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Os parâmetros estimados devem ser de grande valor para o desenvolvimento de ferramentas com capacidade preditiva, como, por exemplo, a estimação de R0, para HIV, dando uma melhor idéia da transmissão dentro da comunidade estudada. Os parâmetros derivados, como a taxa de inoculação, h, podem ser aplicados para modelos dinâmicos de transmissão do HIV sendo útil na predição futura do comportamento do sistema e do desenho de estatégias de controle. Assim, um programa particular de controle, como o de trocas de agulhas e seringas, pode ter um impacto nos parâmetros específicos relacionados com o cálculo de R0. Este programa poderia aumentar a taxa de mortalidade das "agulhas", α., e poderia diminuir a média diária de picadas, a, das "agulhas". De outro lado, a densidade de "agulhas", relacionadas com a população de homens, m, poderia aumentar. No entanto, como o número médio de picadas por agulha, a, tem seu valor elevado ao quadrado na equação (67), este efeito pode ser mais determinante na redução do valor de R0,. Adicionando-se a isto, a limpeza de "agulhas" e seringas, poderia aumentar o valor de µ significativamente. Além

disso, a densidade crítica das "agulhas", abaixo da qual a infecção desapareceria da comunidade, poderia, ao menos teóricamente, ser estimada pelo método proposto. Este parâmetro, no entanto, teria pouco significado epidemiológico, no caso dos UDIs.

A analogia com os estudos desenvolvidos por Macdonald, é claramente não realista, porque não considera as heterogeneidades conhecidas que contribuem na transmissão entre os UDIs. Por exemplo, considera que todo UDI tem exatamente o mesmo hábito de uso de droga. Isto implica que toda a agulha tenha a mesma taxa diária de picada. Além disto, a probabilidade de uma agulha infectar-se, δ, é considerada como sendo independente da concentração do HIV no sangue. Estas suposições são boas aproximações para o vetor biológico, mas são inapropriadas para para transmissão relacionada com "agulhas" para o HIV.

O inóculo infectante foi tratado de maneira homogênea (δ=0,05) e heterogênea (δ=0,17) com estimativas de R0 de 28 e 98 respectivamente.

Uma característica importante da transmissão do HIV é a de que distintas comunidades têm diferentes padrões de intensidade de transmissão. Assim, qualquer modelo desenhado para a transmissão do HIV deve considerar a possibilidade de mobilidade individual, e os hábitos de compartilhamento com mais de uma comunidade. Isto implica numa estrutura espacial de transmissão, com distintas comunidades representando seguimentos da população como um todo. Esta situação dá condições para a estimação de distintos R0 para cada seguimento, dependendo dos hábitos de compartilhamento dentro e entre as comunidades. Neste caso, devemos determinar a matriz ou um grupo de R0 para caracterizar a transmissão da infecção, entre os vários grupos (1992[7]). Deve-se

notar que esta aproximação é também apropriada para outras vias de transmissão do HIV, como o comportamento sexual que pode ser facilmente adaptado para infecções transmitidas por vetor, como a malária, quando a distribuição geográfica do mosquito é importante.

O valor de R0 encontrado para esta comunidade é compatível com a intensidade de transmissão, resultando num valor de 63% de soroprevalência para o HIV na comunidade. Além disso, a soroprevalência calculada, em equilíbrio, foi igual a 67%. A proporção de "agulhas" infectadas calculada foi de 33%, embora somente 0,1% de todas as "agulhas" circulantes estariam infectantes (o último parâmetro não estava sujeito à verificação experimental).

Tese de Doutoramento

O método proposto não é desprovido de limitações. Por isso, a dedução do modelo descrito parte de certas condições que não considerem totalmente a situação real. Por exemplo, a população total de UDIs foi considerada como constante no tempo. Além disso, foi assumida uma transmissão exclusivamente dependente de sangue contaminado, sem levar-se em conta outras formas de transmissão, em particular a sexual.

Finalmente, acreditamos que a maior contribuição deste trabalho é propor um caminho alternativo para estimar-se a transmissão de infecções, quantificando um agente patogênico indiretamente transmitido.

Chama a atenção para certas características comportamentais da comunidade de UDIs, ja conhecidos, mas não quantitativamente relatadas, importantes para o desenvolvimento deste trabalho com a transmissão do HIV. Além do mais, esta transmisssão quantificada pode ser útil, no desenho de estratégias de intervenção.

O refinamento da teoria proposta dependerá, obviamente, de um detalhado trabalho de campo, que poderá tornar possível a estimação de parâmetros para os cálculos descritos acima. Já temos um projeto de campo e esperamos, em futuro próximo, estarmos aptos a apresentar estimativas para a transmissão do HIV entre os UDIs, com maior confiabilidade epidemiológica.

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14. Conclusões

1. As soroprevalências observadas para as diferentes infecções estudadas nesta amostra de UDIs foram:

HIV = 0,62 hepatite B = 0,75 hepatite C = 0,75 HTLV(1 ou 2) = 0,25 sífilis = 0,34

2. As soroprevalências observadas para as diferentes infecções estudadas na amostra de doadores de sangue da cidade de Santos, pareados por idade e sexo com a amostra de UDIs foram:

HIV = 0,00 hepatite B = 0,23 hepatite C = 0,02 HTLV(1 ou 2) = 0,01 sífilis = 0,12

3. Apesar das soroprevalências de algumas das infecções estudadas no grupo do banco de sangue serem um pouco maior que o padrão encontrado na população em geral, observou-se:

para sífilis, marcador sexual da transmissão do HIV, o OR igual a 3,57 (2.08-6.25) aponta para uma maior exposição deste grupo para DSTs.

para hepatite C, marcador parenteral da transmissão do HIV, o OR igual a 100 (50-200) aponta para o alto risco da transmissão parenteral entre os UDIs.

Estes dados sugerem que o componente parenteral da transmissão pelo HIV nesta população, é o principal, sendo considerado de menor importância o componente sexual quando comparado ao parenteral. 4. Foi observado neste grupo de UDIs que a variável mais de uma

relação sexual por semana foi significativamente maior entre as mulheres (c2= 22,97, p=0,001) o que provavelmente justifique a maior

prevalência de hepatite B (c2= 3,90, p=0,048) e

sífilis (c2= 8,62, p=0,003).

Foi observado que as variáveis que apresentaram diferenças significativas para infecção pelo HIV foram as relacionadas com padrão de uso de drogas injetáveis:

taxa diária de injeção de drogas (c2= 21,68, p=0,000019);

freqüência de injeção de drogas (c2= 12,08, p=0,002); uso de drogas

injetaveis nos últimos 2 meses (c2= 8,91, p=0,0028); uso de drogas

injetaveis com agulhas e seringas usadas (c2= 15,64, p=0,0035); uso de

drogas injetaveis fora de Santos (c2= 7,25, p=0,0071); limpeza de

agulhas e seringas(c2= 3,64, p=0,0564); Compartilhamento de agulhas

e seringas (c2= 3,03, p=0,0817).

5. A variável "mudança de comportamento para evitar a infecção

pelo HIV", apareceu associada como fator de proteção para a infecção pelo HIV, com valores significativos na análise univariada (c2= 19,0,

p=0,000013) e na multivariada, ocupando o segundo lugar, com OR=3,28.

6. Os valores estimados de R0 para esta amostra de UDIs, foram de 28 e 98, considerando a distribuição homogênea e heterogênea na população para o inóculo (d), isto é, 0,05 e 0,17, respectivamente.

7. O valor da prevalência da infecção pelo HIV no equilíbrio, y*, para esta comunidade em particular, foi de 0,67.

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