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4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.2 Métodos e técnicas

4.2.1 Coleta de dados

Primeiramente, foi realizada a revisão bibliográfica e a pesquisa documental que abrangeu as normas que regem o PMCMV e o Trabalho Social e suas peças técnicas, as quais permitem acesso aos dados de sua execução – Projeto do Trabalho Técnico Social (PTTS), Plano de Intervenção do Trabalho Técnico Social (PITTS), Relatório de Acompanhamento do Trabalho Técnico Social (RATTS) e Relatório Final do Trabalho Técnico Social. Os projetos arquitetônicos do Residencial Atalaia também constituíram dados importantes sobre a Representação do Espaço.

Os procedimentos metodológicos foram eleitos após o levantamento de instrumentos de Avaliação Pós-Ocupação (APO) e técnicas de pesquisa das ciências sociais. Mas a pesquisa não deve ser considerada, a rigor, uma APO. O trabalho de campo compreendeu o levantamento das relações funcionais e simbólicas dos moradores com o espaço de morar, a partir da observação direta do comportamento ambiental dos moradores, walkthrough, entrevistas semiestruturadas26 com o síndico e com coordenador do Trabalho Social, e aplicação de questionários aos moradores.

26 Roteiro de perguntas que permite certa flexibilidade em sua aplicação, de modo a obter as

O walkthrough é um método de avaliação de desempenho do ambiente construído muito utilizado em Avaliação Pós-Ocupação. No nosso estudo foi utilizado o “walkthrough acompanhado”, para identificar se o ambiente atende às necessidades dos moradores. Trata-se de um procedimento que combina observação direta acompanhada pelo usuário do ambiente, o qual dá informações sobre o seu uso. Fizemos anotações no caderno de campo, fotografamos os ambientes e utilizamos a planta baixa para identificação de dados relevantes em alguns dos ambientes.

A técnica de observação direta foi aplicada visando à compreensão dos modos de uso do espaço correlacionando-os às dimensões de habitabilidade levantadas na revisão bibliográfica e, também, à assimilação dos saberes transmitidos e requeridos pelo Trabalho Social.

Realizamos a “observação incorporada”27, pela qual pretende-se apreender dados

das subjetividades implicadas, estando atento ao que se vê e se ouve, em busca de dados da experiência sensório-cognitiva. Nessa escolha, a postura do observador tornou-se menos distanciada e neutra, e a observação foi tomada como experiência vivenciada (RHEINGANTZ apud RHEINGANTZ et al., 2009). Observar o comportamento dos moradores e sua relação com o ambiente significa observar sistematicamente como as pessoas usam os ambientes: indivíduos, pares de pessoas, grupos pequenos e grandes grupos (ZEISEL, 1990, tradução nossa) e, ao mesmo tempo, como o ambiente apoia (oportuniza) ou interfere (restringe) nos comportamentos próprios a determinado ambiente. Segundo o autor, por se tratar de método empático, direto, dinâmico e que permite gradação da presença do pesquisador no espaço, qualifica-se por produzir insights no início da investigação, documentar regularidades e, ao final, identificar informações-chave.

permitiram complementar os dados sobre o TS realizado e, ainda, apreender do síndico dados sobre a efetividade do TS e sua percepção sobre sua competência para a gestão.

27 A observação incorporada deriva-se da abordagem experiencial. É uma técnica de observação

aberta à experiência, que foge à operacionalização e instrumentalização rígidas, dado que estas não apresentam eficiência intrínseca. A reflexão sobre a experiência de pesquisa deve ser valorizada, pois, pressupõe-se que a atenção flutuante deve compor a experiência ao lado dos instrumentos aplicáveis ao roteiro e registro de dados (REINGEINTZ et al., 2009).

Elegemos a posição de não-participante e reconhecido para observar o comportamento. Para neutralizar o efeito Hawthorne28, estivemos por algumas

vezes no Residencial Atalaia antes da observação sistemática. Dessa maneira, para que os observados se acostumassem com a nossa presença, durante os cinco primeiros dias mantivemo-nos no local sem registro de informações e sem fotografar o local (ZEISEL, 1990).

A observação foi realizada entre os meses de setembro a dezembro de 2014. Procuramos realizá-la em todos os dias da semana, ao dia e à noite, de forma que fosse mais representativo do cotidiano do morador. Houve intervalos determinados pela nossa disponibilidade ou dos moradores. Inicialmente realizamos o reconhecimento do ambiente interno do Residencial, sem ainda voltar nosso olhar para um tema específico. Desde esse momento inaugural quisemos apreender o ambiente sob uma abordagem experiencial29 cuja técnica é

a observação incorporada.

Esta observação do cotidiano deu-se durante 51, dos quais 29 dias foram também utilizados para a aplicação do questionário. A observação do espaço interno da unidade habitacional ocorreu oportunamente quando da aplicação deste instrumento de pesquisa. Ainda sobre o espaço interno, cinco moradores convidaram-nos para visitar seus apartamentos, portanto, estas visitas compuseram também nossa observação do ambiente interno. Nos apartamentos, as visitas aconteceram principalmente à noite, pela disponibilidade dos moradores. O entorno do Residencial compôs nosso recorte empírico.

28 Mudança de comportamentos quando os sujeitos são observados, ou seja, um viés metodológico

não desejável.

29 A contribuição da abordagem experiencial para a avaliação da qualidade do lugar deve se dar

a partir do entrelaçamento e da qualificação dos olhares técnicos e cognitivo-experiencial, de modo a enriquecer a compreensão de como os atributos do ambiente são percebidos e experienciados pelos usuários e observadores, reconhecendo-os como sujeitos sócio-históricos importantes para a construção do lugar (RHEINGEINTZ et al., 2009). O olhar cognitivo-

experiencial deve ser entendido como aquele que extrapola a observação do comportamento ambiental, inserindo os sentidos, as emoções, a experiência sensório-motora, linguagem verbal e não verbal. A razão e a técnica se deixam permear pela experiência subjetiva do pesquisador ao lidar com sistemas complexos, por exemplo, a experiência socioespacial. Isso quer dizer a consideração da imprevisibilidade em face de uma observação conscientemente guiada, mas,

Utilizamos diário de campo, fotografia e mapas temáticos, como formas de registro e sistematização da nossa experiência de pesquisa.

O Quadro 1 apresenta como se distribuiu no tempo a observação direta nas escalas do morar e nas reuniões e assembleias com acompanhamento da equipe técnico social.

Quadro 1 – Frequência da observação direta nas escalas do habitar e no Trabalho Social. Residencial Atalaia, 2014

Frequência

Escala 5 dias

30 3 dias 2 dias 7 dias 1 dia 29 dias31 1 dia 3 dias

Bairro

Residencial Apartamento Trabalho Social