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3. ORGANIZAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.2. Tratamento, análise e discussão dos dados

3.2.3 Análise dos conhecimentos linguísticos

3.2.3.2 Coerência

O Instrumento VII traz as questões referentes ao conhecimento da Coerência, que se subdividiu em cinco questões, três objetivas e duas dissertativas. Os resultados para a análise dessas questões estão na tabela que segue.

Tabela 20 – Desempenho na Coerência

Tarefa Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3

Escore Percentual Escore Percentual Escore Percentual Questão 1 – Progressão temática 6 28,6% 13 61,9% 12 57,1%

Questão 2 – Ausência de contradição interna 11 52,4% 16 76,2% 17 81% Questão 3 – Manutenção temática 19 90,5% 18 85,7% 20 95,2% Fonte: autor N de referência 21

A questão 1 requeria uma certa atenção do leitor para observar a ordem em que as informações estão dispostas no conto. G2 obteve melhor desempenho em relação a G3, contrariando, outra vez, a hipótese 3 da pesquisa, porém essa diferença não foi expressiva. O G1 apresentou resultados bastante significativos, revelando a dificuldade que os alunos tiveram em verificar a progressão das informações da narrativa.

Identificar a informação que não consta no texto, tarefa da questão 2, que ofereceu uma contradição a ser identificada pelos sujeitos, confirmou a hipótese 3 da pesquisa: G3 com melhor desempenho sobre demais grupos, e G1 com o pior desempenho em relação a G2 e G3. Cabe ressaltar ainda que o desempenho nos três grupos foi acima da média, o que revela conhecimento sobre o aspecto teórico abordado na questão.

A questão 3 levava o leitor a identificar qual título não servia para o conto. Nessa mais de noventa por cento do universo total de sujeitos da pesquisa obteve sucesso – é uma questão que trata da manutenção temática. G1 superou G2 nos acertos, mas a diferença é pouco significativa. G3 obteve o melhor desempenho como esperado pela hipótese 3 da pesquisa.

Duas questões dissertativas foram elaboradas no instrumento de coerência, uma delas aborda a relação com o mundo, aspecto teórico da coerência (Charolles, 1978); a outra aborda a brevidade, aspecto teórico da estruturação do conto, que foi colocada no instrumento de coerência por se tratar de um aspecto de sentido do texto, porém relacionado com a Superestrutura. Ainda que não possa ser identificada como um trecho do texto, a brevidade dita a estrutura do texto, pois é o que faz com que o conto seja um texto curto.

As categorias analisadas surgiram das respostas dadas pelos sujeitos dos três grupos e foram identificadas a partir de uma palavra central presente na escrita

da resposta ou representativa do sentido daquilo que havia sido escrito pelo sujeito. São elas:

Tabela 21 - Categorias para análise das respostas às questões 4 e 5 do instrumento de Coerência

Questão 4 – Brevidade Questão 5 – Relação com o mundo

Ocorrência Percentual Ocorrência Percentual

Grupo 1 Fé Persistir Milagre 15 4 2 71,4 % 28,6 % 9,5 % Fé Abandono Solidão 14 5 2 66,7 % 23,8 % 9,5 % Grupo 2 Fé Milagre Esperança 17 3 1 81,0 % 14,3 % 4,8 % Fé Empatia Persistir 15 2 4 71,4 % 9,5 % 28,6 % Grupo 3 Fé Superação Destino 14 5 2 66,7 % 23,8 % 9,5 % Fé Indiferença Mulher 10 6 5 47,6 % 28,6 % 23,8 % Fonte: autor N de referência 21

A partir dos resultados expressos no quadro, pode-se verificar que a fé foi recorrente em todos os grupos e nas duas questões. Nesse sentido, pode-se afirmar que, nesse universo de pesquisa, o conto de Lygia Fagundes Telles, a compreensão dos sujeitos é de que o texto trata da fé. Observando por outro prisma, essa resposta pode ter sido influenciada pelos resumos do instrumento de compreensão leitora nos quais aparecia a expressão força da fé. De qualquer forma, nas respostas para a questão em que eles deveriam definir brevemente a ideia do conto ou identificar a relação do texto com a vida real, a palavra fé teve presença recorrente e, quando não teve, as respostas levavam a esse sentido.

