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COLABORAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL BURSCHENSCHAFT “A BUCHA”

1.2. O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE

1.2.6. COLABORAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL BURSCHENSCHAFT “A BUCHA”

Júlio Frank nasceu em Gotha na Alemanha em 1808 e faleceu no Brasil em 1841.

Foi um emérito professor do Largo São Francisco, trouxe muitos conhecimentos desde os primórdios da Alemanha até os dias atuais.

Sendo um garoto que nasceu fazendo parte da nobreza, porém nada foi declarado a este respeito, pois foi criado por uma família de encadernadores de um castelo do Duque, landgrave de Gotha a seu pedido para que no momento propício ser declarado a sua linhagem. Com o passar dos anos, foi crescendo e recebeu ajuda de Adão Weishaupt, que na época era a pessoa da mais alta confiança do duque, que a seu pedido ia todos os meses fazer visitas a família que cuidava da criança.

Na época de entrar para a escola foi até a residência desta família informando que havia feito a sua matrícula em uma escola e que tudo estava já por ora pago inclusive os uniformes.

Mas, essa família que tomava conta de Júlio Frank era muito pobre, sendo assim, às vezes aparecia na sua mesa de escola alguns livros, roupas e sapatos que não se sabiam quem as havia dado, somente a mão que o abençoava, sem conhecer na realidade quem o ajudava.

Foi crescendo e aprendendo tudo muito rápido, pois era um garoto de uma inteligência extraordinária que tinha uma facilidade fora do comum em aprender as coisas. Logo conquistou os professores e colegas de classes.

Porém, quando ficou adulto levava uma vida de extravagância e altos gastos, não conseguindo saldar partes de suas dívidas teve que pegar um navio e vir para o Brasil. Ao chegar aqui no Rio de Janeiro e logo após foi fixar residência em

Sorocaba, onde passou a ensinar os alunos que iriam vir para São Paulo para prestar os exames para adentrar nos cursos superiores da época. Os alunos gostavam tanto dele que o convidaram para vir para São Paulo ajudá-los nos resultados dos exames finais, sendo todos aprovados com louvor.

A população estudantil logo se tornou amiga de Júlio Frank, passando dos estudos a longas conversas de noites enluaradas.

Surgiu uma vaga de professor de história no Largo São Francisco que os alunos o convenceram de prestar o exame de admissão. Sendo admitido com louvor, passou a fazer parte do quadro dos professores.

Os alunos observavam que haviam pessoas que tinham um interesse em estudar, fazer parte da classe estudantil, porém, não tinham condições econômicas e financeiras para pertencerem aquela classe social. Reuniram-se para saber qual seria a melhor solução possível para esse embate. Não querendo buscar ajuda governamental.

Júlio Frank que já conhecia a Burschenschaft na Alemanha, explicou-lhes como funcionava esse sistema lá. Aconselhando-se com amigos e alunos foi mostrando que essa sociedade secreta deveria fazer parte alunos da época e ex- alunos, pois somente assim conseguiriam financiar os estudos dos alunos carentes. Os alunos eram filhos de cafeicultores e grandes fazendeiros que recebiam dinheiro de seus pais e se fizesse parte os ex-alunos, pessoas já com profissões já definidas ficaria muito mais fácil arrecadar fundos para a sociedade.

Nasce a Bucha, “a sociedade auxiliava economicamente os estudantes pobres, mas, por outro lado, constituía uma espécie de grupo destinado a funcionar na vida pública depois de terminados os estudos”.66

Segundo Afonso Arinos, as reuniões da Bucha realizavam-se habitualmente

66 SCHMIDT, Afonso. A Sombra de Júlio Frank. São Paulo: Associação dos Antigos Alunos da

à noite e eram feitas em uma casa no Jardim da Luz, em São Paulo. “Todo o ritual romântico das sociedades secretas era rigorosamente observado. Ruy, Rio Branco, Afonso Pena, Venceslau Brás, Artur Bernardes, nos pináculos das respectivas carreiras, não desdenhavam de, quando de passagem por São Paulo, homenagear a velha organização, prestando-se docilmente ao seu cerimonial”, relata, explicando também o simbolismo da Festa da Chave: “A transmissão da Chave era festa simbólica. Traduzia a permanência dos ideais da sociedade através das sucessivas gerações”.67

“Ao contrário da existência curta de seu fundador, a Bucha - como passou a ser chamada a Burschenschaft brasileira - teve vida longa e influência duradoura na sociedade brasileira: de caráter abolicionista e republicano durante o Império, de seus quadros saíram nada menos que todos os presidentes civis da República Velha (1889- 1930), à exceção de Epitácio Pessoa. Poetas como Castro Alves, Álvares de Azevedo e Fagundes Varela, e personalidades da história do Brasil como Rui Barbosa e o Barão do Rio Branco também pertenceram à Bucha, que, diferentemente de suas congêneres alemãs, sempre foi uma sociedade absolutamente secreta, que submergiu para a mais rigorosa clandestinidade após a Revolução de 1930.”68

“A decadência da Bucha é simultânea ao declínio da República Velha. O racha no Partido Republicano Paulista, que leva à fundação do Partido Democrático, ocorre antes na Bucha, durante disputa para a presidência do Centro Acadêmico XI de Agosto, entidade fundada em 1903 e comandada por bucheiros até 1925. Nesse ano, o XI de Agosto, em gesto pioneiro na política brasileira, institui o voto secreto para as eleições da diretoria, o que sela o fim da hegemonia da Bucha na direção da entidade.”69

“As correspondências dos bucheiros recebidas por Afonso Pena, inclusive a que tratava da nomeação de um deles, o jurista Pedro Lessa, para o Supremo Tribunal Federal, eram sempre encabeçadas pelas letras F.E.C., que representava os três pilares fundamentais da Bucha: Fé, Esperança e Caridade - a “Fé” na ciência e na própria sociedade secreta; a “Esperança” de manterem suas posições de comando na política; e a “Caridade”, significando o auxílio mútuo a ser prestado em qualquer circunstância da vida”.70

67 Op. cit, p.40. 68 Op. cit, p.25.

69 CHOMSKY, Cássio e outros. A heróica pancada. São Paulo: Memojus, 2003 apud SCHMIDT,

Afonso. Op. cit, p. 41.

Os passos da Bucha pós-1930 são incertos, mas sempre há esperança na sociedade e principalmente dos alunos e antigos alunos do Largo São Francisco em continuarem vivos em seus corações a Fé, a Esperança e sem sombra de dúvidas a Caridade para com os alunos carentes de recursos financeiros e que tem um sonho de serem formados por uma universidade, passando assim ter mais dignidade e igualdade na busca de melhor campo de trabalho.

Este é o motivo trazer a baila esses fatos do passado, para mostrar como é vivo dentro do seio estudantil essa força mútua de ajudar uns aos outros onde é a tarefa do Estado.

A sociedade civil tem buscado meios de amenizar os anseios que a sociedade como um todo tem incutido na cabeça dos indivíduos.