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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.7. Colheita e pós-colheita

Na horticultura moderna, a rentabilidade de um cultivo deve estar ligada à obtenção de sua colheita em um período de tempo determinado, mais ou menos dilatado, em função dos requerimentos do mercado a que é dirigido o produto. No caso concreto do melão, para o estabelecimento de calendários de produção, além do clima, deve-se ter em conta numerosos aspectos como: cultivar, fisiologia da planta, técnicas agronômicas e ciclos de cultivo (MAROTO, 1997). O acúmulo de gráus dia (temperatura acumulada) durante o ciclo, também vem sendo considerado (BRANDÃO FILHO & VASCONCELLOS, 1998) .

As condições de cultivo do meloeiro têm grande influência na qualidade dos frutos, pois a coloração e as características organolépticas são dependentes de adubação, solo, clima e disponibilidade hídrica. O tamanho dos frutos tem relação direta com a área foliar, que influi decisivamente na produtividade das plantas (TORRELLARDONA, 1983).

CHITARRA & CHITARRA (1990) relacionaram o melão como um fruto não climatérico, podendo entretanto, em determinadas condições, apresentar padrão climatérico. Algumas pesquisas relatam que as aberturas das regiões rendilhadas servem como sítios de transpiração dos frutos, o que contribui para o encurtamento da vida pós-colheita. LESTER & DUNLAP (1985) demonstraram

que o amolecimento pós-colheita e a senescência dos frutos climatéricos de melão rendilhado não envolvem o amolecimento enzimático da parede celular, que comumente ocorre com frutos climatéricos. A manutenção de umidade por envolvimento dos frutos colhidos com filme plástico prolonga o período viável de consumo dos frutos, enquanto que, na armazenagem em umidade próxima da saturação não favorece a manutenção da qualidade dos frutos armazenados (LESTER, 1985; LESTER & BRUTON, 1986). Estudos sobre conservação pós- colheita de frutos em sistemas refrigerados mostraram que a tolerância ao frio foi dependente da cultivar avaliada (GOMES JUNIOR et al., 2000a; 2000b; MENDONÇA et al., 2000).

De acordo com PRATT et al. (1977), o grau de maturação com que o fruto é colhido é fator intimamente associado com a sua qualidade comercial. Durante a maior parte do desenvolvimento dos frutos, o conteúdo de glicose e frutose vai acumulando-se. Quando se inicia a maturação, ele começa a decrescer, ao passo que a sacarose, que até então se mantivera mais ou menos constante, tende a aumentar. A diminuição da glicose e da frutose decorre da participação parcial dessas substâncias no metabolismo do fruto e, em parte, porque elas se convertem em sacarose. Todavia, como o aumento da sacarose é mais rápido do que a diminuição da glicose e frutose, conclui-se que, durante toda a fase de amadurecimento, há uma transferência de sacarose da planta para o fruto. Assim, o estádio ideal para o consumo é quando se dá o despreendimento do fruto (BLEINROTH, 1994).

Nos primeiros estádios de desenvolvimento dos frutos, o conteúdo em açúcares totais é escasso e é formado principalmente por frutose e glicose. À

medida que o fruto de melão vai amadurecendo, o conteúdo de açúcares vai sendo incrementado até superar 97% dos sólidos solúveis, sendo a sacarose o hidrato de carbono mais importante, com mais de 50% do total. Em estudos efetuados sobre melão rendilhado, tem-se observado que, no princípio da formação dos frutos, a glicose e a frutose se formam graças à atividade da enzima invertase. Porém, com o passar do tempo e o desenvolvimento e amadurecimento dos frutos, a atividade dessa enzima vai diminuindo, enquanto vai sendo incrementada a operatividade de outra enzima, a sacarose fosfato sintase, encarregada de formar a sacarose (Mc COLLUM et al., 1988).

A composição de açúcares nos frutos de melão, durante seu desenvolvimento e amadurecimento, é um aspecto de grande interesse na determinação do ponto de maturação dos frutos. Se os frutos são colhidos prematuramente, como o conteúdo em sacarose dos mesmos procede da decomposição e translocação dos hidratos de carbono das folhas, processo que ocorre muito tardiamente, a polpa pode não ter alcançado um grau suficiente de doçura, e este processo não se altera com o passar do tempo de armazenamento (WELLES & BUITELAAR, 1988; MAROTO, 1997).

