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3 METODOLOGIA

3.2 COLETA DOS DADOS

O pesquisador qualitativo é “visto como um bricoleur, um indivíduo que confecciona colchas, ou, como na produção de filmes, uma pessoa que reúne imagens transformando-as em montagens” (DENZIN; LINCOLN, 2006, p. 18). Para tanto, a fim de compor o corpus da presente pesquisa, foram coletados tanto dados primários, como secundários, de forma a torná- lo o mais representativo possível e, assim, conferir validade e credibilidade à pesquisa (PAIVA JÚNIOR; de SOUZA-LEÃO; MELLO, 2011). Dessa forma, buscou-se na construção do corpus não uma quantidade de conteúdo, mas sim representatividade e relevância consoante ao objetivo da pesquisa.

No que tange aos dados primários, foram realizadas entrevistas em profundidade, utilizando-se de roteiro de entrevista semiestruturado. “A entrevista semiestruturada tem como objetivo principal compreender os significados que os entrevistados atribuem às questões e situações relativas ao tema de interesse” (GODOY, 2006, p. 134), na própria linguagem do sujeito.

Considerando cada objetivo específico, delineou-se um roteiro de questões dividido em quatro blocos, um para cada objetivo específico. Tais objetivos estão alinhados com cada pilar do tripé, e também com a análise do processo de internacionalização das empresas. Os roteiros

elaborados para as entrevistas, tanto para as empresas como para os agentes formais institucionais, encontram-se no Apêndice I a esta dissertação.

Cabe salientar, entretanto, que os roteiros das entrevistas foram apenas um guia e que novas questões foram adicionadas conforme o fluxo de cada entrevista, ou seja, os questionamentos não ficaram necessariamente restritos ao roteiro. Da mesma forma, algumas questões foram suprimidas quando o entrevistado já respondia ao teor da questão anteriormente. Assim, os entrevistados puderam se desviar da sequência das perguntas, respondendo-as da forma mais livre possível. O foco era obter as visões individuais dos entrevistados sobre o tema da pesquisa (FLICK, 2013).

Esta flexibilidade também é uma das vantagens da pesquisa qualitativa, pelo fato de ser mais permissiva, não havendo a necessidade de definirem-se com antecedência todas as práticas de pesquisa, uma vez que se pode averiguar o que está disponível no contexto e o que o pesquisador pode fazer naquele cenário (DENZIN; LINCOLN, 2006). Ademais, “mesmo quando o pesquisador utiliza um roteiro, ele não deve ser rígido, impedindo que o entrevistado se expresse em termos pessoais ou siga uma lógica diferente do entrevistador” (GODOY, 2006, p. 134), ainda que seja importante cumprir todas as questões estabelecidas pelo roteiro.

Considerando os critérios de escolha dos casos expostos, inicialmente buscou-se na imprensa informações a respeito de marcas de chocolate da região com experiência internacional que foram contatadas e convidadas a participarem da pesquisa. E os primeiros entrevistados indicaram os contatos de outras empresas exportadoras. É o que se chama de técnica “snowball” ou “bola de neve”, que é uma seleção intencional, sendo uma estratégia que envolve a localização de alguns participantes-chaves que atendem aos critérios estabelecidos para participação no estudo (MERRIAM; TISDELL, 2016). Assim sendo, conforme recomenda tal técnica, ao final das entrevistas era solicitado aos entrevistados que sugerissem outros sujeitos que pudessem contribuir com a pesquisa.

Isto posto, foi enviada carta de apresentação de pesquisa (exposta no Apêndice II) e entrou-se em contato com as seguintes marcas de chocolate: AMMA Chocolates, Baianí, Mestiço, Chor, Fazenda Sagarana, Mendoá, Coroa Azul, Casa Lazevicius, Cocacau e Modaka. Todas as empresas retornaram ao contato realizado, porém algumas não se encaixavam nos critérios delineados para a seleção de caso da pesquisa e, por essa razão, não foram selecionadas para compor a pesquisa.

Inicialmente, foi realizada uma entrevista com a empresa Mendoá, como um pré-teste, de forma exploratória, a fim de se validar a pertinência das questões do roteiro de entrevista proposto e efetuar eventuais modificações no roteiro. Ademais, no decorrer da entrevista

constatou-se que a empresa não se encaixava nos critérios propostos para a presente pesquisa, pelo fato de ainda não ser uma empresa exportadora. A Mendoá encontra-se hoje em uma fase de pré-internacionalização, uma vez que está efetuando prospecções comerciais internacionais e a participação em feiras internacionais. Entretanto, até o momento da entrevista, não havia efetivado nenhuma venda internacional, apenas o envio de amostras.

