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CAPÍTULO 4 AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS

4.1 DISTRITOS INDUSTRIAIS

O termo “distritos industriais” é um termo advindo da Europa, e utilizado com maior frequência para se referir a aglomerações produtivas de pequenas empresas italianas. Deve-se atentar para o fato que no Brasil o termo distritos industriais é comumente usado para designar as áreas destinadas à instalações de indústrias de setores e portes diversos, muitas

vezes contando com a concessão de incentivos governamentais. Neste trabalho o termo “distrito industrial” será utilizado para referir-se ao caso italiano.

Porém, antes de conceituar e descrever o distrito industrial segundo o modelo italiano é importante fazer referência ao conceito de distrito industrial segundo Marshall (1985) que foi utilizado pelo autor, no século XIX para caracterizar as concentrações de pequenas e médias empresas localizadas ao redor das grandes indústrias, nos subúrbios das cidades inglesas. Nessas concentrações as pequenas e médias empresas (PME) eram fortemente beneficiadas por fatores como: mão-de-obra já treinada, existência de recursos naturais locais, informações sobre as novas técnicas de produção, assim como pela proximidade geográfica entre as firmas, e pelo seu alto grau de inter-relacionamento, o que lhes proporcionava um clima propício à produção em larga escala, reduzindo custos de transporte e de outras transações, mas também facilitando e agilizando a comunicação entre os produtores (MARSHALL,1985).

Já no caso italiano, há uma retomada do termo distrito industrial e uma ampliação de seu conceito. Segundo Gorayeb (2002), nesse caso além de estarem presentes os elementos fundamentais para uma aglomeração virtuosa (cooperação entre empresas e a existência de ações coletivas) os distritos industriais constituem também uma entidade sócio-produtiva, em que se fundem o ambiente industrial e o patrimônio sócio-cultural da região.

Dentre os novos elementos acrescentados no caso italiano, ao conceito de distrito industrial marshalliano estão: uma aglomeração constituída ao redor de uma pequena cidade; uma série de valores compartilhados por toda a comunidade como o trabalho árduo; cooperação e identidade coletiva e uma estrutura social baseada na predominância de pequenos empresários e trabalhadores industriais (ZEITLIN, 1992).

Os distritos industriais italianos se concentram principalmente nas regiões norte e nordeste da Itália, a chamada “Terceira Itália” especializadas normalmente em setores tradicionais. Triglia (1992) cita como exemplo os distritos industriais de Prato (têxtil), Poggibonsi (móveis), Sassuolo (cerâmica), Montegranaro (calçados) e Modena (ferramentas e máquinas agrícolas).

Como definição de distrito industrial italiano, Pyke e Sengerberger (1992) colocam que tais distritos são sistemas produtivos definidos geograficamente e caracterizados por um vasto número de firmas (em rede) envolvidas em diversos estágios e de diferentes maneiras, na produção de um produto homogêneo, constituídos predominantemente por pequenas empresas.

Segundo Pyke e Sengerberger (1992a), as firmas do distrito industrial estão organizadas de acordo com alguns elementos, como:

√ as redes de um distrito industrial tendem a estar localmente relacionadas e pertencem a um mesmo setor industrial, contendo todos os processos a montante e à jusante e serviços direcionados à produção de uma família de produtos. A proximidade geográfica entre empresas, e entre empresas e instituições locais, melhora a eficiência para a difusão de idéias e de inovações técnicas; para vários tipos de colaboração entre empresas e para a criação de um leque mais amplo de políticas; para a coesão social e um senso de consciência coletiva; e para a ocorrência de transações entre as firmas de uma forma mais fácil e rápida ;

√ grande presença de dinamismo empresarial, que é produto de numerosas condições como: facilidade na criação de novas firmas (acesso ao capital, vantagens legais); proteção da dominação e da dependência de grandes empresas (permitindo a existência de capacidades independentes e facilidade em acessar mercados finais); indivíduos com grande conhecimento, capazes e confiantes suficientemente para criar novas empresas; acesso a redes, idéias e serviços ;

√ força de trabalho adaptável indo ao encontro com uma atmosfera inovativa, agilidade de reação, e uma atitude cooperativa. A adaptabilidade no local de trabalho é auxiliada pela quebra de divisões rígidas entre dirigentes e trabalhadores, e pela existência de atmosfera de confiança ;

√ atitude que almeja sucesso competitivo não pelo corte agressivo de custos de trabalho diretos e sim pela competência organizacional, padrões de trabalho e produtividade. A manutenção de padrões de trabalho, incluindo bons salários, estimula o bom desempenho da força de trabalho e o desempenho do distrito. Um outro ponto importante a ser destacado é a existência não só de cooperação entre as firmas, mas também de competição. Segundo Pyke e Sengenberger (1992a) a competição seja por preço, qualidade, entrega etc. é uma forte característica do distrito quando envolve firmas que produzem produtos similares ou que estão no mesmo estágio do processo produtivo, mas existe também a cooperação, que exerce um papel fundamental para a dinâmica do distrito, podendo ocorrer de várias formas como: subcontratação e divisão da produção (dos pedidos) entre as empresas, permitindo empresas individuais aceitarem pedidos além da sua capacidade normal de fabricação; colaboração entre firmas individuais em fases do ciclo de produção como por exemplo no desenvolvimento conjunto de especificações

técnicas apropriadas e de design; colaboração para o treinamento conjunto da mão-de-obra do distrito como um todo, subcontratação para o trabalho extra, de concorrentes que estivessem temporariamente com capacidade ociosa, etc.

Muitas vezes, no distrito, as ações conjuntas das empresas são coordenadas por um agente que atua como coordenador de um consórcio com o objetivo, por exemplo, de: obter matérias-primas a um preço menor; oferecer conjuntamente garantias aos bancos para obtenção de crédito e negociar menores taxas. Além disso, associações comerciais muitas vezes coordenam grupos de membros proporcionando a participação desses em feiras a um custo menor ou então promovendo seus produtos em uma determinada área ; comprando o espaço para o desenvolvimento das empresas ou para a construção conjunta ou até mesmo comprando prédios prontos para abrigar as várias empresas (TRIGLIA, 1992).

Da experiência dos distritos industriais italianos surgiu uma nova literatura, derivada do conceito mais restrito de distrito industrial para uma denominação mais ampla, a de "cluster", que segundo Galvão (2000) compreende as aglomerações de atividades concentradas em uma determinada área geográfica, especializadas setorialmente, não necessariamente compostas por pequenas empresas, cuja natureza da atividade desenvolvida pode ser da indústria de transformação, do setor de serviços e até mesmo da agricultura.

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