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ENQUADRAMENTOS: A ATUAÇÃO DA MÍDIA COMO ATOR SOCIAL

No documento talitalucarellimoreira (páginas 66-69)

5. A COMUNICAÇÃO E O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DAS NOTÍCIAS: O

5.1 ENQUADRAMENTOS: A ATUAÇÃO DA MÍDIA COMO ATOR SOCIAL

No processo de construção das notícias, cabe ao jornalista apurar os fatos, recortá- los e enquadrá-los, com o intuito de torná-los compreensíveis ao público. Desta forma, estes profissionais atuam como mediadores entre os inúmeros fatos que ocorrem cotidianamente e o receptor, selecionando os acontecimentos que possuem maior relevância. Ao estabelecer critérios que determinam que algo deve ou não ser noticiado, o jornalista trabalha como um construtor da realidade, enquadrando-a de forma que ela se torne socialmente compreensível.

Diferentemente da teoria do espelho (Traquina, 2001), que representa uma visão idealizada do jornalismo imparcial, capaz de transmitir a verdade assim como o espelho reflete uma imagem, a teoria do enquadramento supõe que o jornalista interfere e recorta o conteúdo que será por ele noticiado, sem a imparcialidade sugerida pela teoria do espelho.

Segundo Sádaba (2007), para a teoria do enquadramento, o jornalista, ao cobrir um acontecimento, tende a influenciar o modo como o mesmo será noticiado. A autora elenca algumas características individuais do jornalista que podem interferir no processo de construção da notícia, tais como a etnia, o sexo, a idade, a educação recebida, o lugar onde ele estudou jornalismo, as experiências profissionais e as crenças que ele possui.

Além disso, a autora destaca que as fontes utilizadas pelos jornalistas também exercem influência sobre a realidade por ele construída. Através da escolha das fontes é possível dar à notícia um encaminhamento que a faça compatível com os interesses dos jornalistas e dos veículos que representam. Motta (2010) explica o conceito de frame, que pode ser traduzido como enquadramento:

Frames, marcos ou enquadramentos constituem os modos através dos quais se cataloga e se vive a experiência da realidade. Molduras que permitem definir as situações de interação e da experiência. Esses marcos não definem apenas os significados da vida cotidiana, estabelecem também os modos apropriados de participar delas (MOTTA, 2010, p.139).

Motta (2010) ressalta que os enquadramentos fazem com que um acontecimento seja passível de ser compreendido. Ao citar Colling (2000), o autor explica que, ao enquadrar um fato, seleciona-se e destaca-se alguns aspectos da realidade no texto comunicativo. Desta

forma, informações podem ser incluídas ou excluídas no processo de construção das notícias, em um esforço jornalístico de torná-las compreensíveis para os receptores.

Sádaba (2007) destaca que no processo de produção de notícias os jornalistas também sofrem interferência das normas editoriais, das rotinas de trabalho e dos métodos jornalísticos, os quais podem determinar que os fatos sejam enquadrados seguindo a critérios de noticiabilidade.

O enquadramento predominantemente utilizado pelos veículos midiáticos no jornalismo político é, segundo Motta (2010), o frame dramático (narrativo). O autor esclarece que, ao estabelecer ordenamentos narrativos para a realidade, os jornalistas têm a possibilidade de contar uma história e estabelecer uma linha argumentativa que torna os fatos mais facilmente compreensíveis para o leitor. As narrativas jornalísticas seriam não somente representações, mas apresentações da realidade.

Sob a perspectiva do autor, o jornalismo político tende a utilizar enquadramentos dramáticos lúdicos, incorporando expressões como “guerra”, “batalha”, “duelo”, “quebra- cabeça”, porque esses frames permitem enquadrar os enfrentamentos políticos buscando torná-los mais claros para sua audiência.

A política, neste sentido, constitui-se como um complexo jogo de poder em que seus agentes passam por processos de formação de alianças, enfrentamentos, convergências e divergências. A produção de enquadramentos dramáticos permite que se apreenda as complexas relações que permeiam o campo político e que elas sejam relatadas ao público de forma didática. Relatar os fatos de forma lúdica facilita a assimilação por parte dos leitores devido ao fato de esses frames serem parte da cultura do senso comum (MOTTA, 2010, p.158).

