Movimento Gay Leões do Norte

O Movimento Gay Leões do Norte foi uma ramificação surgida das discussões e articulações feitas através do grupo AMHOR, atualmente o movimento se identifica enquanto uma organização não governamental que apoia e defende a livre orientação afetivo sexual, atuando principalmente na promoção dos direitos humanos e da cidadania das pessoas LGBT, focando suas ações na Região Metropolitana do Recife. A ONG tem grande contribuição na constituição histórica e política do movimento LGBT em Pernambuco.

A ONG Movimento Gay Leões do Norte surgiu em 2000, tendo inicialmente apenas quatro colaboradores homens.

Leões do Norte nasceu nos anos 2000, só tinha gay, não tinha lésbica, não tinha trans, não tinha que eu digo com a visibilidade que todas as letrinhas tem hoje, e o Leões do Norte surgiu de quatro gays, é claro que seria um movimento gay, mas hoje ele abarca todas as portas (M.A.S., militante lésbica do Movimento Gay Leões do Norte).

O objetivo do Movimento Gays Leões do Norte é a proposição de políticas públicas na área de saúde, cultura, educação, segurança pública, meio ambiente e justiça para as pessoas LGBT. Além de oferecer, em sua sede, alguns serviços que buscam a resolução de problemas relacionados à orientação sexual e identidade de gênero – desde conflitos familiares até processos de retirada de pessoas LGBT em situação de vulnerabilidade social.

Nesse sentido, ofertam serviços nas áreas de cidadania e justiça, através de orientações e acompanhamento jurídico, quando necessário; psicologia, para acolhimento de pessoas LGBT em situação de sofrimento; e aconselhamento e cuidados em saúde para o público soro positivo e seus familiares. Há também a contribuição em diversos projetos em parceria com algumas secretarias estaduais em Pernambuco, nas áreas de educação, saúde e direitos humanos.

Apesar de ser um grupo majoritariamente constituído por homens gays, o Movimento Gay Leões do Norte realiza diversas atividades voltadas para o público LGBT em geral, inclusive, ações voltadas para a visibilidade das mulheres lésbicas, como a organização, todos os anos,no mês da visibilidade lésbica,do Sarau da Visibilidade Lésbica, que ocorre no Mercado da Boa Vista31 e está em sua 10ª edição.

O sarau foi pensado inicialmente como um espaço de comemoração ao 29 de agosto – Dia Nacional da Visibilidade Lésbica –, mas, com o advir das edições e a articulação com outros grupos e coletivos lésbicos, passou a integrar também uma proposta de articulação entre arte e discussão política sobre lesbianidades e bissexualidades femininas a fim de fortalecer a luta pela visibilidade das existências lésbicas. Nesse sentido, constrói uma programação protagonizada por mulheres, com apresentações musicais, recital de poesias lésbicas e/ou de autoras lésbicas, exibição de documentários com a temática lésbica e/ou bissexual e performances, sempre intercaladas por falas políticas de militantes lésbicas e bissexuais da região.

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O Mercado da Boa Vista está localizado no Bairro da Boa Vista, no centro da cidade do Recife. É um espaço onde são comercializadas frutas, verduras, mas também comidas regionais e bebidas. O local também realiza com freqüência atividades políticas organizadas por movimento sociais da região.

Figura 12 - Palco do Sarau da Visibilidade Lésbica - 10ª edição

Fonte: Acervo Movimento Gay Leões do Norte.

Em todas as suas edições, o sarau se construiu tendo como base um tema central que desenha as atividades e falas realizadas no dia do evento. Este ano, em sua 10ª edição, o sarau teve como temática central: “Sou lésbica com orgulho. Sua violência é que merece correção”. Esse tema foi escolhido principalmente pelo aumento da ocorrência de estupros na Região Metropolitana do Recife – somente no mês de janeiro de 2017, a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco registrou 148 casos de violência sexual contra mulheres, entre esses casos, estão inclusos estupros corretivos32.

Atualmente, o Movimento Gay Leões do Norte conta com a participação de três militantes lésbicas, apesar da pouca representação lésbica no grupo, este tem uma atuação próxima dos demais coletivos lésbicos da Região Metropolitana do Recife. “tem três lésbicas, mas é assim, o Leões do Norte sempre contribuiu, tem um trabalho especifico para as lésbicas e para as outras letrinhas, apesar de movimento gay Leões do Norte, a gente também trabalha a temática da lesbianidade” (M.A.S., militante lésbica do Movimento Gay Leões do Norte).

Muito embora exista uma sensibilidade do Movimento Gay Leões do Norte em relação às demandas lésbicas, existe uma demarcação de identidade no coletivo. Oseu nome e logomarca (ver figura 13) ressaltam essa identidade através da utilização da palavra gay e da expressão Leões do Norte como uma representação da força do homem pernambucano. Gay é especificamente uma representação da homossexualidade masculina, durante muito tempo também foi utilizada para nomear as mulheres que tinham relações afetivo-sexuais com outras mulheres, mas, após lutas e rupturas, as lésbicas reivindicaram visibilidade também no nome. Leões do Norte é uma expressão que se refere à resistência do povo pernambucano diante de

32_{Tipo de violência que tem como vítimas as mulheres lésbicas. Prática cruel motivada por ódio e preconceito,}

todas as batalhas insurgidas no estado desde o período colonial até o período regencial, em que, mesmo nas batalhas em que os pernambucanos não saíram vitoriosos, resistiram com bravura33.

Figura 13 - Logomarca do Movimento Gay Leões do Norte

Fonte: http://flgbtpe.blogspot.com.br/p/quem-somos.html.

O Movimento Gay Leões do Norte, ao longo desses anos de atuação na Região Metropolitana do Recife, vem desenvolvendo projetos e campanhas sempre em parceria com órgãos institucionais do estado de Pernambuco e/ou com as secretarias municipais do Recife, sendo um dos principais exemplos de relação entre movimento social e Estado. Essa atuação não é exclusiva desse movimento, outros grupos e coletivos lésbicos da região também têm desenvolvido parcerias “inter-organizacionais” com o Estado. Essa parceria tem possibilitado ao movimento atuar desenvolvendo formações, debates e rodas de diálogo em espaços como escolas públicas, por exemplo, locais, por vezes, de difícil acesso a grupos e/ou coletivos que não mantém essa aproximação.

4.2 COSTURANDO AS TRAJETÓRIAS: PODEMOS, ENFIM, FALAR DE UMA