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Coesão “Estrutura e Delimitação do Texto”

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CAPÍTULO II ANÁLISE EXEGÉTICA “APOCALIPSE CAPÍTULO

3. Coesão “Estrutura e Delimitação do Texto”

O objetivo da coesão é tratar basicamente das articulações gramaticais existentes entre as palavras, orações e frases garantindo uma boa sequenciação e lógica dos eventos. Assim, iremos considerar o número de vezes que uma determinada palavra aparece no texto, à função de cada verso na narrativa, e a lógica dos eventos, procurando definir a coesão interna e a estrutura do texto.

O verso 1 começa e termina com a expressão “Depois destas” – (Μετὰ) que é uma preposição acusativa e (ταῦτα) um adjetivo pronominal demonstrativo acusativo neutro plural. O que conforme Nogueira26 indica uma mudança de nível narrativo, mas que também transmite a ideia de uma continuidade do texto em relação a uma informação anterior, e que bem pode indicar a ênfase que o autor pretendia produzir ao seu leitor, chamando-lhe a atenção para os fatos acontecidos, e para os que deveriam se suceder.

No entanto, permanece distinta a visão de um cenário totalmente diferente do anterior, pois neste, João inicia sua viagem celestial e tem a visão do trono.

A coesão interna do texto é bem delineada pela presença do termo “trono - θρόνου” que aparece 14 vezes nos versos 2,4,5,6,9 e 10. Salientando a observação de que é precedido 9 vezes pelo artigo definido genitivo masculino singular “τοῦ” nos versos versos 3,4,5,6 e 10; uma vez precedido por “τὸν” artigo definido acusativo masculino singular verso 2; uma vez precedido por “τοὺς” artigo definido acusativo masculino plural verso 4; e uma vez precedido por “τῷ” artigo definido dativo masculino singular. O uso do artigo junto ao substantivo indica a coesão temática do texto (O Trono de Deus) como de sua estrutura narrativa.

O termo “πνεύμα – espírito” é usado apenas duas vezes no texto versos 2 e 5, sendo que a primeira menção do termo “πνεύματι” – substantivo dativo neutro singular é usada para descrever o estado em que o visionário se encontra logo após receber o convite para ascender ao trono “em espírito”.

26 NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza. Experiência Religiosa e Critica Social no Cristianismo Primitivo.

A segunda menção do termo está no verso 5 “πνεύματα” substantivo nominativo

neutro plural - faz referência às sete lâmpadas de fogo que são os sete espíritos de Deus diante do trono.

Considerando o verso 3 identificamos que o mesmo possui omissão, inserção e variação em sua leitura; estas foram consideradas pelos copistas ao longo da transmissão do texto, e buscam delimitar uma leitura apropriada para o mesmo, bem como, contribuir para coessão da narrativa como um todo.

Assim o termo “καθήμενος – assentado” verbo particípio presente, voz média, nominativo masculino singular; são usados no texto cinco vezes 2,3,4,9 e 10 com exceção do verso 4 onde os que estão assentados são os anciãos, os demais versos 2,3,9 e 10 fazem menção ao que está assentado no trono. Isto mantém a dinâmica da narrativa de forma pré- estabelecida. O que também propõe que aquele que se assenta no trono exerce o domínio absoluto, e correlaciona-se com o motivo litúrgico da visão em si – “Deus Adorado como o Criador”.

Na análise do aparato nos deparamos com a variante do verso 3 acerca da omissão da expressão “καὶ ὁ καθήμενος - e o assentado” que parece se dar, pela razão de aparentemente promover uma leitura contraditória.

Sendo assim, propomos que uma razoável leitura feita sob o olhar da omissão deve ser:

3. Καὶ ὁ ὅμοιος ὁράσει λίθῳ ἰάσπιδι καὶ σαρδίῳ, καὶ ἶρις κυκλόθεν τοῦ θρόνου ὅμοιος ὁράσει σμαραγδίνῳ.

3. E a semelhança da visão pedra de jaspe e de sardônico, e listra de cor (arco íris) ao redor de o trono semelhança da visão a esmeralda.

Propomos que partindo desse ponto de vista, a intenção do autor passa a dar ênfase ao “aspecto da visão”, o que pode ser reforçado pela duplicidade da expressão: “ὅμοιος ὁράσει – aspecto/semelhança da visão” no início e no fim do verso, e que promove a coesão da leitura e da interpretação.

Assim, ficamos com um ponto de interrogação quanto à leitura original do mesmo. O termo “ὅμοιος – semelhante” adjetivo nominativo masculino singular é mencionado 5 vezes nos vs. 3,6 e 7 e sempre usado para explicar ou transmitir os aspectos da visão do Trono, como dos Viventes cuja aparência é de animais. O que nos permite entender a lógica e linguagem do visionário na transmissão de sua mensagem aos seus

ouvintes. Não trocar os termos, mas permanecer com o mesmo ajuda os ouvintes e entender a visão. O que mais uma vez denota a coesão e coerência do texto.

A expressão “ἐν τῷ οὐρανῷ - em o céu” sendo (ἐν preposição dativo); (τῷ artigo definido dativo masculino singular); (e οὐρανῷ substantivo dativo masculino singular) é mencionado apenas 2 vezes no texto versos 1 e 2 sendo precedidas, portanto, de modo exatamente iguais. Um fato interessante no texto é a ausência de menção da Terra, senão apenas por inferência, quando da citação da Criação como um todo. Desta forma mais uma vez temos a coesão do texto, o que pode ser verificada na fixação da visão e da mensagem no âmbito celestial. Isto nos permite também identificar que o visionário mantém o texto integralmente na perspectiva do trono no céu e o ambiente de culto. O que também concorda com as palavras de Nogueira27, de que o texto tem como centro de seu interesse o trono de Deus e a organização de poder e de culto em torno dele.

Diante destas considerações preliminares o texto se estabelece por meio de uma coesão interna coerente e precisa, e que podemos resumir da seguinte maneira:

a) A intenção do autor é clara ao mencionar seu objetivo “anunciar as coisas depois destas”;

b) A possibilidade de compreender sua ascensão ao céu e sua transformação transmite um cenário crescente e que facilita o grupo de ouvintes a entenderem o propósito de sua narrativa;

c) O cenário está bem centralizado no “trono no céu”;

d) O fato de Deus sempre ser mantido “assentado no trono” em todo o cenário narrativo, nos permite entender seu poderio e domínio.

e) A maneira de explicar a visão por meio de semelhanças “ὅμοιος ὁράσει” indica sua tentativa de alcançar o público alvo através da compreensão do conteúdo da visão;

f) O cenário celestial é claro mantén o foco do texto não destoando a sua mensagem.

A estrutura narrativa, portanto, deixa transparecer uma coesão interna precisa, inteligente e bem organizada. Tendo como função manter o leitor atento ao espetáculo que se inicia com introdução, seu ápice e sua conclusão.

27 NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza. Experiência Religiosa e Critica Social no Cristianismo Primitivo.

Podemos descrever a narrativa na forma de um teatro e um grande espetáculo, cuja cortina se abre e o espetáculo vai acontecendo paulatinamente.

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