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CAPÍTULO 4 AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS

4.2 CLUSTERS

Cluster é uma palavra de origem inglesa que de acordo com a etimologia (Houassis,

2006) significa aglomerado, grupo. Na literatura econômica cluster possui conceituações simples e mais detalhadas, dependendo do autor, o que torna de certa forma difícil o estabelecimento de uma definição exata.

Altenburg e Meyer-Stamer (1999) colocam que não há uma definição aceita de forma generalizada de cluster, sendo o termo, em seu senso amplo definido como a concentração local de certas atividades econômicas. Segundo os autores a maioria das definições de cluster adiciona alguns elementos à noção básica de firmas espacialmente concentradas e foca em efeitos externos e interação:

√ efeitos externos positivos provenientes da existência de uma concentração local de trabalhadores especializados e da atração de compradores;

√ ligações à jusante e à montante entre firmas do cluster;

√ troca de informação intensiva entre firmas, instituições e indivíduos, que favorece o surgimento de um “milieu” criativo;

√ ação conjunta criando vantagens locais;

√ existência de infraestrutura institucional de apoio a atividades especificas do cluster;

√ identidade sócio-cultural constítuida por valores comuns e a existência de atores locais em um “milieu” local, facilitando a confiança.

O conceito de clusters industriais refere-se à emergência de uma concentração geográfica e setorial de empresas, a partir da qual são geradas externalidades produtivas e tecnológicas. A literatura especializada sobre o tema geralmente associa este tipo de arranjo a um conjunto de empresas e instituições espacialmente concentradas que estabelecem entre si relações verticais - compreendendo diferentes estágios de determinada cadeia produtiva - e horizontais - envolvendo o intercâmbio de fatores, competências e informações entre agentes genericamente similares. Estes clusters geralmente incluem firmas interdependentes (incluindo fornecedores especializados), agentes que produzem conhecimento (universidades, institutos de pesquisa, etc.), outras instituições (consórcios, incubadoras, etc.) e consumidores, os quais se articulam entre si através de uma cadeia produtiva espacial e setorialmente localizada (Britto, 2000).

Já Porter (1999) define clusters como concentrações geográficas de firmas e instituições inter-relacionadas num setor específico. Assim, os clusters, englobam uma série de empresas e outras entidades importantes para a competição, incluindo, por exemplo, fornecedores de insumos, tais como componentes, maquinário, serviços e fornecedores de infraestrutura especializada. Os clusters, muitas vezes, também se estendem para trás na cadeia produtiva, chegando até os consumidores; lateralmente até manufaturas de produtos complementares; e se expandem na direção de empresas com semelhantes habilidades, tecnologia, ou de mesmos insumos. Finalmente, muitos clusters, incluem órgãos governamentais e outras instituições – tais como universidades, agências de padronização, escolas técnicas e associações de classe – que promovem treinamento, educação, informação, pesquisa e suporte técnico à indústria ou às empresas de um determinado setor (PORTER, 1998).

Segundo Vargas (2002), na abordagem sobre clusters, os mecanismos que explicam o desempenho competitivo dessas aglomerações são traduzidos através do conceito de eficiência coletiva, que descreve os ganhos competitivos ligados à interação entre empresas em nível local. Esses ganhos competitivos devem-se às economias externas puras, de caráter incidental, e às ações conjuntas que são estabelecidas pelos agentes econômicos.

As economias externas puras são ganhos obtidos pelas pequenas e médias empresas independentemente de suas ações, e foram caracterizadas por Marshall (1985), como fatores que beneficiavam concentrações de pequenas e médias empresas (distritos industriais marshallianos), sendo eles: mão-de-obra já treinada, existência de recursos naturais locais, informações sobre as novas técnicas de produção, proximidade geográfica entre as firmas, e alto grau de inter-relacionamento entre elas, proporcionando um clima propício à produção em larga escala, reduzindo custos de transporte e de outras transações e facilitando e agilizando a comunicação entre os produtores.