Dessa forma, após o filtro de seleção dos casos segundo os critérios apresentados, chegou-se a um número de 3 empresas produtoras de chocolate Tree to Bar do sul da Bahia e com experiência internacional: AMMA Chocolates, Baianí e Mestiço. As entrevistas foram realizadas com os sócios proprietários e/ou tomadores de decisão envolvidos nas estratégias de internacionalização destas empresas conforme o exposto no quadro 5, abaixo:

Quadro 5 – Entrevistas nas empresas

Empresa Cargo Data Duração entrevista (áudio)

Baianí

Sócia e Chocolate Maker 02/08/2019 e 03/09/2019

1h16min (1ª parte) 1h30min (2ª parte) Sócio e Responsável pelo

cacau 03/10/2019 1h32min

Mestiço Sócio e Chocolate Maker 10/09/2019 1h36min

Diretora Administrativa 23/10/2019 1h07min

AMMA Fundador / CEO 08/11/2019 1h04min

Vendas Internacionais 25/10/2019 59min

Fonte: elaborado pela autora.

Também se buscou entrevistar alguns agentes formais institucionais apoiadores da internacionalização, a fim de avaliar de uma maneira mais profunda o arranjo institucional no âmbito do chocolate bean to bar e Tree to Bar brasileiro que busca promover a exportação deste chocolate. A partir de indicações das empresas entrevistadas e informações da imprensa, entrou- se em contato com a ABICAB, Apex-Brasil, Cacau Sul Bahia, FIEB, CEPLAC, CIC (Centro de Inovação do Cacau) e Associação Bean to bar Brasil. Destas, obteve-se retorno apenas das listadas no quadro 6, com as quais foi possível realizar entrevista. Dos agentes formais institucionais entrevistados, todos possuem uma abrangência federal, com exceção da FIEB, que tem uma atuação estadual, mas que faz parte de um sistema nacional – pertencente ao CIN (Confederação Nacional da Indústria).

Quadro 6 – Entrevistas com agentes formais institucionais

Agente formal institucional Cargo Data Duração entrevista (áudio)

ABICAB Gerente de Projetos Internacionais 02/10/2019 1h22min APEX Gestor do Projeto Setorial Brazilian

Sweet and Snacks 28/11/2019 59min

FIEB

Gerente do Centro Internacional de

Negócios 20/11/2019 1h13min

Analista de Comércio Exterior 11/11/2019 54min Associação Bean to bar

Brazil Presidente 10/09/2019 47min

Fonte: elaborado pela autora.

Ainda, foi também entrevistada a idealizadora do blog “Chocólatras Online”, quem organiza anualmente o Prêmio Bean to bar Brasil, considerada uma entusiasta do chocolate bean to bar brasileiro e uma formadora de opinião. A indicação de seu nome veio por meio de uma das empresas entrevistadas, por ter uma visão mais técnica e imparcial do meio e, por essa razão, também optou-se por entrevista-la, a fim de entender melhor o contexto do chocolate bean to bar e Tree to Bar brasileiro de uma forma abrangente, ainda que ela não esteja vinculada a nenhuma empresa e/ou associação. Sua entrevista teve a duração de 59 minutos e 45 segundos. Dessa forma, a coleta de dados totalizou um número de 13 entrevistas que juntas somaram 12 horas e 44 minutos de áudio.

As entrevistas foram realizadas entre os meses de julho a novembro de 2019 e efetuadas individualmente com os gestores das empresas e os gerentes dos projetos de internacionalização nos agentes formais institucionais, via Skype ou ligação de vídeo e/ou áudio de Whatsapp, devido à distância física entre a pesquisadora e o objeto de pesquisa. As únicas entrevistas presenciais foram a gerente de projetos da ABICAB, e o gestor do projeto setorial na APEX no seu escritório regional em São Paulo. A pesquisadora também visitou a fábrica da empresa Mestiço, em São Paulo, a fim de melhor compreender o processo de fabricação do chocolate Tere to Bar e obter maior profundidade de conhecimento para a análise dos dados. Todas as entrevistas realizadas foram gravadas e transcritas, e compuseram o corpus da pesquisa, organizado juntamente com os dados secundários coletados.

Como dados secundários, utilizou-se de documentos como relatórios e informativos de instituições de pesquisa não acadêmicas, como estudos de mercado realizados pelo SEBRAE, além de matérias veiculadas pela imprensa e websites e apresentações institucionais e vídeos das empresas e associações. O uso dos documentos é importante nos estudos de caso como uma forma de ampliação das evidências oriundas de outras fontes (YIN, 2010).