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A cobertura da Folha de S Paulo

No documento talitalucarellimoreira (páginas 72-76)

5. A COMUNICAÇÃO E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DAS NOTÍCIAS: O

5.3 ANÁLISE DA COBERTURA DAS MANIFESTAÇÕES DE JUNHO DE 2013 NA

5.3.1 A cobertura da Folha de S Paulo

No dia 7 de junho de 2013 foi publicada pela Folha de S. Paulo a primeira notícia referente às manifestações ocorridas no dia anterior, intitulada “Protesto contra aumento de ônibus tem confronto e vandalismo em SP”. O lead traz informações sobre o confronto entre a PM e os manifestantes, assim como se relata que os atos levaram à interdição de várias vias e a ocorrências de vandalismo na região central. O texto alude ainda à quebra de placas e a pichações de muros e ônibus no centro da capital paulista. Os manifestantes foram identificados como estudantes ligados ao MPL e a alas radicais de partidos políticos.

No que diz respeito ao reajuste no valor dos coletivos, informa-se que este foi realizado considerando valores abaixo da inflação. Além de anunciar que haveria uma manifestação marcada para o dia 7 de junho, ressalta-se que no primeiro ato estiveram presentes 2 mil pessoas, sendo registradas 15 detenções e 3 feridos. Destaca-se que a

prefeitura de São Paulo e o Metrô lamentaram pelo fato de as manifestações terem tomado proporções violentas, assim como os próprios organizadores dos atos, em função da impossibilidade de controle da multidão.

A publicação veiculada no dia 8 junho intitula-se “Novo ato contra tarifas faz até colégio fechar mais cedo”. No lead aparecem relatos de que o segundo dia de protestos interditou várias vias e causou tensão em áreas nobres da cidade. O texto afirma ainda que os protestos acarretaram o fechamento de estabelecimentos comerciais, empresas e que um colégio dispensou seus alunos e funcionários.

Informa-se que o ato teve 5 horas de duração, causando um congestionamento de 226 quilômetros, a terceira maior lentidão do ano de 2013 até aquele momento. A ocupação da Avenida Paulista foi marcada por atos de vandalismo, porém com menor intensidade do que os do dia anterior. O número de manifestantes foi superior ao registrado no primeiro ato, tendo reunido 5 mil pessoas nas principais vias da capital. Houve novos confrontos entre a polícia e os manifestantes, que conforme a notícia, foram organizados pelo MPL, composto por estudantes e manifestantes de partidos de extrema esquerda.

No dia 12 de junho, a Folha publicou uma notícia de intitulada “Protesto mais violento contra tarifa tem confrontos em série e vandalismo em SP”. O lead indica que as ruas da capital estavam em clima de guerra durante o mais violento dos protestos contra o aumento da tarifa dos coletivos. Foram destacados os confrontos entre os manifestantes e a polícia, que teria reagido com balas de borracha, bombas de efeito moral e gás de pimenta aos ataques perpetrados pelos manifestantes, munidos com paus e pedras. Relata-se ainda que ônibus foram incendiados e lojas, estações de metrô e bancos sofreram com depredações.

A Folha destaca ainda que teria presenciado a ação de um PM que tentava impedir a pichação do Tribunal de Justiça. O policial, ao ser agredido pelo grupo de manifestantes, apontou para eles uma arma. Afirma-se ainda que os atos foram novamente organizados pelo MPL que, embora tenha se posicionado como apartidário, contou com a participação de grupos de esquerda e anarquistas. Segundo a publicação, os organizadores, que se dizem contrários à violência dos manifestantes e da polícia, admitem ter perdido o controle das manifestações e que os confrontos foram resultado da revolta da população, representada pelos cerca de 5 mil manifestantes que compareceram ao ato. São enumerados os confrontos que levaram ao fechamento da Estação da Sé e uma série de atos de vandalismo que teriam sido realizados depois das dez horas da noite.

A publicação do dia 14, intitulada “Novo protesto tem reação violenta da PM”, informa no lead que o quarto protesto foi marcado pela repressão violenta da PM que deixou

feridos manifestantes, jornalistas (7 deles da Folha) e pessoas que não tinham nenhuma relação com os atos.

O texto relata na sequência que o confronto teve início em razão da intenção dos manifestantes de subir a Avenida Consolação em direção à Avenida Paulista, na qual a polícia havia feito um bloqueio. Ainda segundo a notícia, a Tropa de Choque teria iniciado os ataques de forma gratuita, o que fez com que os motoristas que transitavam pelas vias a abandonassem seus carros.

Atenta-se para a ocorrência de novas depredações e para o número maior de pessoas feridas e detidas, 100 e 192, respectivamente. O prefeito Fernando Haddad (PT) comentou que os atos do dia 13 teriam sido marcados pela violência policial, enquanto o governador Geraldo Alckmin (PSDB) relatou que a polícia não toleraria a violência, a depredação e a obstrução das vias. Fernando Grella, secretário de Segurança, justificou que a PM agiu para garantir a ordem.

