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COMLÉS PE: Coletivo de Lésbicas e Mulheres Bissexuais de Pernambuco

4.1 CONHECENDO OS COLETIVOS LÉSBICOS

4.1.3 COMLÉS PE: Coletivo de Lésbicas e Mulheres Bissexuais de Pernambuco

O COMLÉS é um espaço de articulação de diversos grupos e coletivos que tem na afirmação política das lesbianidades e da bissexualidade das mulheres suas principais bandeiras. Possui também ativistas independentes. Assim como o coletivo CANDACES, tem uma atuação em rede e se caracteriza como uma organização que possui coletivos por diversas regiões do país.Em Recife, teve sua fundação no ano de 2009, com o objetivo de unificar e contribuir para a politização das atividades desenvolvidas em grupos menores da Região Metropolitana do Recife. Praticamente todas as entrevistadas atuam junto ao COMLÉS, com exceção da militante do coletivo Ocupe Sapatão, que não tem nenhuma aproximação com nenhum dos coletivos participantes deste estudo.

O processo de constituição do COMLÉS PE ocorreu após algumas militantes de grupos que atuavam na Região Metropolitana do Recife observarem a necessidade de articular suas práticas a fim de fortalecer o movimento lésbicono Estado, devido ao momento histórico-político favorável para as discussões das pautas LGBT.

Na verdade, a gente une mulheres que normalmente já fazem parte de grupos ou ONGs. Então, foi assim, a partir dessa interação com a gente... O Leões do Norte sempre fez o Saral da visibilidade lésbica e, na verdade, a gente tem uma boa comunidade lésbica e existiam alguns grupos, tinha o grupo AMHOR, que tinha um monte de lésbicas e hoje não existe mais, a gente tinha o LUAS,que tinha um monte de lésbicas e que hoje, na prática, tem algumas pessoas que estão tocando a pauta, mas não com reuniões regulares, e o Leões do norte também meio que passou um bom tempo apagado, mas, na época, eram todas em pautas super atuantes, então, assim, a gente para no momento em que o movimento não estábombando, o movimento tá passando por uma crise, e isso é geral, em todo o mundo, não tem nem como você fazer algo nessa conjuntura hoje, mas lá em 2006/2007, quando nem o STF tinha reconhecido, o que só veio acontecer em 2014, os direitos e a equiparação de família, quando nem o STF tinha reconhecido, em 2006/2007/2008,

o coletivo, lá tinha uma galera que tava se lascando e assim, a gente botava muito a cara na rua, a gente brigava muito pelos direitos, a gente tinha também meio que uma esquerda que tava meio ali, no meio de campo, isso é que é fato, então, a gente tinha muito dinheiro sendo destinado pra projetos, muitos editais na rua [...].(M.A.S., militante do Movimento Gays Leões do Norte).

Além de ser um espaço de articulação política de grupos e coletivos lésbicos de Pernambuco, o COMLÉS também é um organismo de mediação entre as esferas governamentais, através da realização de fóruns e seminários que buscam discutir e construir políticas públicas direcionadas para as mulheres lésbicas e bissexuais. O coletivo constrói redes que interligam os movimentos lésbicos localizados com o Estado. Essa “parceria” com o Estado também foi citada nas entrevistas como experiênciasparticulares de algumas militantes que estiveram na “posição de governo”:

[...] no ano de 2009, eu me tornei a primeira gerente do estado de Pernambuco, mulher, lésbica e mulher negra, depois disso nenhuma mulher mais ascendeu em canto nenhum, na política LGBT do governo do estado, ou do governo municipal, dentro do ponto de vista governamental (R.R., militante do coletivo CANDACES).

Enquanto pesquisadora pude estar presente em algumas reuniões organizativas e deliberativas do COMLÉS. Em algumas delas, o incômodo por parte de outras militantes com a parceria do movimento e/ou de algumas militantes com o estado era evidente e motivo de pautas e debates acalorados, assim como a atual conjuntura política do país e do estado de Pernambuco especificamente22, confirmando o que ressalta Scherer-Warren (2006, p.113) que “essas organizações em rede abrem-se para a articulação da diversidade, mas com limites quanto à capacidade de absorção de posturas ideológicas e políticas conflitivas, vindo a se cindir quando os conflitos se tornam não negociáveis”.

