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Os dados foram coletados por meio de depoimentos das professoras, a partir de um roteiro. Connelly e Clandinin (1995, p. 23) afirmam que, na investigação narrativa, “diversos modos de coleta de dados são possíveis já que o investigador e o participante trabalham juntos

em uma relação de colaboração.”

Conforme Creswell (2014, p. 69 - 70): “os pesquisadores narrativos coletam histórias de indivíduos (além de documentos e conversas coletivas) sobre as experiências vividas pelos investigados.” Estas historias narrativas podem ser coletadas por meio de documentos, entrevistas e outras fontes de dados qualitativos. Sobre a coleta de dados, o autor também salienta que se deve “escolher um ou mais indivíduos com histórias e ou experiências de vida a serem contadas e passar um tempo com eles, colhendo suas histórias por meio de múltiplos

Nessa ótica, os relatos elaborados pelas professoras contaram a visão delas sobre a constituição da escola de educação integral. Também foram utilizados pequenos textos escritos pelas participantes, produzidos na primeira reunião pedagógica que ocorreu na escola. Esses escritos se relacionavam às expectativas do grupo de professoras com o projeto da escola.

Para realizar a coleta de dados, reuni o grupo de sete professoras que fariam parte da pesquisa na sala de professores. Neste dia, ocorreu uma conversa sobre como seria o trabalho, quais eram as ideias e o que era pretendido com a investigação. Foi pontuada a importância da sinceridade e do registro detalhado dos fatos e das situações que fossem abordadas em seus depoimentos escritos.

O trabalho de pesquisa se iniciava a partir daquela reunião em que, todas concordaram em participar da investigação. A primeira tarefa foi a elaboração de um depoimento escrito individualmente. O texto foi desenvolvido, observando as questões de um roteiro que norteariam sua elaboração. Os depoimentos foram elaborados, recolhidos e retomados se necessário para esclarecer fatos ou aprofundar a compreensão de situações abordadas pelas participantes.

Nesse dia, foi entregue ao grupo o roteiro (Anexo A), que foi lido e discutido juntamente com elas, e estipulou-se um tempo, 30 dias, para que esse texto retornasse às minhas mãos. No entanto, quem terminasse antes e quisesse me entregar poderia fazê-lo. O roteiro de questões foi um norte para que pudessem começar a pensar a partir dele a história de constituição da escola. Assim, foi possível realizar a leitura, a releitura e o aprofundamento das ideias trazidas nos textos por cada participante, em seu exercício de pensar e escrever, como também avançar nos entendimentos, produzindo novas compreensões, novas interpretações, novas relações e significados sobre os fatos que ocorreram durante a constituição da escola de educação integral.

A ideia de seguir o roteiro se propunha, também, a assegurar que os depoimentos se mantivessem firmes ao objetivo da pesquisa, visava a produção de textos mais descritivos sobre o contexto investigado e com desdobramentos do tema principal. Neles, as participantes relatavam acontecimentos, eventos significativos e curiosidades que envolveram a constituição da escola de educação integral em questão. Os depoimentos se configuraram em histórias contadas pelo grupo, em que cada uma pôde expressar o seu modo de ver e entender os episódios ocorridos naquele contexto.

Conforme Connelly e Clandinin (1995), os participantes de uma investigação com abordagem narrativa costumam contar muitas histórias ao explicarem suas ações, descreverem seu trabalho ou mesmo relatarem seu cotidiano escolar. No caso dessa pesquisa, as participantes foram convidadas a fazer um exercício de escrita de suas memórias, na intenção de construir e reconstruir os fatos que compõem essa narrativa.

Durante a leitura dos depoimentos, identifiquei alguns pontos relatados que poderiam ser mais explorados. Assim, foi necessário retomar, com quatro professoras, alguns trechos de seus textos. Para isso, foram marcados encontros individuais, agendados previamente, com cada uma das participantes, com a intenção de aprofundar algumas questões e esclarecer as dúvidas. Os encontros se transformavam em conversas sobre o passado, em que a professora relembrava a história, trazendo curiosidades da época de constituição da escola. Na medida em que as professoras falavam, fiz gravações desses momentos e anotações que julguei importantes para o estudo.

