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Das Cláusulas abusivas quanto à aplicação de medidas pedagógica proibidas:

DOS PEDIDOS:

A) Das Cláusulas abusivas quanto à aplicação de medidas pedagógica proibidas:

Da relação jurídica oriunda do pacto firmado com cada consumidor, observa- se as abusividades estampadas nas cláusulas já acima referidas.

Com efeito, a Universidade demandada condiciona ao pagamento das

mensalidades vencidas: a) a continuidade das prestações dos serviços

educacionais, com ameaças de rescindir o contrato (cláusula 10); b) o direito à rescisão do contrato ou ao trancamento da matrícula (Cláusula 11, parágrafo 2º).

Como se não bastasse, ela exige, para expedir, a partir de 1º de outubro, a transferência da escola o pagamento de todas as 12 parcelas, inclusive daquelas cujo serviço escolar não foi ainda oferecido (cláusula 12). O que constitui um abuso maior e inqualificável.

Outra abusividade é aquela que resulta do confronto do Parágrafo Primeiro com o Parágrafo Segundo da Cláusula Onze. Com efeito dispõem eles que:

"CLÁUSULA DÉCIMA PRIMEIRA (....).

PARÁGRAFO PRIMEIRO – Em todos os casos, fica o CONTRATANTE

obrigado a pagar o valor das parcelas até o mês em que ocorrer a rescisão do Contrato."

PARÁGRAFO SEGUNDO: É concedida a rescisão do Contrato por

cancelamento ou trancamento, ao aluno em dia com seu pagamento, mediante

requerimento ao Reitor, protocolado na Secretaria de Controle Acadêmico da Universidade com data anterior a 30 de setembro de 1998."

Estes dois parágrafos foram concebidos para que o aluno fique refém da ré, como um eterno devedor, vendo-se obrigado a pagar por serviços que não recebeu. A artimanha da ré é simples, mas capciosa. Pelo disposto no Parágrafo Primeiro, fica o CONTRATANTE obrigado a pagar o valor das parcelas até o mês em que ocorrer a rescisão do Contrato. Já pelo previsto no Parágrafo Segundo, a rescisão do contrato só se dará quando o aluno estiver em dia com as mensalidades. Assim, se um aluno em débito por três meses com a demandada se vir obrigado a parar seus estudos e a rescindir o contrato ou a trancar a matrícula, por falta de condição econômica para prosseguir seus estudos, e só conseguir dinheiro para quitar as parcelas em atraso 10 meses depois, ele será obrigado a pagar não apenas três parcelas mas treze, para poder obter a rescisão ou o trancamento da matrícula.

Nesta situação, ele estará sendo coagido a pagar 10 parcelas a mais, sem que tal pagamento corresponda a qualquer prestação de serviço. Ou ele paga o que a ré impõe ou não consegue a rescisão ou o trancamento pretendido, sendo que nesta última situação o débito continua a crescer indefinidamente. Há nesse comportamento duas práticas abusivas: cobrança de valores indevidos e aplicação de medidas proibidas por lei.

Bem ao contrário do que dispõe o contrato padrão da ré, a Lei nº 9.870, de 23

de novembro de 1999 – que dispõe sobre o valor total das anuidades escolares e

dá outras providências – contempla, em seu artigo 6º que:

"Art. 6o São proibidas a suspensão de provas escolares, a retenção de documentos escolares ou a aplicação de quaisquer outras penalidades pedagógicas por motivo de inadimplemento, sujeitando-se o contratante, no que couber, às sanções legais e administrativas, compatíveis com o Código de Defesa do Consumidor, e com os arts. 177 e 1.092 do Código Civil Brasileiro, caso a inadimplência perdure por mais de noventa dias.

§ 1o Os estabelecimentos de ensino fundamental, médio e superior deverão

expedir, a qualquer tempo, os documentos de transferência de seus alunos, independentemente de sua adimplência ou da adoção de procedimentos legais de

cobranças judiciais."

Não se pode dizer que o comportamento da ré, no sentido de aplicar medidas pedagógicas aos alunos cujos pais estivesse inadimplentes, fosse, anteriormente, legal, posto que a Medida Provisória nº 1.890-67, de 22 de outubro de 1999, que dispunha sobre o assunto e que teve os atos praticados sobre sua égide mantidos seus efeitos pelo artigo 10 da supramencionada Lei 9.870/99, previa, em seu artigo 7º, que:

"São proibidas a suspensão de provas escolares, a retenção de documentos escolares, inclusive os de transferência, ou a aplicação de quaisquer outras penalidades pedagógicas, por motivo de inadimplemento." (f. 163 dos autos de IC 031/98).

A Lei nº 8.170, de 17 de janeiro de 1991, que vinha sendo mantida revogada por sucessivas Medidas Provisórias e agora definitivamente revogada pela Lei de Mensalidade Escolar, apresentava idênticas proibições em seu artigo 4º.

Como se não bastasse, o comportamento do representante da demandada ofende também o artigo 71(10) do Código de Defesa do Consumidor e o artigo

345(11) do Código Penal, que prescrevem tal proceder como crime.

Embora o Estabelecimento réu tenha o direito de receber os valores que lhe são devidos, não pode ele lançar mãos de meios proibidos por lei para tanto. Deve ele se valer dos "procedimentos legais de cobranças judiciais", como previsto pelo parágrafo 1º, "in fine", do artigo 6º da Lei 9.870/99.

Nesse sentido já vinha decido o Judiciário, como se vê pelos traslados abaixo: "Vê-se, pois, que a instituição de ensino deve usar dos meios legais

disponíveis para o recebimento de seu crédito e não vedar o acesso da

impetrante a domumentos de interesse de sua vida acadêmica" (Dra Janete Lima Miguel, Juíza Federal Substituta, ao conceder liminar no Mandado de Segurança nº 98.3128-6).

"ADMINISTRATIVO. ENSINO SUPERIOR. CANCELAMENTO DE

FREQÜÊNCIA POR ATRASO NO PAGAMENTO DAS MENSALIDADES.

Não há previsão legal para cancelamento de matrícula por falta ou atraso no pagamento de mensalidades. Todo débito se extingue, se não atendido a tempo,

através de execução compulsória judicial e não pela coação administrativa."

(AMS Nº 89.01.15450-6/MG – Relator: Euclydes Aguiar – TRF da 1ª Região, 1ª Turma – DJU de 26.03.90, Seção II, 4.987).

Aliás, o próprio contrato usado pela ré já prevê as medidas que ela deve e pode tomar em caso de inadimplência que, em verdade, não são poucos, como se vê pelo disposto nas cláusulas 8ª, parágrafo segundo e 9ª(12).

B) Das cláusulas abusivas quanto a não possibilidade de renovação da