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PARALELOS ENTRE MOVIMENTOS SOCIAIS E COMUNICAÇÃO: DOS

No documento talitalucarellimoreira (páginas 33-36)

3. MOVIMENTOS SOCIAIS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

3.1 PARALELOS ENTRE MOVIMENTOS SOCIAIS E COMUNICAÇÃO: DOS

A mídia ocupa um espaço central no âmbito social, servindo como ambiente de divulgação de informações e discursos que cumprem uma função importante na construção e na orientação da opinião e do conhecimento do público. Neste sentido, há uma insatisfação e um antigo apelo dos movimentos sociais no que diz respeito à representação e ao espaço que a mídia os concede. Ter a presença de seus atores na mídia facilitaria a propagação de seus

discursos e ideologias, com maior capacidade para atrair novos adeptos para suas causas e reconhecer suas lutas ante a sociedade.

Pereira (2011) ressalta que a mídia desempenha um papel relevante como fonte de interpretação da realidade, podendo atuar não somente na formação da opinião pública, mas também na definição de identidades individuais e coletivas. Para este autor, a penetração dos movimentos sociais na esfera midiática seria fundamental, tanto no contexto da mobilização de seus pares quanto para influenciar a opinião pública e pressionar o sistema político.

Tendo em vista a necessidade de presentificar suas causas nos meios de comunicação, os movimentos sociais podem adotar duas estratégias distintas, como explica Pereira (2011). A primeira delas é relativa à estruturação de repertórios de ação que sejam capazes de atrair a atenção dos meios massivos de comunicação. A segunda, no entanto, consiste na possibilidade de desenvolverem os seus próprios veículos e plataformas de comunicação, possibilitando que suas demandas e conteúdo sejam produzidos para seus públicos-alvo em potencial, além de colaborar na organização de ações coletivas e na atração da atenção midiática.

Para além de questões relativas à dificuldade de penetração nos veículos de comunicação tradicionais – o que torna mais difícil a apresentação de suas lutas –, figuram entre as reclamações dos manifestantes o fato de não serem ouvidos como fontes de informação de uma mídia que, quando os tem em foco, descredencia e criminaliza.

Para Gohn (2013), os meios de comunicação de massa assumem uma importante função estratégica e política em relação às lutas sociais. Os media podem contribuir tanto para a construção quanto para a destruição de um movimento social. Segundo a autora, as representações construídas pela mídia sobre os movimentos são condensadas de forma que a população edifica cultura uma política em relação ao movimento.

Os veículos de comunicação podem ser utilizados pelos movimentos sociais como um meio para atingir visibilidade popular para as suas causas e mobilizar a opinião pública a seu favor. Gohn (2013) trabalha com o pressuposto de que os movimentos sociais devem requerer seu lugar na mídia para que se construa uma imagem do movimento diante dos mais diversos segmentos sociais. Porém, a comunicação alternativa se apresenta como uma forma de os movimentos conseguirem destaque e visibilidade em moldes diferentes dos veículos tradicionais.

Diferentemente dos meios de comunicação de massa, movidos pela lógica capitalista de mercado, onde o lucro é objetivado, a comunicação alternativa é o lugar onde os segmentos populares podem propagar seus discursos. É por meio da comunicação popular que

as minorias têm a possibilidade de apresentar suas reivindicações e denúncias que por vezes são negligenciadas pela grande mídia.

Kucinski (apud Peruzzo, 2009) destaca que os meios de comunicação popular tiveram seu período de maior efervescência quando os veículos massivos se encontravam comprometidos com a ordem estabelecida pelos regimes ditatoriais.

Embora tenha existido em outros momentos históricos, a imprensa alternativa marcou época durante o regime militar no Brasil com jornais que aspiravam por mudanças na sociedade. Ousaram apresentar conteúdos alternativos àqueles oferecidos pela grande imprensa então sob censura ou subserviente aos interesses do Estado de exceção. Analisavam criticamente os acontecimentos e, no fundo, propunham um tipo de desenvolvimento diferente daquele em vigor. (KUCINSKI apud PERUZZO, 2009, p.136).

As formas alternativas de comunicação adquirem maior destaque entre 1960 e 1980. Peruzzo (2009) destaca que o termo “alternativo” tem conotação ligada aos fazeres de uma imprensa crítica no período da ditadura militar. A autora destaca que a comunicação popular ou alternativa atua no sentido de ceder mecanismos de expressão a segmentos excluídos da população.

Com os movimentos sociais fortalecidos e os veículos de comunicação de massa sob controle e censura militar, fez-se necessária a implementação de mídias alternativas que atendessem à demanda de interlocução dos grupos com a sociedade. Durante a ditadura militar brasileira, o meio impresso foi o maior expoente da mídia alternativa.

Peruzzo (2009) destaca, no entanto, o papel rádios comunitárias que começavam a despontar ainda na década de 1970, sem maiores pretensões políticas, mas que buscavam conquistar uma comunicação independente dos meios de comunicação de massa e com mais liberdade de expressão.

Embora tenha sofrido uma forte repressão durante o regime militar, a comunicação alternativa possibilitou que os movimentos contra-hegemônicos tivessem meios de estabelecer um diálogo com seus próprios membros, assim como permitia tornar públicas a razão de suas lutas, ideias e reivindicações para o restante da sociedade.

Neste mesmo período, emerge um tipo de comunicação sindical que não possui ligação oficial com os sindicatos até então sob controle do governo militar. O movimento, nomeado de Oposição Sindical, difundia conteúdo próprio por meio de boletins e panfletos que questionavam a ordem estabelecida e clamavam por mudanças, como explica Peruzzo (2009).

Estamos falando, pois, de uma comunicação que se vincula aos movimentos populares e a outras formas de organização de segmentos populacionais mobilizados e articulados e que tem por finalidade contribuir para a mudança social e a ampliação dos direitos de cidadania. (PERUZZO, 2009, p. 4)

Segundo Peruzzo (2009), com a flexibilização da ditadura e os avanços na democracia política, alguns movimentos sociais crescem e outros declinam. Com o fim da ditadura, o país passa pelo processo de redemocratização. Se antes, no período de repressão e supressão de direitos, os movimentos se organizavam em oposição ao regime militar, neste momento eles ganham novos contornos, dividindo-se em diferentes frentes, com discursos, orientações e demandas distintas, mas unificados por um objetivo comum: a ampliação da cidadania.

Dagnino (1994) explica que a noção de cidadania deriva e está intrinsecamente ligada à experiência concreta dos movimentos sociais. O conceito de cidadania estaria entrelaçado às lutas por direitos, que se desenvolvem tanto no âmbito da igualdade quanto da diferença.

De acordo com Cogo (2010), os movimentos sociais, em busca da ampliação dos espaços de intervenção social, aliam os conceitos de comunicação e cidadania, orientando-se por uma maior igualdade na distribuição e acesso às comunicações midiáticas.

Tendo em vista o apelo mercadológico dos veículos de comunicação de massa, que tem sua sobrevivência em parte atrelada aos investimentos de seus anunciantes, torna-se difícil a concorrência e a manutenção das pequenas publicações alternativas. Como forma de alcançar os mais diversos segmentos da sociedade de forma barata e abrangente, os movimentos sociais se aproveitaram da popularização da internet para investir em novas formas de comunicação com a sociedade, como veremos no tópico seguinte.

No documento talitalucarellimoreira (páginas 33-36)