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I. PARTE GERAL

2. Legislação aplicável; análise da Lei nos Planos de Saúde e sua

2.3. Coexistência de contratos antigos e novos

Antes do advento da LPS, não havia no Brasil lei específica para os planos de assistência à saúde. Arnaldo Rizzardo30 lembra que, antigamente, o seguro saúde e os planos de assistência à saúde vinham regulados no Decreto-lei n° 73, de 21 de novembro de 1966, que trata dos Sistema Nacional de Seguros Privados. Não havia muitas regras a respeito, o que facilitava a ocorrência de abusos contra os consumidores.

Com o advento da Lei dos Planos de Saúde, em 02 de setembro de 1998, e com as inúmeras Medidas Provisórias e Resoluções posteriores, passamos a ter uma regulamentação da matéria e, como já havia milhões de contratos de planos de saúde em vigor antes do advento da referida lei, passaram a existir duas situações distintas envolvendo os referidos contratos: os celebrados antes da nova lei e que não foram adaptados a ela (contratos antigos), que continuam em vigor, e os celebrados após, e obrigatoriamente com base na nova lei (contratos novos).

Embora tenha sido a LPS criada para disciplinar a matéria para os contratos celebrados a partir de seu advento, evidentemente, pois, nos termos do artigo 5º, inciso XXXVI, da Carta Magna, a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, prevê ela, em seu artigo 35 E,31 normas estabelecendo exigências para os contratos de

30RIZZARDO, Arnaldo. Planos de assistência e seguros saúde. Porto Alegre: Livr. do Advogado

Ed., 1999.

31Art. 35-E. A partir de 5 de junho de 1998, fica estabelecido para os contratos celebrados

anteriormente à data de vigência desta Lei que: I - qualquer variação na contraprestação pecuniária para consumidores com mais de sessenta anos de idade estará sujeita à autorização prévia da ANS; II - a alegação de doença ou lesão preexistente estará sujeita à prévia

planos de saúde celebrados antes, ou seja, impôs algumas alterações nos contratos antigos, envolvendo vários aspectos, dentre os quais reajustes de preços de contratos individuais, que deveriam ser previamente aprovados pela ANS.

Contudo, tal dispositivo, foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, que entendeu haver violação a ato jurídico perfeito. Com a declaração de inconstitucionalidade do referido dispositivo, as operadoras de planos de saúde passaram a entender que estavam livres para fazer o que bem entendessem com relação aos contratos antigos, pretendendo aplicar todas as cláusulas dos referidos contratos mesmo que manifestamente abusivas frente ao Código de Defesa do Consumidor. Houve até mesmo quem afirmasse que os contratos antigos não estariam

regulamentação da matéria pela ANS; III - é vedada a suspensão ou a rescisão unilateral do contrato individual ou familiar de produtos de que tratam o inciso I e o § 1o do art. 1o desta Lei

por parte da operadora, salvo o disposto no inciso II do parágrafo único do art. 13 desta Lei; IV - é vedada a interrupção de internação hospitalar em leito clínico, cirúrgico ou em centro de terapia intensiva ou similar, salvo a critério do médico assistente.

§ 1o Os contratos anteriores à vigência desta Lei, que estabeleçam reajuste por mudança de faixa etária com idade inicial em sessenta anos ou mais, deverão ser adaptados, até 31 de outubro de 1999, para repactuação da cláusula de reajuste, observadas as seguintes disposições: I - a repactuação será garantida aos consumidores de que trata o parágrafo único do art. 15, para as mudanças de faixa etária ocorridas após a vigência desta Lei, e limitar-se-á à diluição da aplicação do reajuste anteriormente previsto, em reajustes parciais anuais, com adoção de percentual fixo que, aplicado a cada ano, permita atingir o reajuste integral no início do último ano da faixa etária considerada; II - para aplicação da fórmula de diluição, consideram- se de dez anos as faixas etárias que tenham sido estipuladas sem limite superior; III - a nova cláusula, contendo a fórmula de aplicação do reajuste, deverá ser encaminhada aos consumidores, juntamente com o boleto ou título de cobrança, com a demonstração do valor originalmente contratado, do valor repactuado e do percentual de reajuste anual fixo, esclarecendo, ainda, que o seu pagamento formalizará esta repactuação; IV - a cláusula original de reajuste deverá ter sido previamente submetida à ANS; V - na falta de aprovação prévia, a operadora, para que possa aplicar reajuste por faixa etária a consumidores com sessenta anos ou mais de idade e dez anos ou mais de contrato, deverá submeter à ANS as condições contratuais acompanhadas de nota técnica, para, uma vez aprovada a cláusula e o percentual de reajuste, adotar a diluição prevista neste parágrafo.

§ 2o Nos contratos individuais de produtos de que tratam o inciso I e o § 1o do art. 1o desta Lei, independentemente da data de sua celebração, a aplicação de cláusula de reajuste das contraprestações pecuniárias dependerá de prévia aprovação da ANS.

sujeitos à fiscalização da Agência Reguladora, o que não é verdade, pois, o que foi decidido na ADIN nº 1931-8, é que o artigo 35 E da Lei de Planos de Saúde, é inconstitucional, por ferir o ato jurídico perfeito, o mesmo ocorrendo com a obrigatoriedade de ser oferecido o plano referência (definido na nova lei) àqueles que possuíssem contratos antigos. Foi apenas isto o que decidiu o STF, não tendo a decisão a abrangência que alguns pretendem, inclusive a de que os planos de saúde referentes aos contratos antigos não estariam sob a fiscalização da ANS.

Temos então, a partir do advento da LPS, duas situações distintas, quando tratarmos de planos de saúde: os contratos celebrados antes da nova lei e que não foram adaptados a ela, que passaram a ser denominados contratos antigos, que continuam em vigor, e os celebrados com base na nova lei, os contratos novos, aos quais aplicam-se as novas regras, se não forem incompatíveis com o Código de Defesas do Consumidor, norma principiológica, de aplicação primordial.

Com relação aos contratos antigos, o judiciário continuará a resolver as questões polêmicas e, algumas destas situações favoráveis aos consumidores, já consagradas em ampla jurisprudência, serão reforçadas pelas definições expressas na nova lei.