Ao enquadrar um acontecimento, o jornalista apresenta-o aos leitores, os quais não são totalmente passivos aos conteúdos por eles recebidos. A teoria do construtivismo supõe que os indivíduos são capazes de reagir aos conteúdos aos quais são expostos, possibilitando que eles elaborem e organizem seu próprio conhecimento (BERGER & LUCKMANN, 1985).

Para Sádaba (2007), é na perspectiva construtivista que os sujeitos são capazes de interpretar a realidade social, não agindo apenas como meros espectadores. Desta forma, a interpretação individual possibilitaria atribuir novos significados aos fatos noticiados aos receptores.

Entman (apud Motta, 2010), define o enquadramento como parte inerente à construção das notícias. Para ele, o enquadramento prepararia, através da associação entre as

informações contidas no texto e o repertório do público, a resposta da audiência. O autor considera ainda que o enquadramento seria uma marca de poder.

Foucault (2003) concebe o poder como algo inexistente. Para ele, o que existe são relações de poder estruturadas em rede, o qual não pode ser retido nas mãos de alguns sujeitos. Para o autor, todos os indivíduos exercem poder e também sofrem as ações do mesmo. Se sob o ponto de vista foucaultiano, o poder não é algo que se detém, mas que se exerce. A atividade jornalística é vista por muitos como uma forma de exercício de poder, uma vez que os veículos midiáticos teriam a possibilidade de estabelecer influência em relação à sociedade.

Vale dizer que os veículos de comunicação têm a capacidade de selecionar o que será ou não noticiado. Albuquerque (2010) explica que o papel da imprensa é por vezes descrito como o de um cão de guarda que atua na defesa dos direitos coletivos, de forma que ela assumiria a função de um Quarto Poder.

Lima (2007) explica que o conceito de jornalismo como ‘Quarto Poder’ teve origem no contexto das revoluções liberais, na Inglaterra, no século XVIII. De acordo com a concepção liberal, o jornalismo deveria exercer a função de contrapoder em relação aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.

Segundo Traquina (2001), a imprensa seria uma espécie de sentinela da democracia. Para ele, os meios de comunicação possuem uma função dual, devendo proteger os sujeitos dos abusos de poder dos governantes e ao mesmo tempo mantê-los informados e dar voz a suas reivindicações, firmando-se como uma ferramenta essencial para o exercício dos direitos dos cidadãos. Como guardião da sociedade, o jornalismo visaria o bem-estar coletivo.

Entretanto, Lima (2007) ressalta que, na medida em que os veículos midiáticos se transformaram em grandes conglomerados multimídia, o papel de ‘Quarto Poder’ atribuído à imprensa pelos liberais, que conceitua o jornalismo como livre, desvinculado de interesses econômicos e defensor dos direitos dos cidadãos, tornou-se uma ilusão.

Ao buscar o lucro, os proprietários dos veículos de comunicação se afastariam da responsabilidade de conceder as informações de forma justa e significativa aos cidadãos, conforme explica Traquina (2001). O autor aponta ainda que os jornalistas devem exercer suas funções levando em conta os assuntos que são importantes para a sociedade em detrimento de interesses específicas. Ele argumenta que as estratégias de construção das notícias devem propiciar ao cidadão a compreensão e a avaliação crítica dos conteúdos a ele ofertados.

Os enquadramentos produzidos pela mídia são determinados por fatores que extrapolam a natureza real dos fatos. A seleção dos conteúdos noticiados é um processo que passa pelas características individuais dos jornalistas e pela visão editorial de cada veículo de comunicação. Isso significa que um mesmo acontecimento pode ser relatado sob pontos de vista diferentes. A realidade é apresentada de forma fragmentada pelos veículos de comunicação que irão enquadrá-la seguindo a critérios que atendam aos interesses comerciais e particulares de cada um deles.

No tópico posterior, serão apresentadas a metodologia utilizada como suporte para a análise proposta neste trabalho, bem como as categorias elaboradas no processo.

5.2 METODOLOGIA E CORPUS DE ANÁLISE DAS NOTÍCIAS VEICULADAS PELA

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