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Cobertura verde: disponibilização de nutrientes nas camadas superiores do solo

Fonte: Franciane Cristine da Silva (2006) - Trabalho de Campo na propriedade de Moacir Sabadin.

Cem por cento dos produtores estudados utilizam a compostagem em minhocários e apresentam esse procedimento como o mais eficiente – pois não demanda trabalhos de revolvimento, como ocorre na compostagem anaeróbia. Outro ponto positivo é o revolvimento natural que a minhoca realiza ao cavar seus túneis, permitindo a infiltração de água e ar e, assim, descompactando o solo.

Um solo protegido e ativo biologicamente também ajuda no combate a pragas, como consta na declaração de Dona Ivani Sabadin:

Antigamente se a gente deixasse o terreno com capoeira em cima, a gente era chamado de “porco”. As pessoas diziam “onde já se viu aquela lá nem limpa o terreno”, mas hoje com os orgânico, a gente não mexe em nada. Hoje a gente tem produção orgânica, antes era “porco” [risos]. Mas sabe que é importante deixar o matinho cobrindo tudo, porque ai os bichinho tem o que come e não precisa comer as frutas, as verduras, as coisa que a gente planta pra vende. Assim ajuda a controla as pragas. (dados de entrevista – janeiro de 2006).

Nas palavras de dona Gentília, repete-se de forma mais incisiva o raciocínio feito pela outra produtora: “eu não uso veneno porque não preciso, minhas planta são bem adubada, vêm forte, não precisa passar, elas resiste a praga”. Essa frase aponta o valor dado ao “adubo” e à necessidade de se separar um espaço na propriedade para a realização da compostagem.

Toda essa noção é resumida no gráfico 03, que apresenta o melhoramento dos produtos quanto à aparência, resistência a pragas e melhor sabor (entre outros atributos).

Como se pode observar, os dados apresentados contrariam o mito da improdutividade das práticas orgânicas. Ao contrário do que muitos postulam, 100% dos entrevistados afirmaram que os produtos apresentaram melhora na qualidade, e destes 30% apresentaram avanços mais pronunciados.

Todos os produtores (e alguns consumidores) entrevistados foram unânimes em afirmar que existe uma grande diferença no sabor, cor, consistência, entre outros bons atributos. A resistência a infestações, da mesma forma, apresentou progresso – justamente em função da melhor nutrição das plantas e da oferta de diferentes fontes de alimento aos agentes tidos como “pragas”. Entretanto, faz-se necessário salientar que, apesar desses dados, os mesmos não descartam totalmente a possibilidade de haver infestações ou consideráveis perdas em virtude da superpopulação de algum tipo de animal (ou mesmo problemas com o manejo destes).

Apenas a aparência de alguns produtos orgânicos é inferior aos convencionais. Essa característica é mais evidente nas hortaliças (que apresentam tamanho um pouco menor) e em culturas como o tomate que, além do tamanho inferior, podem apresentar algumas imperfeições. Mesmo assim, a produção tende a ser melhorada em função de novas técnicas de cultivo que podem ser utilizadas.

Desse modo, alguns cuidados são necessários – independente do tipo de produto que se cultiva –, pois há preocupações relativas às condições do solo e à nutrição da planta. Em analogia feita por um produtor pode-se perceber essa preocupação: “a planta […] se ela cresce raquítica ela não tem força de se defender das doença, mas se a gente cuida e trata bem ela vem bonita e forte. A planta, se adubar bem ela resiste melhor à praga”(entrevista com produtor – 10/01/2007). O resultado de um trabalho criterioso são plantas produtivas (como se observa nas fotos 7 e 8).

Gráfico 03: Aspectos qualitativos dos produtos orgânicos no município de Chapecó (2006/2007).

Fonte: Elaboração da autora a partir de trabalho de campo (2006).

Um dos gargalos, por outro lado, é a insuficiência de matéria orgânica animal e vegetal para a compostagem. Isso obriga alguns produtores a comprar a matéria orgânica bruta de outros agricultores – com o fim de processar em suas propriedades. Esse processo é arriscado, pois não há controle sobre os insumos que outros produtores aplicam em animais. Além disso, em palha de milho ou casca de arroz ou trigo, existe o problema das aplicações de agrotóxicos.

Na tentativa de resolver esse problema, os produtores entrevistados declararam firmar parcerias com os vendedores de adubo bruto (mesmo que de modo informal) em que os fornecedores não aplicariam determinados produtos no gado ou garantiriam a desinfecção dos aviários – a fim de minimizar possíveis problemas. Em geral, essa parceria é feita com vizinhos ou parentes dos agricultores que produzem orgânicos, pois demanda seleção do dejeto, sua coleta e armazenamento (por exemplo, o dejeto é coletado, exclusivamente, em período anterior à aplicação de remédios no gado e após um período de maior excreção de resíduos nas fezes).

Nesses casos, mesmo com os cuidados, ainda existem problemas de contaminação do material orgânico, o que causa problemas para a produção orgânica. Por esse motivo, existe um incentivo muito grande por parte da APACO e da CooperFamiliar para que as unidades produtivas tenham formas de compostagem e gerem, no seu interior, material orgânico suficiente para fertilizar sua produção. Assim, no caso de adubos advindos de fora da unidade produtiva, o curtimento desse adubo mostra-se como mais uma forma de volatilizar grande quantidade de produtos químicos, diminuindo sua concentração no adubo.

Atualmente, apenas os dejetos de suínos não são aproveitados para compostagem nos estabelecimentos de práticas orgânicas estudadas. Isso ocorre porque esse tipo de excremento apresenta-se em forma líqüida, tornando seu manejo mais delicado e problemático. Contudo,

como visto em Silva (2005), algumas técnicas desenvolvidas pela EMBRAPA Suínos e Aves podem ser empregadas com grande eficiência. Entre elas está a cama de suíno, técnica na qual a compostagem é feita ainda dentro do estabelecimento de criação – a partir do pisoteio do suíno. Sua única desvantagem é a alta demanda de mão-de-obra para a constante troca da cama, além da grande necessidade de materiais como serragem e palha de trigo ou de arroz.