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Desta forma, a codificação é, pois, a conversão de um dado sensorial numa forma capaz de ser processada e armazenada na memória e a consolidação é o processo que converte as memórias mais frágeis e recentemente criadas em memórias mais permanentes (Pinto, 2011).

Na codificação implícita, poderão existir métodos cognitivos voluntários (figura 931) que facilitam o registo, a retenção e a consolidação da informação de forma mais permanente.

Os métodos de repetição, formação de imagens, análise semântica, organização temática piramidal e conceitos agregadores, ajudam a promover uma codificação e consolidação mais eficaz da informação (Pinto, 2011), promovendo desta forma, também, a aprendizagem.

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FIGURA 14–MÉTODOS COGNITIVOS VOLUNTÁRIOS

A repetição consiste num processo mental no qual a pessoa se limita a praticar qualquer material verbal, motor ou outro similar, de forma continuada, sem recorrer a outros processos mentais (Pinto, 2011). De acordo com o modelo de Waugh e Norman (1965, citado por Pinto, 2011) e Atkinson e Shiffrin (1968, 1971, citado por Pinto, 2011) a transferência da informação da memória a curto prazo para a memória a longo prazo teria em conta este processo de repetição. Se a repetição fosse suprimida na memória a curto prazo, surgia o declínio do traço de memória devido à perda de intensidade e robustez. O processo de repetição pode ser simples, um processo de articulação contínuo dos itens na memória a curto prazo de forma ordenada e seriada sem acrescento de quaisquer associações ou elaborada, associada a aprendizagens complexas, que envolve um aprofundamento maior das características dos itens a serem recordados (Pinto, 2011).

Este processo não surge espontaneamente no desenvolvimento psicológico e a sua aplicação às diversas tarefas não é imediata. Este processo evolui com a idade. As crianças com menos de 5 anos não usam a repetição para melhorar a memória. Geralmente só a partir dos 8-9 anos é que a repetição

Codificação e consolidação mais eficazes Repetição Formação de imagens Organização temática piramidal Conceitos agregadores Análise semântica

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é usada sistematicamente para auxiliar o registo ou a retenção da informação na memória. A repetição tem um efeito diferente nas tarefas de memória a curto prazo em relação a tarefas de memória a longo prazo. Vários estudos demonstram que a repetição tem um papel positivo na retenção a curto prazo, embora o efeito seja reduzido ou implícito na retenção a longo prazo (Pinto, 2011).

Outro dos métodos cognitivos é a visualização e a formação de imagens. Estes processos são ainda mais eficazes para a retenção e consolidação da informação na memória a longo prazo. A formação de imagens envolve a criação de uma representação mental de itens como palavras, sons, objetos, sabores, seres e acontecimentos. É um processo que associa um item a uma ou mais imagens mentais envolvendo uma forte componente visual e acompanhada por vezes de outras modalidades sensoriais. Para Pinto (2011) a habilidade para formar imagens, se for devidamente treinada e apurada, pode permitir a obtenção de um desempenho elevado no domínio da memória humana.

Em relação à análise semântica, podemos dizer que acontece quando um indivíduo analisa a informação recebida. Esta análise é feita com base no seu significado, direto ou indireto, em função do seu conhecimento prévio e pelas reações que desperta e estimula no próprio. Este processo é um dos mais profundos e extensos que é possível aplicar, causando um sucesso positivo notável na memória e longo prazo (Pinto, 2011).

Os métodos acima resumidos podem ser suficientes para porções limitadas de informação. No entanto, quando existe uma aprendizagem extensa é preciso a elaboração de um organigrama da informação em pirâmide. No topo estarão os tópicos mais gerais que se ligarão, de forma descendentes, a outros conceitos cada vez mais específicos usando-se a organização temática/hierárquica piramidal (Pinto, 2011).

Para além da informação a adquirir ser frequentemente extensa, é muitas vezes ambígua, complexa e de difícil compreensão. Ser capaz de perceber o tema ou temas centrais, gerar um conceito ou contexto de ligação da informação

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lida ou exposta traduz os conceitos agregados, refletindo-se numa recordação elevada a longo prazo.

