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A política de comércio exterior brasileira entre meados dos anos 60 e 80 pautava-se de incentivos e subsídios às exportações de produtos manufaturados centrados na formação de preços. Essa prática contribuiu para a aceitação pelo mercado internacional das exportações de produtos padronizados, com certa automação dos seus processos produtivos. Como resultado, as exportações de manufaturados mantiveram-se concentradas em produtos tradicionais, para poucos grandes mercados e fabricados por poucas empresas que utilizavam tecnologia de conhecimento universal. No passado, o modelo substitutivo de importações levava a que as empresas privilegiassem estratégias para o mercado doméstico. O processo

de abertura comercial iniciado no final dos anos 80 e o avanço tecnológico internacional, entretanto, vêm aproximando os padrões de consumo e os métodos de produção entre países.

Nesse período, as exportações brasileiras cumpriram o papel fundamental de fornecer divisas e aumentar a renda doméstica, ampliando o leque de oportunidades aos investimentos nos setores eleitos pelo processo de substituição de importações (GUIMARÃES, 1996). As exportações de bens manufaturados foram beneficiadas por certa estabilidade cambial até o final dos anos 70 e por um generoso sistema de incentivos e subsídios que se estendeu até o final do primeiro qüinqüênio dos anos 80. Essa política centrava-se na formação do preço recebido pela atividade exportadora.

O resultado foi surpreendente, passando a participação das exportações de manufaturados nas exportações totais de 24,1% em 1974 para 49,5% em 1987 (PINHEIRO e MOREIRA, 2000). Essa mudança estrutural da pauta de exportações brasileiras evidenciou um aprendizado e um amadurecimento substancial nas atividades de comércio exterior em um número reduzido de grandes empresas (cerca de 1%), as quais respondem por mais de 80% das exportações de manufaturados, no total de 15 mil empresas exportadoras atualmente.

Nos anos 80, a insuficiência de divisas forçou o País a gerar fortes superávits comerciais para honrar os compromissos de sua dívida externa, devido a cessação de afluxo de capital do exterior. Porém isso só foi possível graças ao leque de incentivos e subsídios concedidos aos exportadores e às drásticas medidas de controle de importações, através de restrições tarifárias e não-tarifárias, além do reduzido nível das importações devido as políticas recessivas adotadas em vários anos da época. O crescimento das exportações e o saldo comercial do Brasil no

referido período, deu uma falsa idéia de competitividade e de maior inserção internacional, quando, na verdade, perdeu participação no comércio mundial. Em 1980, as exportações brasileiras representavam 1,05% desse comércio, em 1990, o percentual havia caído para 0,93%, mesmo índice apresentado ao final de 2000, ou seja, as vendas externas brasileiras não conseguiram acompanhar o ritmo de crescimento das vendas internacionais. (GONÇALVES, 1998).

Até os anos 90, desde o agravamento do endividamento externo, o setor exportador sempre foi privilegiado com subsídios e incentivos. A partir da retomada do fluxo de capital dos anos 90 e do decorrente desafogo da crise cambial, não só se acelerou o processo de abertura externa, iniciada ao final dos anos 80, como se reduziram as concessões feitas aos exportadores. No início do Plano Real, inclusive como forma de conter a inflação, estimularam-se as importações, sem qualquer preocupação com a geração de déficits comerciais. Porém o déficit acelerado nas transações correntes associados à retração nos fluxos de capital despertou da letargia até os mais deslumbrados com o neoliberalismo, e novamente a geração de superávits na balança comercial tornou-se a tônica do discurso.

Através da exportação reforça-se o papel de captador de divisas, promotor de crescimento econômico e do nível de emprego, nos moldes do chamado “multiplicador keynesiano”. Esta situação também contribui para um aumento nas importações de bens de equipamento, tecnologia e Know-how por parte dos países em desenvolvimento, necessárias para adaptarem seus produtos às exigências dos consumidores nos países desenvolvidos. (BRAGA, 1999).

O processo de integração internacional da indústria brasileira pode ser dividido em duas fases. A primeira corresponde a década de 80, marcada por

elevados coeficientes de exportações e a segunda, aos anos 90, pela abertura das importações.

