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Fonte: Franciane Cristine da Silva (2006) - Trabalho de Campo na propriedade de Moacir Sabadin.

Outra fonte de material orgânico para processamento e adubação é a produção de resíduos sólidos nas casas e nas agroindústrias artesanais dos produtores. É o caso da Agroindústria Vaccari, que gera restos das frutas processadas e reincorporadas à produção como adubo. Nesse caso, o processo de compostagem e reuso dos materiais segue o mesmo destino de adubos adquiridos para o fim específico de adubar a lavoura.

Quando questionados a respeito do destino dos resíduos sólidos inorgânicos, todos os produtores afirmaram praticar a coleta seletiva. O que difere entre eles é o destino do material: alguns levam os resíduos para a cidade e depositam em locais de coleta seletiva, enquanto outros realizaram convênios com a cooperativa de ex-catadores Verde Vida. Neste caso, diante do acúmulo de grande quantidade de resíduos, o caminhão desta cooperativa realiza a coleta nas casas dos produtores.

Apenas os dejetos provenientes de banheiros, cozinhas e áreas de serviço ainda são depositados em fossas sépticas – prática bastante presente na maioria dos municípios catarinenses. Em Chapecó, até mesmo no espaço urbano (onde está à disposição da sociedade uma rede de coleta e tratamento de esgoto doméstico) a fossa é utilizada.

Assim, para manter o padrão de adubação e de atividade biológica no solo, é necessário o emprego de muita força de trabalho – caso o planejamento da unidade agrícola não seja adequado aos padrões produtivos e ambientais estabelecidos, como se tem discutido. As atividades que dispensam o uso de secantes químicos, herbicidas e fungicidas são constantes e freqüentes em todas as propriedades, pois as técnicas utilizadas são, basicamente, roçar a capoeira para reincorporar ao solo, e distribuição do adubo compostado nas áreas em produção – pois se pratica o plantio direto. Ao longo do ano, se ocorrem chuvas fortes, realiza-se a escarificação do solo – necessária para desmanchar pequenos torrões de argila ou para incorporar mais rapidamente a matéria orgânica.

Além das apresentadas, há outras estratégias de conservação do solo. Entre elas estão as relacionadas no quadro a seguir.

Quadro 15. Práticas de conservação do solo em propriedades que praticam agricultura orgânica no Município de Chapecó – SC.

Propriedade Cobertura verde Rotação de culturas Revolvimento de solo Plantio Direto Curva de nível Outras Neri Vacari X X X X X Moacir Sabadin X X X X X Jair Bujareck X X X X Paulo Munarini X X X X Ricardo Sartori X X X X

Beatriz Fae Luzzi X X X X

Produtores em Transição Alexandre Innocente X X X Orildo Malagutti X X X Victor Borsói X X X Gentília Basso Cúnico X X X Valdemar Sive * * * * * *

Fonte: Levantamento junto aos produtores (2007). * Questionário não respondido.

Conforme observado no quadro 15, as práticas mais usadas na conservação do solo em Chapecó são: rotação de culturas, cobertura verde, plantio direto e curva de nível. O resultado dessas ações é um solo com baixas taxas de erosão. Apenas a nascente de água de um agricultor apresentou ravinamento. Entretanto, o fato é justificado pelas obras de proteção de fonte que estavam sendo realizadas, além de chuva ocorrida alguns dias antes da visita.

Desse modo, muitas dessas práticas de conservação são produto de um trabalho de extensão rural, não apenas da APACO, mas da própria EPAGRI. Outras são levadas ao produtor através de cursos oferecidos pela empresa catarinense de pesquisa. Ademais, o restante é produto direto do agricultor-pesquisador, que socializa suas descobertas nas reuniões ou nas visitas às propriedades dos colegas de grupo.

Essas redes de comunicação são de extrema importância, pois são formas eficientes de divulgação das novidades, também em relação à legislação, sobretudo, a ambiental. Assim, embora as noções de conservação, proteção a nascentes e rios, técnicas de cultivo, entre outros, estejam presente no cotidiano desses produtores, a legislação não faz parte do conhecimento da maioria deles – com exceção do agricultor Paulo Munarini, que cursa agronomia em uma das Universidades de Chapecó. Esse cuidado é algo empírico e fundamentado, basicamente, em informações de boca-a-boca ou, ainda, de agrônomos. Nesse aspecto, os agricultores praticantes da agricultura orgânica ainda são dependentes dos órgãos que os organizam socialmente, uma vez que são incapazes de buscar atender a legislação autonomamente.

Nesse contexto, o recurso natural “solo” (mesmo degradado) é um fator limitante somente em poucos casos. É preciso, apenas, desenvolver o pensar, o articular e o executar, a fim de estabelecer estratégias de recuperação e de melhoramento do solo.

5.4 A ROTAÇÃO DAS CULTURAS E OS PRODUTOS CULTIVADOS

A rotação de culturas é uma das técnicas mais utilizadas e recomendadas pelas pesquisas focadas na conservação do solo. Essa técnica não é apenas aplicada por produtores preocupados em seguir os pressupostos da agricultura orgânica, mas por todos aqueles que buscam uma melhoria progressiva das condições físicas e químicas do solo. Mesmo os produtores em

transição para a agricultura orgânica já desenvolviam, na agricultura convencional, a rotação de culturas e o plantio direto.

No caso das propriedades onde se pratica a agricultura orgânica, no município de Chapecó, essa técnica é utilizada há bastante tempo, incrementando o repertório de técnicas de organização do espaço produtivo. A rotação de cultura tem por objetivo retirar os nutrientes do solo de uma forma mais equilibrada – a fim de não esgotar alguns elementos químicos. Ela ocorre, em geral, associada ao plantio direto e à distribuição de matéria morta da colheita sobre o local de trato com a terra.

Para os agricultores estudados, a rotação de cultura, além de uma forma de melhoramento do solo, é uma opção para maximizar a produção durante o ano todo – e não apenas em épocas de colheitas tal qual ocorre em propriedades dedicadas, exclusivamente, à cultura de grãos.

Esse tipo de manejo, além de melhorar o solo, permite ao agricultor aproveitar as épocas de cultivo de diferentes produtos (de valores variados e com diferentes benefícios, intensidades e ações em relação ao solo), o que acaba constituindo-se numa das principais características deste tipo de cultivo.

É comum também o consorciamento de culturas. Isso permite a duplicação da renda e maior cobertura do solo, evitando erosão e perda de nutrientes para a planta – além de quantidade maior de matéria morta disposta sobre o solo.

Como prática dos agricultores entrevistados, encontrou-se facilmente o cultivo consorciado, plantio direto e rotação de culturas – mesmo entre propriedades em transição. Em algumas áreas, foi possível encontrar cinco tipos de produtos diferentes, além das variedades de cobertura verde. Evidentemente, essa situação ainda não se aproxima do sistema ecológico original da região, mas apresenta-se como uma alternativa menos impactante em relação à propriedade convencional que mantém, em pouquíssimos casos, o consorciamento de duas variedades de produtos – em geral: erva-mate e pastagens para gado de corte ou leite.(Ver foto 13)

Esse sistema de manejo tem como resultado solo descompactado, aerado e com alta permeabilidade, permitindo o desenvolvimento de um sistema radicular abrangente e eficiente (do ponto de vista da captação dos nutrientes disponíveis no solo e oferta de água). A fixação de elementos como o nitrogênio também se configura de forma mais efetiva, justamente pela característica de aeração das raízes e da estrutura do solo.