Estes métodos cognitivos representam um dos níveis mais profundos de processamento da informação, tendo em conta o modelo de níveis de processamento de Craik e Lockhart (1972 citados por Pinto, 2011). Este modelo sugere que a memória a longo prazo não é somente uma unidade de armazenamento mas um sistema complexo de processamento. Para estes autores “memória” é aquilo que resulta da “profundidade” do processamento da informação e não de um conjunto de estruturas (armazéns). “Profundidade” no sentido do significado extraído do estímulo (Craik, 1973, citado por Pinto, 2011).

Estes autores provaram experimentalmente que a recordação de palavra era superior quando estas eram analisadas e processadas de forma mais profunda (figura 1532).

Os resultados obtidos, nas suas experiências, demonstraram que o processamento em termos de significado produz um desempenho da memória muito superior ao obtido com um processamento em termos físicos e fonéticos, sendo às vezes o dobro do processamento físico.

Mais especificamente, o desempenho de memória expresso em termos de prova de reconhecimento foi 80% na condição em que os itens eram sujeitos a uma análise semântica, metade deste valor para itens objeto de uma análise visual e um valor intermédio para os itens sob análise fonética (Pinto, 2011).

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FIGURA 15– REPRESENTAÇÃO DOS NÍVEIS DE PROCESSAMENTO DA PALAVRA PSICOLOGIA

Craik e Tulving (1975, citado por Pinto, 2011) demonstraram, ainda, que um processamento semântico integrado numa estrutura sintática mais complexa e elaborada produzia melhores resultados do que um processamento semântico integrado numa estrutura sintática mais pobre. Isto significa que o nível semântico de processamento só por si não basta e não é limite de análise. A codificação baseada num processamento enriquecido é necessário, mesmo quando se trata de um processamento semântico.

No mesmo sentido, mas com material relacionado (por exemplo lista de palavras), Marton, Hounsell e Entwistle (1984, citado por Pinto, 2011) propuseram a distinção entre abordagem superficial (que encara a tarefa de aprendizagem em termos de memorização repetitiva) e abordagem profunda (que encara a tarefa de aprendizagem em termos de pesquisa e princípios fundamentais relacionando-os com ideias pré-adquiridas) na análise de textos escolares, distinção que se enquadra no modelo dos níveis de processamento de Craik e Lockhart (1972, citado por Pinto, 2011).

A capacidade para armazenar informações na memória a longo prazo está diretamente associada à idade da criança. Crianças mais velhas apresentam melhor codificação, o que facilita a evocação da informação armazenada. Essas características estão relacionadas com o desenvolvimento de estruturas neurais, especialmente do córtex pré-frontal e do giro denteado do

P sicolo g ia Análise Visual Está em letras maiúsculas? Análise Fonética Rima com "alegria" Análise Semântica

É uma ciência artística?

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hipocampo, estruturas que sofrem influência da cultura em que a criança está inserida (Bauer, 2008, citado por Dias & Landeira-Fernandez, 2011).

De facto, o desenvolvimento e maturação destas estruturas neurais é fundamental para o desenvolvimento desta memória. Desta forma, processos de plasticidade cerebral, responsáveis pelo fortalecimento de circuitos neurais, permitem à criança o desenvolvimento adequado de forma a aumentar o seu desempenho (Brehmer, Li, Müller, Von Oertzen, & Lindenberger, 2007, citado por Dias & Landeira-Fernandez, 2011).

Para Elbro (1998, citado por Capovilla & Capovilla, 2002) as dificuldades, de memória a longo prazo, em relação à linguagem, estariam no estabelecimento de representações fonológicas precisas na mesma. Tais representações das palavras ouvidas estariam armazenadas de forma pouco precisa na memória trazendo grandes dificuldades na identificação de representações fonemicamente semelhantes. Este fato condiciona a discriminação, nomeação, memória de trabalho e consciência fonológica.