O comércio exterior brasileiro deu um salto significativo a partir de 1989, quando se iniciou a abertura comercial. A crescente integração internacional da indústria brasileira ocorreu, em duas fases conforme salienta Baumann (1996) a seguir:

Primeiro, durante os anos 80, ela se deu através de marcada elevação no coeficiente exportado (medido pela razão entre exportações e o valor bruto de produção). Nesse período, a preservação e fechamento às importações, motivada pela crise da dívida externa, conservou as importações no patamar muito reduzido da era do que se convencionava chamar de “industrialização substitutiva”. Segundo, na primeira metade da década de 90, a abertura econômica levou a um rápido crescimento no coeficiente importado (razão entre importações e valor bruto de produção). Simultaneamente, prosseguiu a elevação do coeficiente exportado.

Embora o perfil das exportações brasileiras tenha evoluído no sentido de maior presença de produtos industrializados, a inserção atual da indústria brasileira no comércio internacional, caracteriza-se ela exportação de commodities, energia e de bens intensivos em mão-de-obra barata como celulose, papel, suco de laranja, farelo de soja e minérios semiprocessados mas, conforme Coutinho (1995) deve-se, todavia, considerar que, mesmo nesses produtos, a competitividade brasileira pode vir a ser ameaçada, uma vez que a tendência no mercado internacional é de crescente sofisticação e de segmentação em especialidades.

O mesmo autor explica que:

Em comparação com os padrões internacionais, no início da década de 1990 uma boa parte da indústria brasileira opera com equipamentos e instalações tecnologicamente defasados, apresenta deficiências nas tecnologias de processo, exibe atraso quanto às tecnologias de produto (COUTINHO, 1995, p.33).

Para que isto não ocorra, Baumann (1996, p.189) defende que,

a longo prazo, quanto mais venha a elevar-se a produtividade e qualidade na produção industrial brasileira, maior será sua competitividade internacional, melhores serão os resultados de sua balança comercial, e

menor será a desvalorização da taxa de câmbio; portanto, maior será a estabilidade de preços. Conseqüentemente, sempre que uma política de competitividade industrial puder ajudar a fortalecer a produtividade e a qualidade da indústria brasileira, ela será elemento de uma política de estabilidade macroeconômica.

A partir de 1980, a indústria brasileira ampliou gradativamente seu grau de internacionalização. No comércio internacional cresceu o volume de transações, apesar que, a participação do país nas exportações mundiais, não saiu do intervalo de 1 a 1,5%, conforme relato de Coutinho (1995).

Mesmo que a pauta de produtos exportados tenha se diversificado e as empresas líderes apresentem uma exposição internacional sustentada, o Brasil continua importando bens de maior valor unitário do que as suas exportações. Baumann (1996, p.206), esclarece que,

as exportações brasileiras ainda dependem fortemente de produtos de processamento industrial básico, que são muito suscetíveis à evolução da economia internacional e dependentes de movimentos de bolsas de mercadorias, sobre as quais as empresas podem exercer muito pouca influência. Quanto à direção de vendas, os produtos menos sofisticados são consumidos nos países mais avançados e os produtos de maior valor agregado são vendidos nos mercados de países com um nível de desenvolvimento similar ao brasileiro. Este quadro parece sugerir que a contribuição potencial das exportações brasileiras para o crescimento econômico possivelmente é menor do que as vendas para o mercado interno.

Estudo realizado pelo IEDI (2000) traz dados sobre a perda de competitividade das exportações brasileiras no final da década de 90, ressaltando que boa parte pela má performance das exportações brasileiras recai, de certa forma, sobre a estrutura física da sua pauta, na qual cerca de 60% dos produtos são commodities agrícolas e industriais, com baixa elasticidade de renda nos mercados mundiais, com um comportamento cíclico e com uma tendência secular de baixa.

Para os autores, Fonseca e Veloso (1998), o problema da falta de dinamismo das exportações brasileiras é generalizada, sendo que, mesmo nos produtos

tradicionais de exportação do Brasil e naqueles em que o país apresenta vantagem comparativa com relação ao resto do mundo, o Brasil vem perdendo mercado. A análise destes autores, para o conjunto de produtos manufaturados exportados para os mercados da OCDE, revelou que o problema das exportações brasileiras de manufaturados não se deve a sua ausência nos mercados “dinâmicos”, mas sim à sua falta de competitividade frente às demais economias (...) A perda de participação brasileira no comércio internacional é conseqüência da falta de competitividade generalizada dos produtos brasileiros. (FONSECA E VELOSO, 1998).