Economias externas incidentais são importantes na explicação do crescimento das aglomerações industriais, mas também existe uma força deliberada no trabalho, denominada ação conjunta tomada conscientemente. De acordo com Schmitz (1997) tal ação pode ser de dois tipos : empresas individuais cooperando (por exemplo dividindo equipamentos ou desenvolvendo um novo produto) e grupos de firmas reunindo forças através de associações, consórcio etc. Dentro desta distinção pode-se distinguir entre cooperação horizontal (entre competidores) e cooperação vertical (entre produtores e consumidores dos insumos ou entre produtores e vendedores dos produtos). O aproveitamento das economias externas incidentais e das vantagens advindas das ações conjuntas deliberadas vai então proporcionar a eficiência coletiva.

A concentração das empresas em clusters é capaz de proporcionar um maior escopo para o estabelecimento de ações conjuntas deliberadas, que se transformam em importantes ganhos de competitividade para as empresas e são resultado de construções sociais específicas dos agentes locais.

Vargas (2002) coloca que em estudos mais recentes a análise sobre clusters industriais recai sobre o processo de melhoria de clusters por meio da inserção de produtores locais em cadeias globais, o que implica nas formas globais de coordenação relacionadas às cadeias globais de valor e as formas locais de governança, sobretudo aquelas que envolvem a interação entre formas públicas e privadas.

O processo de melhoria pode ser entendido enquanto processo de capacitação produtiva e inovativa das empresas que estão inseridas em clusters, resultante da necessidade que essas empresas têm de enfrentar pressões competitivas (VARGAS, 2002), podendo ser de três tipos:

• melhoria de processo: transformação de entradas em saídas mais eficientemente através da reorganização do sistema de produção ou introdução de tecnologia superior;

• melhoria de produto: melhoria na eficiência no desempenho através da busca de novos nichos de produção;

• melhoria funcional: aquisição de outras atividades na cadeia como por exemplo design ou marketing.

Em relação à governança, Humphrey e Schmitz (2000) definem o termo como à coordenação de atividades econômicas através de relações extra-mercado e que, segundo Schmitz (2001) são diferenciadas através de quatro modalidades de articulação da aglomeração com os atores globais:

• vínculos de mercado: descrevem uma relação em que existem vários compradores e vendedores potenciais de produtos equivalentes, não incluindo a construção de mecanismos institucionais de cooperação a longo prazo e nem investimentos conjuntos em ativos competitivos;

• rede: relações em que atores combinam capacidades complementares, podendo por exemplo realizar ações conjuntas de design do produto, investimento em pesquisa e inovação, visando o aumento da competitividade da rede;

• quase-hierarquia: ocorre quando uma parte dos atores (normalmente o comprador) tem um alto grau de controle sobre a outra, devido ao seu controle de mercado ou maior capacidade tecnológica. A parte dominante determina a especificação do design do produto, parâmetros de qualidade, materiais etc.

• hierarquia: ocorre quando uma empresa adquire outras empresas do cluster ou se instala como produtora no cluster.

No que tange às estruturas privadas e públicas de governança Humphrey e Schmitz (2000) as categorizam da seguinte forma:

Âmbito Local Âmbito Global Governança privada - Associações empresariais

locais

- Cluster do tipo hub and spoke (grande empresa domina a hierarquia)

- Cadeias globais coordenadas pelo comprador

- Cadeias globais coordenadas pelos produtores

Governança pública - Agências governamentais locais e regionais

- Regras da Organização Mundial do Comércio

- Regras nacionais e supranacionais com referência global

Governança pública- privada

- Redes de políticas locais e regionais

- Padrões internacionais

- Campanhas internacionais de organizações não governamentais

Quadro 4.1: Categorias de governança pública-privada e local-global

Em relação à estas questões mais recentes abordadas pela literatura sobre clusters, no que tange ao processo de aprendizado como facilitador da capacitação produtiva e inovativa das empresas, foco deste trabalho, Vargas (2002) coloca que grande parte dos estudos sobre

clusters nos países em desenvolvimento demonstram uma preocupação com questões

relacionadas ao processo de mudança tecnológica na capacitação de produtores locais, definida por meio do conceito de melhoria. Porém, estes estudos não lidam de fato com a natureza dos fluxos de conhecimento e processos de aprendizado tecnológico que têm lugar nessas aglomerações, diferentemente da abordagem de sistemas produtivos e inovativos locais, que será vista no próximo item.

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