses” ali foram realizados.

FIGURA 26- Sede social do Aero-Cube de Maringá, construída em 1948 (primeiro clube social) Prefeitura Municipal de Maringá – Acervo da Divisão de Patrimônio Histórico

Muito sorridente e feliz por ser procurada para uma nova entrevista a Profa. Marilin Cordeiro9 relembra com os olhos cheios d`agua os concorridos bailes de época que aconteciam nos Clubes da cidade.O grandioso Baile da Chita, O Baile das Bolas, Baile de Debutantes, entre outros [Figuras 28, 29,30 e 31].

Os Bailes agitavam a cidade, muita gente ia pra porta do clube pra ver os vestidos e outros acessórios dos frequentadores que vinham de São Paulo. Acrescenta nossa narradora: quando era véspera dos bailes nosso grupinho estava sempre em conversas pra saber que modelo de vestido a gente iria usar, muitas dúvidas apareciam e era ai que a gente ia na casa de pessoas amigas para pedir revistas emprestadas para ver os modelos mais usados. Veja aqui nas fotos, os cabelos não tinham grandes penteados; todas nós se virava como podia; alguns eram desfiados e depois espirrava laquê que tinha um cheiro forte mas depois passava; uma vizinha nossa conhecia um truque para armar os cabelos, se usava desfiar bom-bril, ficava bonito mas dava trabalho. Usar jóias não era hábito, poucas de nós usavam, só mesmo em certas ocasiões. Eu sei que foram momentos felizes de nossas vidas que eu guardo com saudades. Moças comportadas adentravam o salão acompanhadas de seus pais e

dirigiam-se as mesas e lá ficavam à espera de um “broto” que a tirasse para dançar.

FIGURA 27 “Vista do interior do clube em dia de festa [Baile das Bolas] - 1950/60” Prefeitura Municipal de Maringá – Acervo da Divisão de Patrimônio Histórico

FIGURA 28 “Vista do interior do clube em dia de festa [Baile das Bolas] – 1950/60 Prefeitura Municipal de Maringá – Acervo da Divisão de Patrimônio Histórico

FIGURA 29 “Vista do interior do clube em dia de festa [Baile das debutantes) 1960 Prefeitura Municipal de Maringá – Acervo da Divisão de Patrimônio Histórico

Figura 30 – Vista do Baile das Bebutantes durante a valsa - 1960

FIGURA 31- As 11 Debutantes em “clic” para a Revista Pioneira – 1960 Prefeitura Municipal de Maringá – Acervo da Divisão de Patrimônio Histórico

Os frequentadores mais assíduos eram de famílias abastadas, ligadas a diretoria da CMNP e outras personalidades do meio político e empresarial. Esses espaços representavam uma forma de sociabilidade, oportunidade essas que seus freqüentadores tinham, também, de ali estabelecer relações politico- econômicos, de “conchavos” e interesses pessoais.

Dentre os bailes realizados no Aéro-Clube Maringá, o baile das Debutantes era um grande acontecimento social. A Revista “A Pioneira” de janeiro de 1954, registra o primeiro baile de Debutante que acontecia na cidade, dedicando para tanto, seis páginas de fotos e comentários. Segundo a revista tratava-se de um dos magníficos bailes que periodicamente a cidade iria presenciar. “O baile revestia-se, entretanto, de um caráter de novidade, pois era a primeira vez que tínhamos oportunidade de assistir em Maringá, a um sarau desse

gênero e com tal finalidade” ( A PIONEIRA, 1954s/p).

O baile reunia onze das mais encantadoras jovens, pertencentes ás mais destacadas famílias de Maringá, num verdadeiro buquê de graça e elegância, o Aéro-clube de Maringá introduziu-as na sociedade local, durante uma festa onde imperou o bom gosto e a alegria. Ainda perduram em nosso espírito, as impressões daquela noite cálida de janeiro, em que esse grupo encantador de senhoritas maringaenses, fez sua entrada oficial para a sociedade. Os magníficos vestidos que ostentavam; os lindos penteados que emolduravam seus rostos juvenis e, sobretudo, a graça e elegância de suas maneiras, a todos encantavam.

Embaladas pelo ritmo de uma valsa, foram elas levadas pelo salão, enlaçadas pelos seus padrinhos, naquela noite inesquecível, integrando-se assim, na vida social da cidade. Grandes aplausos saudaram, ao término dessa música, as novas integrantes da sociedade maringaense, cujos membros mais representativos as receberam prazeirosamente no meio de músicas e flores. Ostentando lindas “toulettes”, as elegantes senhoras e senhorinhas que compareceram á encantada festa, muito concorreram para o sucesso da inesquecível noite de graça e distinção. Foi assim que reunindo em sua sede social, lindamente ornamentada, grande número de senhoras, senhoritas e cavalheiros, o Aéro-clube de Maringá proporcionou aos seus associados e convidados, um elegante sarau dançante (A PIONEIRA, 1954 s/p).