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A presente dissertação de mestrado caracteriza-se como um estudo descritivo envolvendo 213 profissionais de saúde (auxiliares/técnicos de enfermagem, assistentes sociais, enfermeiros, médicos e psicólogos) que atuavam em hospitais de diferentes categorias (estadual, filantrópica, privada e universitária). A escolha dessas categorias profissionais deve-se à proximidade destes com os usuários, facilitando assim, a avaliação dos indicadores da qualidade dos serviços hospitalares utilizados nesse estudo.

Já a escolha por diferentes categorias de hospitais deve-se à leitura de textos(5,24-25) que afirmam que há mudança na identidade profissional nos diferentes contextos de atendimento, refletindo em variações da sua conduta frente ao usuário. Estando as relações estabelecidas no âmbito hospitalar circunscritas a um contexto, desconsiderá-lo favoreceria a uma visão incompleta acerca da avaliação da qualidade dos serviços hospitalares.

Mediante a circunstância, foi elaborada uma relação com os principais hospitais de Natal, dentro das categorias já mencionadas e foram priorizadas as instituições de fácil acesso para a equipe de pesquisadores. Destaca-se ainda que, encontramos dificuldades apenas nos hospitais privados, pois, foi somente no terceiro hospital visitado que conseguimos autorização para coleta de dados. Essa instituição, naquele momento, passava por séria crise financeira, estando seu quadro de funcionários muito reduzido.

Em relação à coleta de dados, observamos certa resistência em alguns profissionais de saúde. Embora tenha sido explicada a importância do trabalho, a garantia do anonimato, bem como a possibilidade do instrumento ser levado para casa para posterior devolução, nem todos quiseram participar. Acreditamos que tal comportamento decorra principalmente da sobrecarga de atividades que o profissional de saúde está

submetido nos hospitais. Esses profissionais foram alocados nos hospitais em horário de trabalho, sendo necessário em alguns momentos, enfrentarmos fila junto com os usuários para ter acesso a alguns médicos.

Apesar da dificuldade ressaltada, de forma geral, o trabalho teve uma boa aceitação por parte dos gestores e profissionais de saúde. Alguns escreveram no item sugestões e comentários do questionário que acharam o estudo pertinente e que gostariam de conhecer os resultados finais da pesquisa.

No modelo inicial do trabalho, havia também a participação dos usuários dos hospitais já informados. Embora a coleta tenha sido concluída, os dados foram arquivados para posterior análise e complementação dos resultados.

Quanto aos resultados aqui obtidos e discutidos mostraram-se de acordo com o atual panorama dos hospitais do Brasil. Assim, podemos observar como os profissionais de saúde avaliaram os serviços oferecidos ao usuário, as condições de trabalho que os hospitais ofereciam, bem como as representações sociais que esses profissionais construíram acerca das instituições investigadas. Desse modo, destaca-se que, a Teoria do Núcleo Central, utilizada para apreender essas representações sociais foi utilizada como um recurso complementar, logo, não nos dedicamos, no presente estudo, a discorrer de forma aprofundada sobre essa teoria.

Verificou-se um perfil distinto entre os hospitais, como pode ser observado nos artigos elaborados. Embora nas avaliações todas as instituições tenham apresentado dificuldades, nenhuma apresentou situação tão crítica quanto ao hospital estadual. Trata- se de um hospital referência no atendimento de urgência pelo SUS que atende cerca de 20 mil pacientes por mês, vindo das mais variadas localidades do Rio Grande do Norte e estados vizinhos. Diante disso, observa-se que o fluxo intenso de usuários associado a uma precária infra-estrutura não possibilita um atendimento de qualidade.

Ainda um dado interessante, corroborado em outros estudos(26-27), foi o grande contingente feminino nos hospitais, principalmente nas categorias auxiliar/técnico de enfermagem e enfermeiro. Tal situação nos remete diretamente a um tema muito debatido na atualidade: a inserção da mulher no mundo do trabalho.

Segundo Teykal e Rocha-Coutinho(28), foi a partir do final dos anos 1960 que as mulheres, especialmente de classe média e alta, começaram a assumir um espaço cada vez maior no mundo do trabalho remunerado. Embora ainda seja difícil para as mulheres assumir cargos de maior poder e prestígio, aos poucos estão ampliando seu campo de atuação profissional, alterando não apenas o espaço público como também a esfera privada da família.