Conforme salienta Baumann (1996), a ênfase na exportação de produtos de baixo valor agregado, a baixa participação das importações na estrutura produtiva e o alto grau de internacionalização da estrutura patrimonial são características que levam o Brasil, a um caso único entre países industrializados.

Tabela 1: Balança Comercial Brasileira (1993-2004), US$ 1.000 FOB

ANO EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO SALDO

1993 38.554.769 25.256.001 13.298.768 1994 43.545,149 33.078.690 10.466.459 1995 46.506.282 49.971,896 -3.465.614 1996 47.746.728 53.345.767 -5.599.039 1997 52.994.341 59.747.430 -6.753.089 1998 51.139.862 57.714.365 -6.574.504 1999 48.011.444 49.210.314 -1.198.870 2000 55.085.595 55.834.343 -748.748 2001 58.222.642 55.580.718 2.641.924 2002 60.361.786 47.234.056 13.127.730 2003 73.084.000 48.291.000 24.793.000 2004 96.475.000 62.779.000 33.696.000 Fonte : Serpro/Secex.

Com a análise da tabela 1, verifica-se em termos gerais, que as exportações brasileiras aumentaram e as importações diminuíram, exemplificando o que Baumann (1996) descreve sobre o Brasil enquanto país industrializado.

A meta de US$ 100 bilhões em exportações até o ano de 2002 e que foram traçadas pelo governo federal em 1998, não foram alcançadas. Conseguiu-se

somente em 2004 o montante de US$ 96 bilhões em exportações, registrando a maior taxa de crescimento em mais de 20 anos, 31%. A base exportadora expandiu- se no ano, com a incorporação, em termos líquidos, de 681 firmas exportadoras, alcançando um total de 17.963 empresas – 3,9% a mais do que em 2003. O valor médio exportador por firma alcançou US$ 3.358 mil, com aumento de 26,9%.

O esforço para elevar o patamar das exportações nacionais nos últimos anos ainda não rendeu ao Brasil uma participação expressiva no comércio internacional. Apesar de ter dado um saldo de 28% em seu market-share nos mercados mundiais entre 1999 e 2004, o país continua sendo responsável por apenas 1,1% das importações globais, o mais alto percentual dos últimos 15 anos, mais ainda quase insignificante. (JORNAL DO COMÉRCIO, 2005).

O crescimento das exportações brasileiras reveste-se de importância estratégica tanto para as empresas, como para o governo. Para as empresas, exportar significa melhorar a rentabilidade das operações, maior produtividade, diminuição da carga tributária, redução da dependência das vendas internas, experiência pela atuação em outros mercados, estímulo para aumentar a eficiência e a competitividade, aperfeiçoamento de recursos humanos e dos processos industriais, além de mitigar riscos. Para o governo, o aumento nas exportações contribui para a obtenção de superávit na Balança Comercial, aquecimento da economia e aumento na criação de empregos formais. (IGLESIAS, 2001).

O governo tem despendido significativos esforços no sentido de aumentar o número de empresas brasileiras exportadoras e, conseqüentemente, crescimento da pauta exportadora e do volume das exportações. Vários órgãos, como a Agência de Promoção de Exportações - APEX, e o Programa Especial de Exportações - PEE,

foram criados com a finalidade de apoiar as micro, pequenas e médias empresas no ingresso e permanência no comércio internacional.

O comércio exterior brasileiro é composto por entidades governamentais e não governamentais. Esses órgãos são responsáveis pela definição de estratégias, políticas, gestão das atividades relativas ao comércio exterior, promoção comercial, e execução de programas que proporcionem maior competitividade na comercialização de produtos com outros países. Dentre as diversas organizações governamentais ou não, destacamos o Conselho Monetário Nacional - CMN, Secretaria de Comércio Exterior – SECEX, Agência de Promoção das Exportações - APEX, a dinamização da Câmara de Comércio Exterior – CAMEX, e sua incorporação ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC, dentre outros.

A ação permanente do Governo Federal em parceria com o setor privado, compreendendo um conjunto de medidas de natureza estrutural que visa dar suporte a cerca de 60 setores da economia que apresentam dentro das respectivas cadeias produtivas, potencial para expansão das exportações, percebe a participação das pequenas e médias empresas nesse processo, de fundamental importância para alcançar as metas de exportação estabelecidas pela CAMEX.

Nesse sentido, as Pequenas e Medias Empresas tem desempenhado um papel bastante relevante no volume das exportações brasileiras e de muitos países.

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