Atualmente o COMLÉS conta com a participação de cerca de 30 mulheres, que se reúnem mensalmente, de acordo com o planejamento construído a cada entrada de ano desde sua fundação. Nessas reuniões, as discussões se concentram no processo de inserção das demandas lésbicas e de mulheres bissexuais na construção das políticas públicas de saúde, direitos humanos e cidadania.

22Embora haja uma diversidade de grupos e coletivos representados no COMLÉS, o direcionamento político-

ideológico das mulheres lésbicas que integram este espaço é quase unânime. A maioria das mulheres são filiadas ou “simpatizantes” do Partido dos Trabalhadores - PT, com exceção de poucas filiadas ao Partido Socialista Brasileiro – PSB e algumas outras que se identificam com outras inclinações políticas. O fato de, nas últimas eleições, os candidatos do PT, ao governo do estado de Pernambuco e à prefeitura do Recife, não terem saído vitoriosos ao disputarem com candidatos do PSB, são fatores geradores de tensão entre as militantes, provocando cisões e embates em diversas ocasiões.

Além das reuniões, o COMLÉS busca promover seminários e fóruns, rodas de conversa, oficinas e eventos culturais, com o objetivo de fortalecer e fomentar ações que possibilitem a discussão da viabilidade das políticas públicas, com grande ênfase na área de saúde, sempre buscando articular movimentos sociais e parlamentares sensíveis às causas LGBT.

Figura 6 - Logomarca do COMLÉS PE

Fonte: https://www.facebook.com/comles.pernambuco/.

A logomarca do COMLÉS Pernambuco (Figura 6) é composta pelo duplo-vênus entrelaçado, símbolo clássico no movimento lésbico, que representa o relacionamento entre duas mulheres. Faz referência à deusa do amor e da beleza, na mitologia grega (Vênus ou Afrodite), e ao planeta vênus, considerado o objeto mais brilhante do céu noturno, depois da lua. Um dos símbolos de vênus aparece na cor lilás, demarcando seu compromisso com o feminismo e o outro está preenchido pela bandeira de Pernambuco, destacando o compromisso do coletivo com a luta pelos direitos de lésbicas e bissexuais do Estado.

Figura 7 - Seminário de Planejamento Anual do COMLÉS PE

O momento do planejamento anual do COMLÉS é parte fundamental para a estruturação das atividades que serão desenvolvidas durante o ano. Na figura 7, está retratado o momento de encerramento do Seminário de Planejamento Anual 2016 do COMLÉS. O seminário ocorreu, entre os dias 01 e 03 de abril, com uma programação diversificada, que proporcionou, às mulheres participantes, compartilhar momentos de diversão, debate e formação política. O seminário foi iniciado com um momento de acolhimento e construção de um “mosaico das experiências militantes” e recital lésbico-feminista, intercalado com rodas de diálogos sobre as interações entre mulheres lésbicas e bissexuais e a construção de parcerias com o movimento gay e trans, um minicurso sobre movimento lésbico-feminista e feminismo negro e outro sobre a saúde da mulher lésbica, sendo finalizado com a construção do planejamento das ações para o ano de 2016 e o lançamento do documentário Memórias do movimento de lésbicas brasileiro: as construções silenciadas. A história que não publicizaram, de Ana Carla Lemos.

O seminário foi realizado no município de Olinda – PE, em uma casa cedida pela prefeitura que possuía a estrutura necessária para abrigar, pelos dias de duração do seminário, as mulheres que se deslocaram de outras cidades para participar das atividades. Ao todo estiveram presentes 50 mulheres, de sete municípios de Pernambuco, entre lésbicas e bissexuais, negras, brancas, deficientes, militantes de movimentos estudantis universitários, de movimentos de bairro e campesino, prontas para construir juntas uma agenda que contemplasse a diversidade de demandas e bandeiras.

Fazer parte desse momento enquanto pesquisadorano início da construção da minha pesquisa foi determinante para traçar também o meu planejamento. Foi na interação com essas mulheres que encontrei as participantes da minha pesquisa. Foi na descoberta das diferentes formas de se viver a lesbianidade que percebi o quão importante seria evidenciar as experiências dessas militantes lésbicas. Foi na troca, nos momentos de partilha,que passei a compreender a minha posição política enquanto mulher, lésbica e pesquisadora.