No tocante aos homens, o estudo(28) ainda aponta que o espaço deixado pela ausência da mulher na casa ao se inserir no mercado de trabalho associado à uma cobrança social que recai sobre eles para que participem mais da família, está contribuindo para o surgimento de uma nova concepção de masculinidade. É importante destacar que essas mudanças na estrutura da família não atingem a todas as camadas da população. Embora o novo modelo de família tenha criado outras oportunidades para as mulheres na esfera pública, nem sempre vem acompanhado de uma transferência correspondente de tempo investido pelos homens na esfera privada, acarretando uma divisão sexual do trabalho com um forte viés de gênero(29).

Uma característica peculiar ao âmbito da saúde é a necessidade dos profissionais atuarem em mais de uma instituição para complementar a renda familiar. Tal situação favorece a sobrecarga de trabalho vivenciada por boa parte desta população. Quando se trata de um profissional do sexo feminino, a sobrecarga pode ser intensificada pelas atividades domésticas.

No presente estudo, observou-se que 40,8% dos profissionais atuavam em duas e/ou três instituições hospitalares. Os gráficos apresentados nos Apêndices 2, 3, 4 e 5 mostram as avaliações acerca da qualidade dos serviços hospitalares e condições de trabalho desses profissionais. Ressaltamos que, esses gráficos representam a avaliação que um mesmo sujeito fez em relação aos hospitais de diferentes naturezas que atuavam, ou seja, a natureza do Hospital 1 (local onde o questionário foi aplicado) necessariamente deveria diferir do Hospital 2 e Hospital 3. Acreditamos que, esses resultados são de grande importância, pois além de apresentarem um panorama distinto entre as instituições, apresenta a mudança de opinião do profissional de saúde quando muda a natureza da instituição que atua, confirmando assim, nossa idéia inicial.

A esse respeito, um estudo(25) aponta que não é por acaso que a atuação profissional nos hospitais e serviços públicos no Brasil funciona de forma diferente se comparada com a dos hospitais e serviços das empresas de medicina de grupo. O autor reforça sua tese ao ressaltar que os mecanismos coercitivos, explícitos ou não, exercidos sobre aqueles que atuam em instituições privadas, é uma exigência do modo de produção, dadas as características da força de trabalho.

Paralelo a exigência do modo de produção, como foi mencionado anteriormente, acreditamos também, na influência das condições de trabalho que aqui podem ser traduzidas nas variáveis: Oportunidade de discutir o trabalho com seus superiores, Oportunidade de apresentar sugestões de melhoria, Conforto oferecido aos profissionais, Qualidade dos equipamentos e matérias de trabalho, entre outras. Identificamos ainda que, essas condições, também favorecem a uma percepção negativa acerca da instituição hospitalar, como pode ser observado nas Figuras 1 e 2.

Embora a presente dissertação, diante de suas limitações metodológicas, não tenha se aprofundado no tema subjetividade do profissional de saúde, acreditamos ser de

fundamental importância que as pesquisas de avaliação passem a contemplar essa temática, uma vez que poderá oferecer importantes elementos para a compreensão das avaliações obtidas.

Ampliando nossa análise, verificamos também a importância das políticas de saúde dar margem a projetos que visem a melhoria da assistência à saúde, para se considerar essa subjetividade, pois, acreditamos que a contextualização é um elemento facilitador na adesão dos sujeitos às novas práticas.

Reforçamos ainda que a presente dissertação de mestrado contribuiu significativamente para meu crescimento intelectual e científico, os resultados obtidos respondem satisfatoriamente aos objetivos do estudo. No entanto, percebemos a necessidade da elaboração de novas pesquisas, com uma maior população amostral, dando maior atenção à subjetividade do profissional de saúde.

É com grande satisfação que chego ao término do trabalho, pois foram anos difíceis, perpassados por alegrias e tristezas, mas tentei sempre orientar minha vida seguindo a máxima de Viktor Frankl(30) “Quem tem uma para quê viver enfrenta quase todo como viver”. Sendo assim, concluir o Mestrado em Ciências da Saúde, antes de ser uma vitória profissional, é sem dúvida uma vitória pessoal.

5. APÊNDICES

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