Outra palavra que apareceu em dois grupos, G1 e G2, foi persistir. Porém, em questões diferentes. Para mais de vinte e cinco por cento de G1 persistir foi usada para definir brevemente a ideia do conto, enquanto que, no G2, ela foi usada, no mesmo percentual, pelos sujeitos para estabelecer uma relação com a vida real, o

que implica dizer que a persistência humana é um aspecto presente na ficção, mas que faz parte da realidade.

Os dados também mostram que a palavra milagre apareceu entre as respostas dos sujeitos do G1 e do G2. Em ambos os grupos, ela apareceu na questão sobre a ideia do conto definida brevemente. Essa resposta também pode ter sido influenciada pelos resumos do instrumento de compreensão leitora. É indiscutível a proximidade entre as palavras milagre e fé, porém, nesses casos, as respostas apontavam para a crença de que houve um milagre na narrativa.

No G1, apareceram nos resultados as palavras abandono e solidão. Ainda que com escores não tão altos, essas ideias são oriundas das leituras desses sujeitos. Além disso, podem ser apontado como resultado o fato de que, nesse contexto de pesquisa, há entre os jovens pesquisados aqueles que enxergaram na relação entre a ficção e a realidade o abandono e a solidão.

No G2, apareceu entre os resultados a palavra esperança para a questão 4, que solicitava brevemente a ideia central do conto. A ideia de se colocar no lugar do outro também esteve presente na leitura dos sujeitos desse grupo, ao estabelecer relação entre a realidade e a ficção. Essa ideia está expressada pela palavra empatia.

Os dados mostram, no G3, palavras ou ideias que não estiveram presentes nas leituras de G1 e G2,seja para estabelecer uma ideia do conto de forma breve, seja para estabelecer relação entre o texto e a realidade. No caso da questão 4, pode-se observar a palavra superação e a palavra destino, ainda que em baixa ocorrência entre os sujeitos. Essas palavras não se distanciam muito do sentido de fé (no caso de destino) e de persistir (no caso de superação), porém são palavras que demonstram uma leitura diferenciada do grupo de professores sobre a história narrada. A partir desse dado pode-se inferir que o distanciamento em idade do G3 em relação a G1 e G2 pode ser um diferencial nas percepções de leitura.

Entre as palavras ou ideias que estabelecem relação com o mundo, os resultados evidenciam um dado interessante: o foco sobre a personagem narradora apareceu em mais de vinte e cinco por cento. Nesse caso, os sujeitos destacaram, como relação com o mundo, a indiferença das pessoas no que tange às questões pessoais, que, na leitura deles, também era perceptível na narradora, que não queria estabelecer laços humanos com a mulher. Outra percepção também um tanto refinada é a questão da mulher na sociedade e os desafios que ela precisa

enfrentar, a personagem com o filho nos braços representa essa realidade apontada em cinco respostas do G3.

Outro dado do G3 é a perda percentual da palavra fé nas ocorrências da relação com o mundo. Enquanto em G1 e G2 a fé parece ser um significado que relaciona ficção e realidade para mais de sessenta por cento dos sujeitos desses grupos, no G3 essa relação se estabelece para pouco menos de cinquenta por cento dos integrantes. Não se pode estabelecer uma avaliação de privilegio para essa ou aquela palavra, mas o dados mostram que as palavras em G1 e G2 aproximam os grupos e G3 apresenta palavras que o diferenciam nas questões de estabelecer brevemente uma ideia sobre o texto, assim como na questão de relacionar o conto coma vida real.