No dia 18 de junho, a notícia publicada teve seu título resumido em uma palavra: “CONTRA”. O lead ressalta a multiplicidade de pautas das manifestações e sua oposição à políticos como Dilma Rousseff, Fernando Haddad, Geraldo Alckmin, Sérgio Cabral, José Sarney, Marco Feliciano, pautas gerais como corrupção, violência, saúde, educação e transporte público, instituições como os partidos e a FIFA, além de eventos como a Copa do Mundo.

Em seguida, destaca-se que as manifestações contra o aumento da tarifa que tiveram início no dia 6 de junho em São Paulo se espalharam por todo país e se tornaram um protesto contra tudo e contra todos. Os atos do dia 17 ocorreram em 12 capitais, reunindo 215 mil pessoas nas ruas, configurando-se como a maior mobilização ocorrida no país desde o impeachment de Collor em 1992, conforme informou o jornal.

Afirmou-se ainda que sedes que simbolizam o poder foram alvo dos manifestantes em cinco capitais. No Rio de Janeiro, local onde aconteceram os protestos mais violentos, o prédio da Assembleia Legislativa foi invadido; o Congresso Nacional foi ocupado em Brasília bem como a sede do governo de São Paulo, o Palácio dos Bandeirantes, que também sofreu uma tentativa de ocupação, contida pela Polícia Militar.

O texto apresenta dados sobre o número de manifestantes em São Paulo, onde 65 mil pessoas foram às ruas, e divulga a pesquisa do Datafolha que aponta para o fato de que 85% dos manifestantes não apresentavam preferências partidárias. Por fim, Dilma Rousseff, Fernando Henrique Cardoso e Lula são apresentados como fontes indiretas, fazendo declarações sobre as manifestações em tom conciliador.

Intitulada como “Ataque à Prefeitura e saques a lojas marcam novo protesto em São Paulo”, a publicação do dia 19 de junho traz em seu lead afirmações relativas ao caos e à violência ocasionada pelos protestos. Afirma-se que os manifestantes atacaram a sede da Prefeitura, saquearam lojas, depredaram prédios públicos e o relógio que fazia a contagem regressiva para a Copa.

Conforme o texto veiculado pela Folha, membros do MPL, acompanhados de outros manifestantes, tentaram conter um grupo que intentava invadir a Prefeitura com chutes e pedras, demonstrando uma divisão entre aqueles que participavam dos atos. Relata-se ainda que os servidores que estavam no prédio acompanhavam a tentativa de invasão apavorados e que o prefeito, Fernando Haddad, que se encontrava em reunião com Dilma e Lula, não estava na prefeitura no momento em que o prédio se tornou alvo dos manifestantes.

Posteriormente, o texto elucida que, frustrados por não conseguirem invadir a sede do governo municipal, manifestantes queimaram uma van da TV Record, depredaram bancos e saquearam lojas. A notícia aponta ainda para a ação demorada da PM, que demorou cerca de três horas para agir. A Secretaria de Segurança Pública do Estado teria justificado o comportamento da polícia como uma estratégia para evitar que pessoas não ligadas aos atos de vandalismo fossem feridas. Após a intervenção dos militares, 30 manifestantes foram detidos.

Conforme afirma a Folha, o ato seguiu pacífico até a Avenida Paulista, mas houve depredações no fim da noite. Na rua Augusta, os policiais reagiram com bombas para conter os manifestantes. Informa-se também que Haddad admitiu a possibilidade de suspender o aumento da tarifa, mas que para isso seria necessário aumentar impostos. A publicação veicula uma nova pesquisa do Datafolha na qual se revelou que a descrença dos paulistanos nos três poderes era a maior em duas décadas e que o apoio dos cidadãos aos protestos havia se elevado.

Em 20 de junho, a Folha veiculou a matéria intitulada “Quem vai pagar?”. No lead, destaca-se que, após treze dias de protestos, ora violentos, ora pacíficos, Alckmin e Haddad cederam à pressão e reduziram a tarifa para seu antigo valor, três reais. O reajuste vigorava desde o dia dois de junho e, a exemplo de São Paulo, o Rio de Janeiro e outras seis capitais também baixaram o valor das passagens.

Em seguida, a Folha sugere duas perguntas referentes à redução da tarifa do transporte público: “quem vai conter a onda de manifestações pelo país?”. A pergunta é seguida pela informação de que o MPL afirmou que as manifestações ao redor do país continuariam com pautas relativas à tarifa zero e à reforma agrária. O segundo

questionamento diz indaga “Quem pagará a conta?”. Conforme é possível perceber, os termos mais utilizados durante a cobertura da Folha no período das manifestações foram “depredação”, “violência”, “confrontos” e “vandalismo”. Associados ao contexto em que eram aplicados, davam aos manifestantes e às manifestações vieses desfavoráveis. A utilização de termos como “guerra” e “ataques” também contribuem para dar aos eventos um tom característico de ambientes hostis.

No documento talitalucarellimoreira (páginas 72-76)