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Combate à política neoliberal: algumas greves na universidade

4.4 Campanhas e manifestações estudantis

4.4.4 Combate à política neoliberal: algumas greves na universidade

Historicamente, a greve tem sido uma forma de luta utilizada pelos trabalhadores e estudantes nos movimentos reivindicatórios. Apesar de alguns questionamentos por parte de setores da comunidade universitária acerca da validade efetiva da greve como instrumento de pressão dos trabalhadores em educação, os estudantes, em várias ocasiões na década de 1980 e por motivos diversos, entraram em greve nacional, em universidades públicas e particulares. Nestas, as greves tinham como bandeiras de luta: subsídios para as universidades privadas, barrar o aumento das mensalidades, liberação de crédito educativo. Nas universidades públicas: mais verbas para a universidade, ensino público e gratuito, eleições diretas para Reitor, restaurantes universitários gratuitos.

A greve das universidades federais ocorrida em março de 1982, por exemplo, teve como

eixo principal derrubar o aumento do preço das refeições nos restaurantes universitários. “Desde a

última quarta-feira que os estudantes da UFC estão em greve contra o preço das refeições no restaurante universitário, determinado pela portaria do MEC...” (Jornal O Povo, 29/03/1982).

Durante a década de 1980, o restaurante universitário (RU) da UFC era ponto central em greves e manifestações estudantis. Mas, nos anos 1990, o RU passa para um plano secundário na pauta de reivindicações do movimento estudantil. Em 1991, ele foi fechado e só reabrindo no segundo semestre de 1998.

[...] Há mais de 7 anos, sob o pretexto de uma reforma, o restaurante universitário foi fechado, prejudicando milhares de estudantes que, sem condições financeiras de arcar com as suas refeições, precisam do RU... Este fato é parte do conjunto de medidas que têm por fim o desmantelamento da educação [...] (Jornal da Juventude Rebelião, março/1998).

Na maioria das vezes, na década de 1990, o movimento estudantil aderiu à greve dos servidores públicos, professores e funcionários, em suas respectivas campanhas salariais. Veja-se um trecho do boletim da UNE:

A UNE E A GREVE DAS FEDERAIS. A diretoria da UNE, reunida no dia 27/06/1991, em Brasília, decide apoiar a greve dos professores e funcionários das universidades públicas, por entender que as reivindicações são justas e expressam no seu bojo a luta pela defesa das IFES (Instituições Federais de Ensino Superior). Ao mesmo tempo em que apoiamos, é fundamental mobilizar os estudantes contra a privatização e o “Projetinho” do Governo Collor para as universidades. (Boletim da UNE, julho de 1991).

mero exercício de retórica. No caso da greve dos docentes ou dos servidores, ou de ambos, o DCE convoca os estudantes para uma assembleia geral, onde a adesão à greve é discutida e votada. Uma vez aprovada a adesão, é organizado um comando de greve e definido um calendário de atividades, onde são previstos eventos em conjunto com as demais categorias, quanto manifestações e atividades específicas dos estudantes. Mesmo nesses casos, os estudantes elaboram uma pauta de reivindicações próprias.

[...] Dentro desse contexto, se enquadra a greve a greve dos servidores públicos federais, em especial das universidades federais, que já completa quase um mês e busca conquistar melhores condições de trabalho, defendendo a melhoria do ensino público. Apesar da avaliação positiva que fazemos da greve até o momento... entendemos que ainda não conseguimos uma participação efetiva dos três segmentos... Conclamamos todos os estudantes e entidades a se fazerem presentes à programação da greve. Pois este não é o

momento de ficarmos parados dentro de casa “vendo a banda passar na telinha”. É preciso

irmos às ruas para exercermos nossa cidadania, dizendo não ao provão, exigindo mais verbas para a educação, enfim, lutando por um ensino público, gratuito e de qualidade. (Boletim do DCE-UFC, maio/1996).

Em 1998, quando os professores das universidades federais entraram em greve por tempo indeterminado, os estudantes participaram efetivamente do movimento, tendo sido organizado um comando de greve dos estudantes e um comando geral, congregando docentes e discentes. Nos jardins da Reitoria foi montado um acampamento, com barracas, colchonetes, redes, compondo um inusitado cenário naquele suntuoso prédio da UFC. A programação do movimento contava com as atividades: a) acampamento da greve; b) vigília pela rejeição do programa de incentivo à docência (PID); c) marcha com o MST, pela passagem de dois anos do “Massacre de Eldorado dos Carajás (MST, CUT, ADUFC, SINTUFCE, DCE-UFC)”; d) debate sobre neoliberalismo; e) caminhada e ato público em defesa da universidade pública.

[...] VOCÊ SABE O QUE AS UNIVERSIDADES ACHAM DISSO? Hoje, docentes de 33 universidades federais, de um total de 52 instituições, já entraram em greve por tempo indeterminado. Os servidores já apontam a deflagração de greve da categoria para a última semana de abril, e os estudantes têm aderido com garra ao movimento. A nível local, assembleias gerais dos estudantes têm ocorrido semanalmente, formou-se o Comando de Greve Estudantil, e um calendário que dá o caráter da greve de ocupação com atividades internas e externas. E você? Vai esperar seus professores pedirem demissão por causa do salário? Ou você aceita pagar uma universidade particular mesmo pagando tanto imposto? (Boletim do DCE-UFC, abril/1998).

A greve de 1998, envolvendo professores e funcionários da UFC, contando com o apoio engajado dos estudantes, prolongou-se por três meses. Após esse período, tendo chegado ao fim as negociações coletivas, relativas à campanha salarial, os professores decidiram pelo retorno às aulas. Foi apresentado pela ADUFCE um calendário de reposição das aulas.

No entanto, a direção do DCE-UFC e algumas tendências do movimento estudantil defenderam a continuidade da paralização com o cancelamento do semestre letivo. O inusitado do fato é que a greve não era dos estudantes. Apesar dessa posição da direção estudantil, da decisão da assembleia dos estudantes de continuidade da greve e da tentativa de boicote às matrículas, a maioria dos estudantes voltou às aulas.

Após a greve dos professores, a Reitoria da UFC resolveu abrir o RU, que fora fechado há mais de sete anos. Esse acontecimento foi anunciado pela diretoria do DECE-UFC como uma conquista da greve, considerada como própria por esta direção, fruto das mobilizações feitas pela gestão Novo tempo (1998/1999).

RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO É REABERTO. Depois de sete anos fechado, dentre os quais, quatro de promessas da atual Reitoria para sua reabertura, o restaurante foi

reaberto pela força acumulada na última greve dos estudantes. Os últimos DCE’s

priorizaram a negociação de gabinete e isolaram a participação coletiva dos estudantes, desperdiçando a força política que a mobilização possui. E essa antiga forma de luta não funcionou. Assembleias, passeatas, congressos, e por fim greve dos estudantes, estes sim podem ser apontados como os métodos que levaram à reabertura do RU. (Boletim do DCE- UFC, 1998, nº 4).