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CAPÍTULO 2 INOVAÇÃO E APRENDIZAGEM

2.2 CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM

No ambiente organizacional, o papel do conhecimento é fundamental, uma vez que a forma pela qual cada agente econômico adquire e desenvolve seu conjunto de capacitações se dá pelo acúmulo de conhecimento, enquanto o aprendizado possibilita a geração e a difusão do conhecimento.

Nonaka (1994) coloca que a sociedade em que vivemos tem se tornado gradualmente uma “sociedade de conhecimento”, sendo fundamental explorar questões relativas à forma como as organizações processam e criam conhecimento.

O conhecimento pode ser definido, de uma forma ampla, como todas as cognições e habilidades que os indivíduos utilizam para resolver problemas, tomar decisões e compreender novas informações (DÖRING e SCHNELLENBACH, 2004).

Johnson e Lundvall (2001) dividem o conhecimento em quatro diferentes categorias: 1. Know-what (conhecer o quê): trata do conhecimento sobre fatos, podendo ser

dividido em bits e armazenado como dados;

2. Know-why (conhecer por quê): refere-se ao conhecimento sobre princípios e leis naturais e sociais, aproximando-se do conhecimento científico. O acesso a esse tipo de conhecimento permite uma maior velocidade no avanço da tecnologia, reduzindo a frequência de erros em procedimentos que envolvem tentativa e erro; 3. Know-how (conhecer como): diz respeito às habilidades, à perícia em fazer alguma

coisa, aos procedimentos, sendo o que mais se aproxima do conhecimento tácito, não se reduzindo apenas ao conhecimento prático. É um tipo de conhecimento desenvolvido no âmbito das organizações individuais.

4. Know-who (conhecer quem): relaciona-se tanto às informações sobre quem sabe o quê e quem sabe como fazer o quê, quanto à habilidade social de cooperar e comunicar com diferentes tipos de pessoas de diversas especialidades.

Outra forma de classificar o conhecimento é a distinção deste, feita por Polany (1966, apud Nonaka, 1994) em duas categorias: o conhecimento explícito ou codificado e o conhecimento tácito. O primeiro refere-se ao conhecimento que é transmitido de maneira formal, em linguagem sistemática. Já o conhecimento tácito tem qualidade pessoal o que o torna difícil de ser formalizado e comunicado. O conhecimento tácito é profundamente enraizado na ação, comprometimento e envolvimento em um contexto específico.

O conhecimento explícito faz parte do conhecimento humano que pode ser especificado e comunicado verbalmente ou em formas simbólicas tais como documentos escritos ou programas de computador, podendo ser abstraído, estocado, transacionado,

transferido, reutilizado, reproduzido e comercializado. Já o conhecimento tácito refere-se ao conhecimento intuitivo, não articulado e difícil de ser codificado e transferido, sendo um conhecimento “subjetivo”. São conhecimentos implícitos a um agente social ou econômico, como as habilidades acumuladas por um indivíduo, organização ou um conjunto delas, que compartilham atividades e linguagem comum (LAM, 1998, LEMOS, 1999).

LAM (1998) coloca também que o conhecimento pode ser individual ou coletivo. O conhecimento individual é aquele conhecimento que faz parte da organização, mas reside na mente e nas habilidades corporais do indivíduo, sendo adquirido através da educação formal e da experiência prática, podendo ser aplicado indepentemente às tarefas ou à problemas específicos. Já o conhecimento coletivo refere-se às formas pelas quais o conhecimento é distribuido e dividido entre os membros da organização. É o conhecimento acumulado da organização, estocado em suas regras, procedimentos, rotinas e normas compartilhadas que orientam o comportamento, as atividades de resolução de problemas e às formas de interação entre seus membros. O conhecimento coletivo se assemelha à memória ou à mente coletiva da organização, podendo também ser estocado e estar prontamente à disposição para o uso de seus membros ou representar um conhecimento que circula da interação entre os membros da organização. O conhecimento existe mais entre do que nos indivíduos, podendo estar centralizado ou disperso na organização. Ele pode ainda ser mais, ou menos, do que a simples soma dos conhecimentos individuais, dependendo dos mecanismos que traduzem o conhecimento individual em coletivo.

As formas de aprendizagem são elementos de grande importância para melhorar a base do conhecimento, sendo que o conceito de aprendizado, de acordo com Britto (2004a) está relacionado a um processo cumulativo em que as firmas ampliam seu estoque de conhecimento, aperfeiçoam os seus procedimentos de busca e refinam suas habilidades em desenvolver e fabricar produtos.

Segundo Dodgson (1996, p. 55), “a aprendizagem pode ser descrita como as formas utilizadas pelas firmas para construir, organizar o conhecimento e as rotinas ao redor das competências e cultura da firma, e para adaptar e desesenvolver a eficiência organizacional através da melhoria do uso dessas competências.”

O processo de aprendizagem pode advir da cumulatividade da experiência própria no processo de produção (learning-by-doing), conforme desenvolvido por Arrow (1962) e também pela comercialização e uso (learning-by-using) de bens e serviços, conforme desenvolvido por Rosemberg (1979, apud Campos et. al., 2003), podendo caracterizar

mecanismos informais ou não estruturados que criam capacidades inovativas internas às firmas.

Mas, as fontes de conhecimento não são limitadas à esfera da firma (local), mas combinam-se com fontes externas à ela, como outras firmas (concorrentes, terceirizadas, institutos de pesquisa, universidades, governos, entre outros). Segundo Lundvall (1992), as diversas relações com outras firmas e organizações podem estabelecer formas diversas de aprendizagem por interação (learning by interacting).

Campos (2004) ainda coloca outras formas de aprendizagem, existentes dentro da literatura neo-schumpteriana, que são menos utilizadas, sendo elas: learning-by-imitating (aprender imitando); learning by subcontrating (aprender subcontratando) e learning by

advances in science (aprender com o avanço da ciência).

O processo de aprendizagem possui quatro características principais que devem ser consideradas ao analisá-lo. Primeiramente ele é visto como um processo orientado, que envolve um determinado custo, sendo realizado no interior da empresa a partir da mobilização de diferentes instâncias organizacionais e da definição de uma estratégia em particular, que estabelece as direções principais dos esforços de capacitação dos agentes. Em segundo lugar, o aprendizado articula-se a distintas fontes de conhecimento, que podem ser internas ou externas à firma. Internamente tais fontes relacionam-se a atividades como P&D, produção, marketing e externamente elas envolvem articulações com fornecedores, consumidores, institutos de pesquisa, universidades, entre outras (MALERBA, 1992).

Em terceiro lugar, o aprendizado é um processo intertemporal e cumulativo, que amplia de forma contínua o estoque de conhecimentos da firma. Em último lugar, este aprendizado possibilita a incorporação de inovações incrementais, e também a exploração de novas oportunidades produtivas e tecnológicas, facilitando a expansão para novos mercados.

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