Nesses encontros emergiam lembranças, boas ou más, que, por algum motivo, vinham às mentes daquelas professoras. Essas conversas individuais, ao retomar os relatos, possibilitaram conhecer melhor a professora, suas ideias e impressões sobre assuntos que permeiam a educação e a escola que não haviam aparecido no depoimento escrito.

Outro instrumento de coleta de dados utilizado foram os registros escritos pelas professoras, elaborados na primeira reunião pedagógica, ocorrida em fevereiro de 2009. Os textos tratavam das expectativas daquele grupo com relação à constituição da escola de educação integral. Eram a expressão do que as professoras esperavam da nova proposta de escola. De acordo com Connelly e Clandinin (1995), esses registros se tornariam outras fontes de dados relevantes para a narrativa.

Quando de posse desses documentos, cedidos pela equipe da escola, entendi que poderiam ser de grande valia, pois vinham ao encontro do estudo. Além disso, esses registros possibilitariam que, ao final do estudo, fosse possível refletir com o grupo de professoras sobre o que elas esperavam daquela experiência e se teria sido o que realmente aconteceu.

Realizou-se, também, uma última reunião com todo o grupo para encerrar a pesquisa. Neste encontro, agradeci a participação de todas, e as professoras tiveram a oportunidade de falar sobre como se sentiram participando da pesquisa, sobre como foi relembrar e poder escrever e conversar sobre sua história e da escola. Algumas das integrantes do grupo de

professoras mencionaram nunca ter parado antes para pensar ou conversar sobre a história da escola.

O fato de eu estar próxima ao ambiente de pesquisa me fazia, constantemente, refletir sobre o quão importante era me distanciar das informações para poder analisá-las sem a minha interferência, mas, ao mesmo tempo, esta proximidade me proporcionava um olhar de análise privilegiado, visto que convivia naquele espaço e acompanhava de perto o cotidiano escolar. O que me interessava era contar a história vista pelos olhos e pela interpretação daquele grupo de professoras. Procurei manter o distanciamento e dialogar com as participantes da pesquisa para compor esta narrativa.

Como comenta Gessinger (2006, p. 25): “entre o pesquisador e os participantes, existe um processo de colaboração sustentado por um sentimento de conexão entre os envolvidos. De fato, é importante que se estabeleça essa relação, para que o trabalho possa fluir.” Percebendo dessa forma, fui me sentindo mais confiante por estar ali. Seguiríamos juntas, as professoras e eu, por um caminho inverso ao que tinham feito até o momento, de volta ao passado; tentaríamos mapeá-lo, no sentido de compreendê-lo e torná-lo visível por meio das palavras.

Os depoimentos escritos que recebi ao longo da investigação me oportunizaram conhecer melhor as participantes daquele grupo. O que as diferenciava era também o que as aproximava ou, como argumenta Morin (2000), seus antagonismos se complementavam. Pude perceber que era um grupo unido em torno de um desejo, de um sonho que acreditava ser possível e trabalhava intensamente para que aquele projeto se concretizasse.

Seus pensamentos individuais e diferentes sobre a educação integral as faziam ir além na busca de um entendimento comum, globalizado e que traduzisse a identidade do grupo enquanto unidade. As participantes uniam os saberes e as práticas na tentativa de construir algo novo; não se tratava, como afirma Morin (2000, p. 46): [...] “de abandonar o conhecimento das partes pelo conhecimento das totalidades, nem da análise pela síntese [...], mas sim conjugá-

las.”

Assim, os depoimentos escritos oportunizaram o conhecimento da história de constituição da escola na visão das participantes e, junto como os outros dados coletados, possibilitaram essa narrativa. Eu e o grupo de professoras contamos juntos a história de constituição da escola de educação integral.