A determinação do momento ótimo de colher os frutos é um tema complexo, o que também complica o estabelecimento de um calendário de colheita, existindo diversos sintomas externos que tratam de correlacionar o aspecto dos frutos e planta com este momento, como, por exemplo, o aparecimento de uma mancha concêntrica na base do pedúnculo do fruto, o murchamento da primeira folha situada sobre o fruto, a viragem da coloração da cortiça dos frutos, amarelecimento da cortiça da parte inferior do fruto, incremento

do aroma e fragrância, sendo ainda usado o método do refratômetro (MICCOLIS & SALTVEIT JUNIOR, 1991; MAROTO, 1997).

Os melões "Cantaloupe", cujo crescimento é muito constante, demonstram sua maturação fisiológica com o desenvolvimento da camada de abscisão, na inserção do pedúnculo, que dá uma indicação mais adequada do ponto de colheita. De acordo com o grau de desenvolvimento dessa camada, os melões apresentam três estádios: 1- quando a capa de abscisão está na metade do seu desenvolvimento (“half slip”); 2- quando está completamente desenvolvida (“full slip”); e 3- quando o melão se desprende da planta. Nesse último estádio, a fruta está imprópria para exportação (BLEINROTH, 1994).

Os primeiros 15 dias após a polinização são de crescimento exponencial dos frutos, ao término dos quais o fruto alcança a metade do volume total e, a partir desse estádio, inicia-se a troca de cor da polpa, pela degradação dos carotenos. O ritmo de crescimento do fruto diminui e, mais ou menos um mês após a polinização, alcança seu tamanho definitivo, com amadurecimento e acumulação de açúcares nos últimos dez dias (MAROTO, 1997).

Tem sido possível constatar que existem genótipos de melão mais doces, nos quais a atividade da enzima sacarosefosfato sintase (e, portanto, a formação de sacarose) é muito mais intensa que em genótipos menos doces, com menor disponibilidade de hidrocarbonetos de partida; porém, em qualquer caso, uma supressão mais ou menos intensa da área foliar poderia influir de forma clara na acumulação de açúcares, por ser precisamente nas folhas o local de elaboração do amido que, posteriormente, origina mono e oligossacarídeos no interior dos frutos (HUBBARD et al., 1990).

Em todas as variedades de melão, no momento da colheita, devem ser observadas as seguintes características: açúcares totais ou graus brix, dureza da polpa ou penetrometria e cor da casca (ENA, 1997; SILVA et al., 2000b).

Quanto à textura, não deve ser muito dura nem tenra demais, condições que alteram o sabor do fruto. A textura do melão é o reflexo da sua classe e da quantidade de seus compostos pécticos. Entre estes compostos, o grupo que mais se destaca é a protopectina. Esta é insolúvel em água, que por hidrólise dá lugar a ácidos pectínicos ou pectina. A protopectina acha-se localizada no melão, na lamela média das células e na parede primária. Dada a sua parcial insolubilidade, a protopectina mantém a consistência do fruto. Porém, à medida que a maturação avança, ela vai convertendo-se em compostos solúveis, e a textura da fruta diminui. O amolecimento da polpa aumenta à medida em que o amadurecimento progride (BLEINROTH, 1994).

A coloração de polpa também tem um significado muito importante na determinação do ponto de colheita. A coloração é dada pelos carotenóides, cabendo ao betacaroteno responder por cerca de 87,5% desse processo. Os carotenóides começam a aumentar aproximadamente dez dias antes da fase de amadurecimento. Sua síntese termina quando essa fase chega ao fim (BLEINROTH, 1994).

Avaliando a qualidade pós-colheita de alguns híbridos de melão submetidos a diferentes temperaturas de armazenagem, foi observado que ocorrere diferenças entre os mesmos. Teores de sacarose e glicose decresceram com o tempo de armazenagem. Não foram observadas modificações no teor de sólidos solúveis e sacarose (COHEN & HICKS, 1986).